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Descoberta de cientistas portugueses permite entender melhor formação das galáxias

ESO/WFI; MPIfR/ESO/APEX/A.Weiss et al.; NASA/CXC/CfA/R.Kraft et al.

Imagem de Centaurus-A composta com as imagens de três instrumentos a operar a comprimentos de onda diferentes

Investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) fizeram novas descobertas que permitem compreender melhor a natureza e a formação do núcleo das galáxias espirais, como a Via Láctea, “um enigma de longa data na astronomia extragalática”.

“O conhecimento atual mostrava a existência de dois tipos de bojo (conjunto de estrelas encontrado no núcleo da maioria das galáxias espirais): os bojos clássicos e os pseudo-bojos”, disse à Lusa a investigadora do IA Iris Breda, uma das responsáveis pelo estudo, em conjunto com Polychronis Papaderos.

Segundo a teoria vulgarmente aceite, referida pela cientista, os bojos clássicos foram formados antes do disco e são compostos por estrelas antigas, com cerca de dez mil milhões de anos, enquanto os pseudo-bojos são formados muito lentamente a partir do disco, ao longo da evolução da própria galáxia.

Estes dois cenários, indicou o IA em comunicado, implicam que bojos clássicos e pseudo-bojos tenham “propriedades radicalmente diferentes”. No entanto, apesar de inúmeros estudos realizados nos últimos anos, “este contraste acentuado nunca foi observado”, refere a nota informativa.

Os resultados deste trabalho do IA, publicado o mês passado na revista científica Astronomy & Astrophysics, revelam “fortes indícios” de que os dois tipos diferentes de bojos “não resultam de processos distintos”, contrariando a teoria de formação que prevalecia até à data.

Research Gate

Iris Breda é investigadora do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

“Ao estimar as propriedades de uma amostra muito representativa de galáxias espirais, a teoria até à data estudada indicava que devíamos encontrar propriedades que se agregassem em dois tipos completamente diferentes”, indicou Iris Breda, também investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Contudo, o que a equipa encontrou “foi uma continuidade clara e significativamente forte em qualquer uma das propriedades medidas nos bojos”, o que “contradiz fortemente o modelo dos dois cenários distintos de formação”.

“A evolução do bojo é influenciada por uma mistura de processos rápidos e lentos, cuja importância é governada pela massa e densidade de cada galáxia”, contou a cientista.

As conclusões demonstram que “o tempo de formação de bojos é inversamente proporcional à massa total da galáxia: nas galáxias massivas, a formação do núcleo acontece nos primeiros quatro mil milhões de anos, enquanto nas de menor massa a formação ainda está a decorrer, a um ritmo lento”, explicou ainda Iris Breda.

Para a obtenção destes resultados, o grupo analisou 135 galáxias, o que equivale a aproximadamente meio milhão de espectros, de modo a ter resolução suficiente para verificar a história de formação estelar do disco e do núcleo, separadamente.

A equipa recorreu a ferramentas computacionais e a um instrumento desenvolvido no âmbito do projeto espanhol CALIFA, que permite registar simultaneamente milhares de espetros por galáxia, produzindo assim uma visão tridimensional das estrelas e gás ionizado de cada galáxia, acrescenta o comunicado.

ZAP // Lusa / IASTRO

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