“Serial killer” das estrelas-do-mar foi finalmente apanhada. Matou milhares de milhões

Jerry Kirkhart / Wikimedia

Uma estrela do mar da espécie Pycnopodia helianthoides

A responsável pela morte em massa de estrelas-do-mar foi finalmente identificada, mais de uma década depois do início do massacre que deixou cenários de terror pelos oceanos fora.

Mais de uma década depois do início de uma ronda de mortes em massa de estrelas-do-mar, ao longo da costa do Pacífico da América do Norte, cientistas identificaram o agente responsável: uma bactéria do género Vibrio, aparentada distante da cólera.

A estrela-do-mar girassol (Pycnopodia helianthoides) foi a mais afetada por esta “assassina em série”. O surto começou em 2013, quando mergulhadores e investigadores marinhos detetaram o desaparecimento abrupto de milhões de estrelas-do-mar, sobretudo ao largo do estado de Washington.

A equipa encontrou um cenário de terror, recorda a Science: braços retorcidos que se soltavam do corpo e rápida desintegração. O fenómeno, designado por “síndrome de desgaste de estrelas-do-mar”, afetou mais de 20 espécies e provocou a morte de milhares de milhões de indivíduos.

Embora surtos semelhantes tenham sido registados na Califórnia e no México nas décadas de 1980 e 1990, a escala e extensão do surto iniciado em 2013 — que se estendeu até ao Alasca — foi inédita, e acredita-se que o aquecimento dos oceanos, causado pelas alterações climáticas, possa ter desempenhado um papel relevante.

No início de 2021, um estudo concluiu que o culpado não foi uma bactéria, mas sim o excesso de azoto: as estrelas do mar morreram sufocadas, diziam os autores. Mas um estudo publicado esta segunda-feira na Nature Ecology & Evolution revela que a bactéria Vibrio pectenicida, estirpe FHCF-3, é a responsável. Trata-se de um microrganismo já conhecido por infetar outros invertebrados marinhos, como vieiras em França e moluscos bivalves no estado de Washington.

A investigação, liderada por Alyssa-Lois Gehman e Melanie Prentice, do Hakai Institute, no Canadá, apontou inicialmente para a hipótese de que o agente patogénico seria viral, mas experiências com tecidos filtrados — com remoção de bactérias — não provocaram doença em estrelas-do-mar saudáveis. Quando foi usado fluido corporal não filtrado de estrelas-do-mar doentes, os animais adoeceram rapidamente, tal como se observou na natureza.

A análise genética ao fluido corporal revelou uma presença dominante de ADN da bactéria Vibrio pectenicida nos animais doentes. Os investigadores conseguiram isolar a estirpe FHCF-3 e, em testes controlados, demonstraram que a sua introdução em estrelas-do-mar saudáveis provocava os mesmos sintomas letais. Doses mais elevadas aceleravam o aparecimento da doença: os sintomas surgiam ao fim de 5 dias e a morte ocorria pouco depois.

A doença teve graves consequências ecológicas: com a queda das populações de estrelas-do-mar, os ouriços-do-mar — dos quais estas são predadoras naturais — proliferaram, levando à devastação de florestas de algas, habitats marinhos cruciais para inúmeras espécies.

A equipa pretende agora perceber se a mesma estirpe afeta outras espécies de estrelas-do-mar. Foram recolhidas amostras de fluido corporal de 12 outras espécies em zonas afetadas pela doença.

Também já decorrem esforços de conservação. Vários grupos estão a criar estrelas-do-mar girassol em cativeiro com o objetivo de repovoar as zonas afetadas.

E tal como o girassol é a flor da positividade, o mesmo parece acontecer com o girassol do reino animal. Este verão, foram avistadas estrelas-do-mar girassol juvenis no norte da Califórnia e no Oregon — os primeiros registos desde o início da epidemia, motivo de esperança de que a espécie possa recuperar, braço-a-braço.

Tomás Guimarães, ZAP //

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