Os franceses votam este domingo na segunda volta das presidenciais com o centrista Emmanuel Macron como favorito para derrotar a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, e, aos 39 anos, tornar-se o mais jovem presidente francês.
Depois de uma campanha intensa e de uma primeira volta marcada pela exclusão dos partidos que partilharam o poder nas últimas cinco décadas – republicano e socialista -, a eleição vai decidir-se entre dois candidatos que se assumem como anti-sistema mas que têm visões completamente diferentes sobre o futuro de França e da Europa.
“Viramos hoje claramente uma página da vida política francesa”, disse à agência France Presse, nas vésperas da segunda volta, Emmanuel Macron, ex-ministro do governo socialista de François Hollande que criou em 2016 o movimento “En Marche!” para se candidatar pela primeira vez a uma eleição.
Na primeira volta, a 23 de abril, Macron foi o mais votado dos 11 candidatos na corrida, obtendo 23,7% dos votos, seguido de Le Pen, com 21,9% dos votos, segundo os resultados oficiais.
A líder da Frente Nacional reeditou com esta votação a prestação do pai, Jean-Marie Le Pen, nas presidenciais de 2002, quando passou à segunda volta. Le Pen pai acabou, contudo, derrotado pelo republicano Jacques Chirac, por 82,2% contra 17,7%.
Dezenas de políticos, empresários, intelectuais, artistas e cientistas apressaram-se a declarar o seu apoio a Macron e a apelar aos eleitores para porem um travão a Le Pen e à sua retórica nacionalista, anti-europeia e anti-imigração.
“O extremismo só pode trazer infelicidade, divisão, caos”, afirmou o candidato da direita republicana, François Fillon, concluindo: “Não há outra opção que não seja votar contra a extrema-direita”.
Benoît Hamon, o candidato socialista que assumiu uma “sanção histórica” ao obter apenas 6,2%, apelou igualmente para “derrotar o mais forte e poderosamente possível a Frente Nacional” de Le Pen.
Macron e Le Pen apresentam aos eleitores visões diametralmente opostas do futuro da União Europeia (UE) e do lugar de França na Europa: ele com uma visão otimista de uma França tolerante e de fronteiras abertas e ela com uma plataforma “a França primeiro” que passa por fechar fronteiras, reforçar a segurança e abandonar o euro.
Com Le Pen a defender a saída de França da UE e Macron a pedir mais cooperação europeia, o resultado da eleição de domingo tem subjacente a perspetiva, caso seja Marine Le Pen a ganhar, de um referendo sobre a permanência de França na UE.
A Constituição concentra o poder no chefe de Estado, mas quem for eleito, Macron ou Le Pen, vai precisar de uma maioria parlamentar que apoie o respetivo programa político, pelo que as legislativas que se realizam em junho serão decisivas.
Sondagens publicadas esta sexta-feira, último dia de campanha, prognosticam uma vitória folgada de Macron, com 62% das intenções de voto, contra 38% para Le Pen.
Se for eleito, Emmanuel Macron, 39 anos, será o mais jovem chefe de Estado da história de França desde Luis Napoleão Bonaparte (1848-1852), sobrinho de Napoleão Bonaparte, presidente aos 40 anos.
Ataque hacker “massivo e coordenado” contra Macron
A comissão que supervisiona a campanha eleitoral francesa informou estar a investigar um ataque informático e fuga de documentos que visaram o candidato presidencial Emmanuel Macron.
A comissão anunciou que vai reunir-se este sábado, depois da fuga de informação ocorrida nesta sexta-feira, tendo indicado que alguns dos documentos alegadamente pirateados e entretanto divulgados online são “provavelmente” falsos.
O movimento de Macron denunciou na sexta-feira à noite ter sido alvo do que descreveu como um “massivo e coordenado” ataque informático.
Em comunicado, o movimento de Macron informou que arquivos pirateados, como e-mails ou documentos contabilísticos ou contratos “foram obtidos há várias semanas”, graças à ‘pirataria’ de endereços de correio eletrónico pessoais e profissionais de responsáveis do movimento.
O portal WikiLeaks divulgou entretanto estar a analisar os documentos da campanha Macron disponibilizados na internet, de modo a identificar quais, de entre eles, serão os documentos falsos que a campanha de Macro diz terem sido “plantados” entre os que foram efectivamente pirateados.
“#MacronLeaks contém dezenas de milhares de e-mails, fotos e documentos anexos datados de 24 de abril de 2017, um total de 9 GB de informação”, informou a organização através de sua conta no Twitter.
O anúncio surge pouco mais de 24 horas antes das eleições de domingo para a segunda volta das eleições, e minutos após o encerramento da campanha eleitoral, levantando algumas interrogações nas redes sociais acerca do papel que a Wikileaks tem desempenhado nos mais recentes actos eleitorais na Europa e EUA.
Segundo alguns analistas, os documentos vazados são provavelmente inofensivos e dificilmente virão a ser encontrados dados comprometedores para Emannuel Macron. Mas, três minutos depois da campanha eleitoral encerrar, e a um dia das eleições, o que está em jogo é apenas a suspeita – que, diz Hillary Clinton, pode valer uma eleição.
ZAP // Lusa