O PSOE apresentou, esta sexta-feira, no Congresso, uma moção de censura contra o presidente do Governo espanhol, 24 horas depois da sentença no “caso Gürtel”.
Um tribunal espanhol aplicou, esta quinta-feira, penas elevadas a uma série de políticos e empresários envolvidos num esquema de corrupção, a que se chamou “caso Gürtel”, que ajudou a financiar o Partido Popular (PP), no poder.
O próprio partido do primeiro-ministro foi multado em 245 mil euros por ter beneficiado do esquema ilegal que se baseava em conceder contratos públicos a empresas em troca de dinheiro.
O registo da moção de censura do PSOE, levada em mão pela porta-voz do partido, Margarita Robles, ocorreu antes de o secretário-geral, Pedro Sánchez, informar a direção nacional do partido, que está reunida neste momento na sede, em Madrid.
Sanchez reuniu-se na quinta-feira com parte da liderança do partido para analisar a possibilidade de apresentar a moção, que foi entregue esta manhã na Câmara Baixa.
A moção havia sido exigida pelo líder do Podemos, Pablo Iglesias, que já havia adiantado que a apoiaria. O líder do partido de esquerda denunciou que a decisão do “caso Gürtel” é a prova de que há “um partido delinquente” no comando do Governo, o que não se pode permitir em nenhuma democracia.
Ciudadanos apoia moção de censura “instrumental”
Com o apoio do Podemos, todos os olhos estão agora voltados para o partido Ciudadanos. O seu presidente, Albert Rivera, tinha anunciado que o partido ia avaliar o que fazer no resto da Legislatura e a sua relação com o Governo depois da sentença do “caso Gürtel”, que colocou o Executivo e o país numa situação “tão grave”.
“Há um antes e um depois” após a decisão do tribunal, disse. “Isto muda tudo”, afirmou Rivera, quando se pronunciou sobre a sentença do caso.
Segundo o Observador, a moção de censura poderá ser aprovada porque o Ciudadanos abriu a porta à possibilidade de votar a favor caso Rajoy não convoque eleições antecipadas.
“Ou o senhor Rajoy convoca eleições, ou convoca o Congresso dos Deputados através de uma moção de censura”, declarou o porta-voz José Manuel Villegas. “O senhor Rajoy não pode continuar a esconder-se”.
Para os ‘naranjas’, qualquer moção de censura só valerá se for “instrumental”, ou seja, se defender apenas a convocação de eleições e não de outros temas. Ainda não é certo se o partido vai apoiar a versão do PSOE ou se vai apresentar a sua própria moção.
O que é o “caso Gürtel”?
Rajoy, chamado a prestar declarações ao tribunal no âmbito do “caso Gürtel”, em julho de 2017, declarou que não estava a par dos casos de corrupção quando estes tiveram lugar, a partir de 1999, e que ele próprio decidiu, em 2004, cortar as relações que havia entre o PP e Francisco Correa, cujas empresas forneciam serviços a esse partido.
Este empresário, que é considerado o “cérebro” do “caso Gurtel”, foi condenado a mais de 52 anos de prisão e Luis Barcenas, um ex-tesoureiro do PP, a 33 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de quatro milhões de euros.
Durante o julgamento, Correa explicou um esquema em que entregava “envelopes” com dinheiro a funcionários públicos e responsáveis políticos eleitos pelo PP, para ajudarem certas empresas “amigas” a ganharem contratos de direito público.
O chefe do Governo central nunca foi envolvido diretamente no caso, mas os seus cargos de responsabilidade no PP têm levado os opositores a acusá-lo de ter “fechado os olhos” a este esquema.
Este e outros escândalos de corrupção que envolvem membros do PP contribuíram para que o partido perdesse, em dezembro de 2015, a maioria absoluta que tinha no Parlamento espanhol.
ZAP // Lusa