Ministério Público investiga “amostras desaparecidas” da poluição no Tejo

Paulo Cunha / Lusa

Um manto de espuma cobre a água do Rio Tejo, junto ao açude de Abrantes.

Inspetores do ambiente tiveram dificuldades em recolher amostras de água junto a tubagem de empresa que é a principal responsável pelas descargas no rio. O Ministério Público já está a investigar.

Análises feitas pela Agência Portuguesa do Ambiente revelaram que as descargas das empresas de pasta de papel a montante do açude de Abrantes, especialmente em Vila Velha de Ródão, tiveram um “impacto negativo e significativo” na qualidade da água do rio, que resultaram num acumular de carga orgânica. Foram detetados níveis de celulose “cinco mil vezes” acima do normal.

Na sexta-feira da semana passada os inspetores da Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) foram para o terreno recolher outro tipo de amostras, revela o Público.

Os inspetores saíram com o objetivo de recolher amostras de água junto à saída dos afluentes das ETAR das principais empresas que fazem descargas no Tejo. Uma delas era a Celtejo, responsável por 90% das descargas no rio.

Para a recolha das amostras, foi colocada, no interior do Tejo, a tubagem de um coletor que, a cada hora, durante 24 horas, recolheria automaticamente amostras da água do rio junto à tubagem da Celtejo.

No sábado, no entanto, ao deslocarem-se ao local onde tinha sido colocado o equipamento, os inspetores depararam-se com recipientes praticamente vazios. O coletor tinha recolhido apenas alguma espuma, e não água, que não servia para análise laboratorial.

Numa segunda tentativa, foi a GNR a avançar. Foi colocado no domingo o coletor no mesmo local, durante outras 24 horas. Mas segunda-feira o cenário repetiu-se e os recipientes estavam igualmente vazios.

Nesse dia, os militares do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR recolocaram o equipamento no rio Tejo, mas desta vez ficaram de vigilância. O coletor voltou a fazer das suas e terça-feira os inspetores voltaram a ser surpreendidos com alguns recipientes sem amostras da água.

O problema só foi resolvido quando os inspetores optaram por fazer as recolhas manualmente da amostra de água.

Os estranhos acontecimentos já integram a investigação que o Ministério Público tem em curso desde 27 de Janeiro a empresas de Vila Velha de Ródão, na sequência de uma participação-crime de poluição no rio Tejo apresentada pelo Ministério do Ambiente.

O resultado dessas análises, ou de parte delas, será revelado esta segunda-feira, o mesmo dia em que termina o período de dez dias de redução de 50% de produção da Celtejo, imposto à empresa pelo Ministério do Ambiente. No entanto, como o primeiro-ministro já tinha reforçado, estas restrições poderão ser prolongadas, caso o problema de poluição persista. “É uma medida cautelar que terá continuidade se não se verificar alteração”.

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