Novo tratamento provoca “cegueira” para tratar surdez

Yaniv Golan / Flickr

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A cegueira temporária causada pela escuridão pode abrir caminho para outras hipóteses de tratamento para pessoas com deficiências auditivas. Cientistas dos Estados Unidos mostraram que a audição fica mais aguçada nessa situação.

Em experiência com ratos, as equipas da John Hopkins University e University of Maryland, nos Estados Unidos, compararam a audição dos animais que tinham sido mantidos no escuro durante uma semana com a de ratos expostos à luz natural.

O trabalho publicado na revista científica Neuron revelou que manter ratos no escuro por uma semana alterou os seus cérebros e aumentou a sua capacidade auditiva.

O efeito manteve-se durante algumas semanas depois de os animais voltarem a ambientes iluminados.

Especialistas qualificaram os resultados do estudo como “fascinantes”. No entanto, alguns cientistas acreditam que criar novos tratamentos para a perda de audição só seria viável se as alterações no cérebro fossem permanentes.

Reforço na audição

No estudo americano, os ratos que ficaram no escuro foram capazes de ouvir sons mais suaves e apresentaram mudanças na estrutura do seu córtex auditivo.

“Foi uma surpresa para nós”, disse Patrick Kanold, da University of Maryland.

Uma das possíveis explicações para os resultados seria a hipótese de que parte do cérebro dedicada à visão estaria a ser redirecionada. No entanto, os cientistas perceberam que as porções do cérebro responsáveis pela audição estavam a ser “reforçadas”.

“Não estamos a criar novos neurónios, estamos simplesmente a fortalecer as ligações que já existem no córtex auditivo”, disse Kanold à BBC.

“Isso realmente dá-nos esperanças de que haja algum potencial para que isso seja aplicado em seres humanos. E o que é bom é que não precisamos de medicamentos”.

“A descoberta talvez tenha implicações sobre pessoas com deficiência auditiva. Há muitas pessoas que recebem implantes auditivos cocleares quando adultas e é possível que uma terapia baseada nessa descoberta aumente o sucesso desses implantes”, sugeriu.

Humanos

Não se sabe se as melhorias observadas nos ratos ocorreriam em seres humanos ou se um possível tratamento poderia reverter o declínio auditivo associado ao envelhecimento.

Consultado pela BBC, Michael Akeroyd, do Institute of Hearing Research, dedicado a pesquisas auditivas na Escócia, disse achar o estudo interessante. “Não sei se é prático, mas tem potencial”, disse.

Para Akeroyd é pouco provável que pessoas idosas sejam colocadas numa sala escura durante uma semana ou mais. No entanto, na sua opinião, o estudo contribui para uma maior consciência de que o sentido da audição não se resume ao ouvido.

O especialista diz também que existe uma grande diferença entre o ato mecânico, involuntário, de se ouvir um som e a capacidade de lhe atribuirmos um significado – um processo bastante mais complexo.

“Há um surto na produção científica em torno do treino auditivo e o desenvolvimento de formas de aprendermos a escutar melhor. É um tema muito quente no momento”.

“Sugiro, como próxima etapa, que os cientistas descubram formas de conseguir melhorias permanentes. Se pudermos torná-las permanentes, ganhámos”.

Outro especialista, Ralph Holme, chefe de investigação biomédica da ONG Action on Hearing Loss, diz que o estudo é fascinante porque demonstra a forma como os nossos sistemas sensoriais interagem.

“É uma pesquisa importante porque, uma vez que os mecanismos envolvidos sejam compreendidos, talvez seja possível desenvolvermos treinos auditivos ou abordagens farmacológicas que reforcem esses processos para ajudar pessoas com perda de audição”.

ZAP / BBC

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