Os vulcões fazem música que pode ser bastante útil para ajudar a monitorizar a sua atividade e a perceber quando é que as erupções estão prestes a acontecer.
O vulcão Cotopaxi, a 90 quilómetro da capital do Equador, é uma autêntica maravilha da natureza e uma preocupação constante para as populações. Embora tivesse adormecido durante quase todo o século XX, o vulcão despertou em 2015.
A erupção foi monitorizada por vulcanólogos e no rescaldo do acontecimento, conta o Diário de Notícias, revelou um dos seus maiores segredos: uma onda sonora muito parecida a uma respiração profunda, como o som grave de um órgão de tubos.
Jeff Johnson, vulcanólogo da Universidade de Boise State, nos Estados Unidos, e coordenador do estudo, publicado na Geophysical Research Letter, explica que esta melodia pode ser uma grande descoberta da natureza. “É o maior órgão de tubos que já encontramos”, comenta.
De acordo com as medições feitas pela equipa após a erupção de 2015, o solo no interior da cratera do vulcão afundou-se durante esse episódio eruptivo e o seu tubo interno caiu a pique até à profundidade de 300 metros. Este tudo tem cerca de cem metros de diâmetro.
Ao fazer o resisto dos acontecimentos do interior da cratera, os especialistas repararam naquele infrassom – inaudível ao ouvido humano – que corresponde a uma onda sonora que ficou gravada nos instrumentos de observação com a forma de um parafuso. Foi por este motivo que a equipa de especialistas lhe chamou tornillo – parafuso em espanhol.
“É extraordinário que a natureza consiga produzir este tipo de oscilação.” O vulcanólogo compara a onda sonora “à porta de um saloon, que alguém empurrou, e que ficou ali a andar para trás e para diante, até acabar por se deter”.
Esta melodia ressoou uma vez por dia, todos os dias, no interior da cratera durante todo o primeiro trimestre de 2016. Depois disso, o vulcão calou-se e assim tem permanecido desde então.
Os cientistas não sabem o que esteve na origem da “música” do Cotopaxi, mas têm a certeza que teve diretamente a ver com a atividade do vulcão.
Ainda assim, os cientistas suspeitam que uma de duas coisas terá acontecido para que o vulcão “cantasse”: parte do chão da cratera poderia estar a colapsar nessa altura ou então havia uma explosão em marcha no fundo da cratera. Há, no entanto, uma certeza: o vulcão mudou de formato durante esse período, e, portanto, as duas coisas estiveram ligadas.
Esta é a prova de que a geometria das cratera vulcânicas influencia de forma direta a música de cada vulcão e, compreender a “assinatura vocal” de cada estrutura vulcânica pode mesmo ajudar a compreender melhor cada uma delas, assim como a sua própria atividade, adiantam os autores do artigo científico.
Desta forma, os cientistas recomendam que este tipo de fenómenos sejam cuidadosamente monitorizados para se estimar a possibilidade de ocorrência de erupções vulcânicas.