Um grupo de investigadores do Instituto Nacional de Pesquisas Científicas de Montreal, no Canadá, diz ter conseguido tornar um objeto invisível para a luz de banda larga, através de uma nova técnica – o manto de invisibilidade espectral.
O dispositivo, apelidado de spectral cloaking, é o primeiro a conseguir manipular a cor – ou a frequência – das ondas de luz que interagem com o objeto, tornando-o desta forma invisível.
“A nossa pesquisa representa um grande avanço na questão do manto de invisibilidade”, disse José Azaña, autor do estudo, que foi publicado na Optical Society of America no fim de junho, num comunicado de imprensa.
O espetro eletromagnético é o intervalo completo de todas as frequências de radiação possíveis da radiação eletromagnética. Esta escala tem ondas de baixa frequência, como as ondas de rádio, estendendo-se até às ondas de maior frequência, como as da radiação gama ou os raios-X.
Nós não somos capazes de ver uma raio X, mas os nosso olhos são capazes de ver uma pequena faixa de frequências no espectro eletromagnético – a luz visível. Entende-se por luz visível as únicas ondas eletromagnéticas que podem ser vistas a olho nu.
É através deste intervalo separado que nós conseguimos ver as cores, que vão desde do vermelho numa extremidade até ao violeta na outra. Existem algumas fontes de luz que contêm mais que uma frequência específica, como é o caso do Sol. A estas fontes que têm mais que uma frequência específica dá-se o nome de fontes de banda larga.
Quando observamos um objeto, o que estamos a ver, na verdade, é a interação destas frequências de luz com o objeto. Por exemplo, quando o sol brilha num carro azul, o carro está a refletir a frequência da luz azul, enquanto que as restantes frequências das outras cores simplesmente passam pelo objeto. Os nossos olhos detetam a luz refletida, deixando-nos ver o carro azul.
O dispositivo criado pelos investigadores tira partido desta interação entre as frequências de luz e os objetos. A equipa de investigação descreve um objeto que só reflete a cor verde.
Para fazer com que este objeto pareça “invisível” ao olho humano, os investigadores utilizaram um filtro especialmente projetado para mudar temporariamente as frequências verdes do espectro de banda larga que brilha no objeto, tornando-as azuis. Resultado: o olho humano não é capaz de ver o objeto.
O dispositivo funciona como uma espécie de camuflagem, mudando a frequência da luz para que esta passe pelo objeto em questão em vez de interagir com o mesmo, tornando-o visível. Azaña disse ao Global News que o processo consiste em transformar a luz num “fantasma“, que é capaz de passar pelo objeto e depois voltar ao normal.
“Reconstruimos a onda de luz exatamente como estava por isso é como se não houvesse objeto”, explicou.
Atualmente, o dispositivo de camuflagem só funciona numa direção – o olhar de quem vê precisa de seguir o caminho da luz, olhando para o objeto através do primeiro filtro. O segundo filtro é o que permite que a frequência volte ao normal.
Azaña acredita, no entanto, que este método poderia, teoricamente tornar um objeto invisível a partir de todas as direções.
Por enquanto, o dispositivo pode ajudar a proteger as telecomunicações, que usam ondas de banda larga para transportar dados. As empresas de telecomunicações podem tornar “invisíveis” determinadas frequências ao longo das suas redes de fibra ótica, impedindo que terceiros usem a luz de banda larga para os espionar.
Já em janeiro de 2017, investigadores da Universidade Pública de Navarra e da Universidade Politécnica de Valência criaram um “manto da invisibilidade” capaz de ocultar objetos em ambientes difusos, sob qualquer tipo de iluminação.
Ainda há um caminho a percorrer para que nos possamos tornar completamente “invisíveis” mas, até lá, podemos usar este processo de camuflagem para evitar que os nosso dados sejam espionados. E, é possível que o “manto de invisibilidade” do Harry Potter não seja assim tão fantástico…
ZAP // Science Alert
Há aqui um engano: …”vermelho numa extremidade até ao vermelho na outra”. Obviamente queria escrever “vermelho numa extremidade até ao violeta na outra”
Obrigado pelo reparo, está corrigido.