“Troco a vida do meu marido pela sua mãe”. Foi a exigência de Yadira Guillermo, mulher de um engenheiro sequestrado no Estado de Guerrero, que elevou a um novo patamar a insegurança sentida pelos cidadãos no sul do México.
Guerrero é o Estado mais violento do México, onde a pobreza é algo comum e o narcotráfico controla plantações de papoila para a produção de heroína nas regiões montanhosas.
Ao contrário de outros casos no país, em que os cidadãos se organizam e formam as chamadas patrulhas de autodefesa ou milícias, neste caso foi tomada uma atitude bem mais radical.
A mãe de Raybel Jacobo de Almonte, chefe de uma fação criminosa conhecida como “Los Tequileros”, foi feita refém pela milícia de San Miguel Totolapan com o objetivo de negociar a libertação de Isauro de Paz, que teria sido sequestrado uns dias antes.
O grupo “Los Tequileros” surgiu de uma cisão do cartel La Familia Michoacana, que controlava a região conhecida como Tierra Caliente de Guerrero.
“Assim que entregarem meu marido, devolvo a sua mãe. Mas quero que ele volte são e salvo”, afirmou Yadira Guillermo, num vídeo divulgado na imprensa e na Internet.
Num outro vídeo publicado no YouTube, a mãe de Raybel Jacobo de Almonte apela aos narcotraficantes que entreguem o engenheiro sequestrado.
“Olha, filho, se tens o engenheiro, entrega-o por favor. Se o tens, confio que o vais entregar”, disse.
Esta quarta-feira, o engenheiro foi libertado, juntamente com outras 19 pessoas que teriam sido sequestradas. No mesmo dia, Yadira Guillermo cumpriu o prometido e entregou a refém, mas à polícia do Estado.
Agora, os criminosos do grupo “Los Tequileros” prometeram vingança e ameaçam atacar a cidade.
Cidade em pé de guerra
Guerrero é o terceiro Estado mais pobre do México. Segundo as autoridades locais, nos primeiros 10 meses deste ano foram registados 1.832 homicídios, 62 sequestros e 178 casos de extorsão.
“Já não estamos dispostos a continuar como espetadores e indiferentes a tanto sangue derramado”, disse num vídeo um homem com o rosto coberto, que se apresentou como porta-voz do Movimento Totolapense pela Paz.
“Cansados de tanta insegurança, de tanto medo, de tantas injustiças e humilhações, sequestros, extorsões e tantas mortes injustas, de familiares, vizinhos, irmãos, decidimos levantar a voz e dizer às pessoas que já chega”.
A situação é tensa em San Miguel Totolapan, pois os cidadãos temem que os narcotraficantes cumpram as ameaças e haja represálias.
Diante da possibilidade de um conflito armado entre as brigadas populares e os criminosos, foram enviados para a cidade 220 homens das forças de segurança pelo Grupo de Coordenação Guerrero (GCG), um conselho de segurança formado por representantes do governos federal e estatal.
Negociações tensas
“É um processo muito delicado. Quando se trata de um sequestro é sempre assim, cada minuto conta”, disse o porta-voz do GCG, Roberto Álvarez, à BBC.
Além da mãe do traficante, a milícia raptou 23 pessoas, que acusou de ter ligações com os Tequileros. Uma negociação, mediada pelas autoridades de Guerrero, permitiu que cinco pessoas fossem libertadas.
O governador de Guerrero, Héctor Astudillo, considera a situação “preocupante” e diz que as autoridades querem evitar um “confronto”.
“Vamos tentar resolver esta situação com cautela, com inteligência, mas este é um assunto que deve ser encerrado. Não é possível que cada vez que alguém queira realizar um sequestro, simplesmente o faça”, afirmou o governador.
Governo estadual admite falhas
As autoridades mexicanas asseguram que os 120 militares, 60 policiais federais e 40 policiais do Estado enviados para a região montanhosa de San Miguel Totolapan estão prestes a prender o líder dos Tequileros.
Segundo as autoridades, em San Miguel Totolapan “há um grande cultivo de psicoativos, especialmente papoila e marijuana”, o que provoca uma disputa por territórios entre as fações de narcotraficantes.
“Os grupos criminosos precisam de dinheiro e recorrem ao sequestro e à extorsão“, disse o porta-voz do GCG.
O governador do Estado admite que “lamentavelmente a situação degenerou-se para um conflito que foi crescendo” e que provoca “uma sensação justificada” da população que está indefesa diante dos criminosos.
Yadira Guillermo foi a única pessoa que se atreveu a mostrar a cara nos vídeos divulgados pela comunidade.
“Por tudo o que a minha família passou ao longo destes dias, e por todo o grupo que aqui está, eu responsabilizo-o, senhor Héctor Astudillo, já que nunca fez nada por esta gente. Já estamos cansados”, disse Yadira Guillermo, falando acerca do governador de Guerrero.
ZAP / BBC
Boa!
Não é a mãe, nem a raptora, falo da iniciativa !
Por cá com tanta libertinagem e complacência da justiça vamos caminhado para a mesma forma de vida da América Latina!
Bem, começo por dizer que é uma mulher “de armas”.
Fez o “trabalho de casa” muito bem e provou que ama o marido.
Poucas mulheres teriam os “tomates” desta. Valente. Adorei a notícia mas sobretudo, a genica, criatividade, atitude, organização e empenhamento que revelou. Só espero que a justiça mexicana agora não a penalize a ela e safe o jagunço que lhe raptou o marido.
Podemos ir ao cerne da questão?
Se fossem legalizados o consumo e venda de drogas, e fosse liberada a possibilidade de plantação de papoila e de marijuana ou cannabis em qualquer lugar, deixaria de haver “disputa de território”? Logo, aumentada a oferta generalizada, a procura baixa consideravelmente. E deixaria de haver “monopólio”? Todos teriam acesso à sua “planta”? Para quê pagar pela “maconha” do México, se a tiver perto de casa? E muito mais barata? E legal?