Em “Game of Thrones”, a disputa pelo trono de ferro e a chegada do inverno são grandes ameaças a King’s Landing. No mundo real, o perigo é outro. Em vez de dragões e White Walkers, Dubrovnik, na Croácia, onde são filmadas as principais cenas passadas na capital dos Sete Reinos, enfrenta problemas relacionados com o turismo.
O alerta veio no ano passado, após uma inspeção da Unesco no centro histórico, conhecido como Cidade Velha. A organização detectou que a expansão do número de visitantes põe em risco a conservação de monumentos.
Cercada pelas águas cristalinas do mar Adriático, a Cidade Velha é considerada Património da Humanidade desde 1979. Há igrejas, mosteiros, palácios e fontes de estilo gótico, renascentista e barroco, tudo cercado por uma imensa muralha medieval.
Este local já resistiu a terremotos e às bombas lançadas na guerra pela independência da Croácia, no início dos anos 1990. Agora, está a ser “inundada” por turistas que chegam à cidade na época alta, entre junho a setembro.
“A Cidade Velha foi um dos primeiros locais eleitos como Património da Humanidade. Antes, não havia tanto turismo, mas, recentemente, houve um grande aumento, especialmente devido aos cruzeiros, que são cada vez maiores”, diz Mechtild Rössler, diretora do Centro de património Mundial da Unesco.
Na última década, o número de visitantes aumentou bastante: de 473,9 mil em 2006 para 1 milhão no ano passado, dos quais 748,9 mil vieram dos 529 cruzeiros que passaram pela cidade. Dois anos antes, eram 463 embarcações.
Na época de maior procura, Dubrovnik, que tem 42 mil habitantes, chega a ter 25 mil turistas hospedados – deste modo, a Unesco está a colaborar com as autoridades locais para desenvolver formas de gerir tantas visitas.
Em janeiro, o então presidente da Câmara, Andro Vlahusić, decidiu instalar câmaras para monitorizar a entrada e saída de visitantes da Cidade Velha e estabeleceu um limite máximo de 8 mil pessoas presentes simultaneamente naquela zona.
“Agora, queremos qualidade em vez de quantidade“, diz o novo presidente da Câmara, Mato Franković, sublinhando que serão postas em prática medidas para reduzir de seis para dois o número de navios que chegam diariamente e estabelecer horários de entrada para excursões, que terão ser reservadas com antecedência.
“Em vez do limite de 8 mil pessoas recomendado pela Unesco, queremos no máximo 4 mil pessoas na Cidade Velha em qualquer momento. Dubrovnik é uma das cidades mais bonitas do mundo, e muita gente quer visitá-la. Todos são bem-vindos, mas, se o limite for ultrapassado, será preciso vir noutro dia ou horário”, destacou.
Efeito “Disneylândia”
Os impactos negativos do turismo podem ser sentidos por quem visita a cidade entre a primavera e o verão do Hemisfério Norte, algo que já rende má fama a Dubrovnik. O excesso de visitantes cria um efeito “Disneylândia” – devido às excursões enormes, as ruas estreitas ficam sobrelotadas.
Hoje, pouco mais de mil pessoas vivem na Cidade Velha. Eram cerca de 5 mil moradores no início da década de 1990, mas essas pessoas venderam as suas casas ou decidiram transformá-las em alojamentos.
Romana Vlasić, diretora do conselho de turismo da cidade, acredita que este sinal amarelo chegou em boa hora, para fazer com que os autarcas de Dubrovnik possam parar e refletir sobre o sucesso da localidade.
“Estamos no nosso limite. Ninguém se sente confortável ao andar no meio de uma multidão. Temos de organizar melhor os visitantes, ajustar o cronograma dos cruzeiros, receber navios menores e rever a construção de hotéis, porque mais quartos trarão mais gente”, adiantou.
No entanto, esta é uma questão delicada para uma cidade em que 70% da economia gira em torno do turismo. O presidente da Câmara diz que, por isso, as restrições ao turismo terão de ser cuidadosas, mas são inevitáveis.
“A curto prazo, haverá um impacto para todos, mas, no futuro, isso vai fazer com que as pessoas que hoje evitam ou passam rapidamente pelo centro histórico fiquem mais tempo por lá”, afirma Mato Franković.
“Estamos cientes de que temos um pequeno problema e estamos a tentar resolvê-lo. Dubrovnik resiste a adversidades há séculos. Ninguém nunca a destruiu nem o fará”, destacou o autarca.
ZAP // BBC