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Nenhum país mata mais ambientalistas do que o Brasil

Valter Campanato / Agência Brasil

O Brasil foi o país que mais matou ambientalistas e defensores de terras em 2017, divulgou a ONG Global Witness, num relatório classificado pelo governo Michel Temer como fake news.

O relatório da Global Witness, divulgado nesta terça-feira, aponta que o Brasil teve o maior número de mortes já registado num ano em qualquer país, com o assassinato de 57 pessoas, 80% delas tentando proteger a Amazónia.

Mundialmente, 207 defensores da terra e do meio ambiente foram mortos em 2017 nos países monitorizados pela ONG, seis a mais do que no ano anterior, fazendo deste período o mais sangrento desde o início do levantamento em 2015. O Brasil é seguido no ranking pelas Filipinas (48 mortes), Colômbia (24) e México (15).

A ONG diz que, no Brasil, “a situação vai de mal a pior” e mostra especial preocupação com o aumento no número de chacinas no ano passado, quando o país foi palco de três massacres que, no total, levaram à morte de 25 ativistas.

“O Brasil sempre foi um dos piores países para os defensores do meio ambiente, mas a situação é pior hoje porque o governo tem debilitado muito as instituições que devem defender as comunidades e os indígenas. Quero dizer que instituições como o Incra e a Funai estão mais fracas do que antes”, disse ao BuzzFeed News o autor do relatório da Global Witness, Ben Leather.

Os números incluem o massacre de nove trabalhadores rurais em Mato Grosso em abril, assim como a morte de dez agricultores sem terra no Pará em maio.

Global Witness

O Brasil é o país com o maior índice de mortalidade em 2017, entre as 22 nações que registaram este tipo de homicídio

O governo de Michel Temer reagiu duramente ao relatório e qualificou os dados como “equivocados”, “frágeis” e “inflamados”. Para o Planalto, a metodologia do levantamento é duvidosa.

“Denúncias falhadas e mal apuradas são exemplo de fake news usadas para atacar o governo, cujo compromisso essencial tem sido defender o povo brasileiro”, diz nota da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência.

Para o governo, a ONG teria contabilizado como ativistas mortos em supostos conflitos agrários os assassinatos atribuídos por investigações policiais a ajustes de contas entre narcotraficantes.

A Global Witness não poupa críticas a Temer e afirma que, em vez de tomar medidas para acabar com os ataques, o presidente e o Congresso brasileiro estão ativamente a enfraquecer as leis e as instituições destinadas a proteger os direitos à terra e os povos indígenas.

A ONG lamenta, ainda, os cortes no orçamento de 30% para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e de quase metade do orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), o que obrigou a agência a fechar algumas bases regionais.

“Temer facilitou, mais do que nunca, que indústrias, como o agronegócio – associado a pelo menos 12 dos assassinatos no Brasil em 2017, de acordo com as estatísticas da Global Witness, – imponham seus projetos sem consultar as comunidades afetadas“, diz a ONG, que cita uma assimetria de poder entre o agronegócio e seus apoiadores políticos e os povos indígenas, afrodescendentes e pequenos agricultores.

O governo brasileiro respondeu, dizendo que o agronegócio é responsável por grande parte da geração de emprego e renda no país. Os resultados do levantamento da Global Witness não indicam uma nova tendência: o Brasil também havia tido os resultados mais funestos no relatório da ONG de 2016, quando foram registados 49 assassinatos no país.

A ONG alerta que os números reais de mortes provavelmente são ainda maiores devido aos desafios na identificação e na denúncia dos assassinatos.

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