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Canadá mergulha no caos. Trudeau perdeu mais uma ministra

Michael Reynolds / EPA

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau

Jane Philpot, uma das principais ministras do governo do Canadá, bateu com a porta e demitiu-se esta segunda-feira, manifestando o seu descontentamento com a forma como o Governo lidou com uma alegada tentativa de encobrimento.

Uma das principais ministras do Governo do Canadá, Jane Philpot, demitiu-se esta segunda-feira em rota de colisão com a forma como o Executivo de Justin Trudeau lidou com uma investigação sobre corrupção. Esta saída da responsável pelo departamento do tesouro é considerada como um duro de golpe para o primeiro-ministro.

Segundo a Renascença, Jane Philpot manifestou publicamente o seu descontentamento com a forma como o governo lidou com uma alegada tentativa de encobrimento. Estão em causa suspeitas de que funcionários do Estado pressionaram, no ano passado, a então ministra da Justiça Jody Wilson-Raybould a ajudar a empresa de construção SNC-Lavalin Group a escapar a um julgamento por corrupção.

“Tristemente, perdi a confiança na forma como o Governo enfrentou esta matéria e como respondeu às questões levantadas”, afirmou a governante na sua carta de demissão.

Wilson-Raybould também já se tinha demitido a 12 de fevereiro depois de, inesperadamente, ter sido despromovida em janeiro. A antiga ministra da Justiça acredita que foi despromovida por ter recusado ajudar a construtura SNC-Lavalin.

O partido da oposição, o Partido Conservador, fala em “podridão ética” e, esta segunda-feira, voltou a pedir a demissão do primeiro-ministro, Justin Trudeau.

“A demissão de Jane Philpott demonstra um Governo em caos total, liderado por um primeiro-ministro caído em desgraça, consumido pelo escândalo e concentrado apenas na sua sobrevivência política”, disse Andrew Scheer.

Trudeau minimiza segunda demissão

O primeiro-ministro do Canadá minimizou a demissão da ministra do Tesouro, que afirmou ter perdido “a confiança no Governo”, na sequência de um escândalo de interferência política.

A demissão de Jane Philpott é a segunda que o Executivo enfrenta em apenas 30 dias. Em 2 de fevereiro, a então ministra dos Veteranos e ex-ministra da Justiça (2015-2019) Jody Wilson-Raybould tinha anunciado a demissão do cargo.

Dias após a demissão, Wilson-Raybould acusou Trudeau e outros membros do Governo de pressão contínua para oferecer à maior empresa de construção do país, SNC-Lavalin, um acordo para evitar um processo criminal por corrupção na Líbia.

Apesar das renúncias de Wilson-Raybould e Philpott, o primeiro-ministro canadiano defendeu na segunda-feira que a “discordância é normal e saudável num sistema democrático”.

“Apesar de estar desapontado, compreendo a decisão de Philpott. Quero agradecer-lhe pelos seus serviços”, disse Trudeau, durante um comício partidário, realizado na segunda-feira à noite, nos arredores de Toronto. Em vários momentos, o discurso de Trudeau foi interrompido por críticas ao primeiro-ministro e às políticas do Governo.

Trudeau também minimizou os incidentes, afirmando que opiniões contrárias precisam de ser expressas. “Numa democracia como a nossa, na qual valorizamos fortemente a diversidade, podemos permitir-nos divergências e debate”, afirmou.

Sobre o escândalo de SNC-Lavalin, Trudeau procurou transformar a polémica em algo positivo: “Este assunto gerou um importante debate. É fundamental para todos os nossos princípios o comportamento das instituições democráticas”.

A SNC-Lavalin, a maior construtora canadiana, foi acusada pelo Ministério Público de pagar subornos a altos funcionários do antigo regime líbio de Muammar Khadafi, incluindo a alguns dos filhos do antigo dirigente, para conseguir contratos no país do Norte de África. A possível condenação da construtora nos tribunais canadianos impedirá a empresa de participar nos contratos públicos no Canadá, o que resultará em perdas avultadas.

Wilson-Raybould indicou que Trudeau pretendia um acordo, a ser proposto pelo Ministério Público, para evitar a penalização da SNC-Lavalin com a exclusão dos contratos públicos.

Quando o Ministério Público recusou propor o acordo, Wilson-Raybould, também Procuradora-Geral, disse ter sido pressionada a obrigar os procuradores a mudar de decisão, o que negou fazer.

ZAP // Lusa

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