/

Estado na Alemanha acaba completamente com software Microsoft

13

Staatskanzlei

O Ministro da Digitalização do estado alemão de Schleswig-Holstein, Dirk Schrödter

O estado mais setentrional da Alemanha vai eliminar completamente o software Microsoft dos gabinetes governamentais — e substitui-lo por soluções de código aberto. A mudança, com a qual se pretende garantir segurança dos dados e poupar dezenas de milhões de euros, estará concluída em 3 meses.

Os gabinetes governamentais do estado de Schleswig-Holstein, no noroeste da Alemanha, vão deixar de usar todo o tipo de software Microsoft — do sistema operativo Windows aos programas Word e Excel incluídos no Office, passando pela plataforma de videochamada Teams.

Esta é uma das mais extremas ruturas até agora na Europa com as gigantes tecnológicas norte-americanas, diz a ZD Net, numa altura em que em todo o continente se intensificam as preocupações com a soberania digital.

Acabámos com o Teams!” anunciou esta semana o Ministro da Digitalização do estado alemão, Dirk Schrödter, através de uma plataforma de vídeo de código aberto alternativa ao Teams.

Schrödter adiantou que 30.000 funcionários públicos, agentes policiais e magistrados de Schleswig-Holstein irão abandonar o conjunto de produtos da Microsoft até setembro. Outros 30 mil funcionários públicos, maioritariamente professores, darão posteriormente o salto para o open source.

A mudança afeta tudo, de aplicações de email e processamento de texto até ao sistema operativo. Em todos os computadores governamentais, o Windows irá ser substituído por uma instalação Linux.

O anúncio posiciona Schleswig-Holstein como o primeiro estado alemão a eliminar completamente os produtos Microsoft da administração pública, uma decisão que os responsáveis enquadram como essencial para proteger os dados dos cidadãos e reduzir a dependência de empresas tecnológicas estrangeiras.

No âmbito da migração, o LibreOffice irá substituir o Word e Excel, enquanto o Open-Xchange e Thunderbird irão gerir as funções de email e calendário anteriormente geridas pelo Outlook.

Schrödter ligou diretamente a decisão às tensões geopolíticas, dizendo que “a guerra na Ucrânia revelou as nossas dependências energéticas, e agora vemos que também há dependências digitais“.

“Devemos garantir que estamos sempre no controlo das soluções informáticas que utilizamos e que podemos agir independentemente como estado”, disse Schrödter.

O ministro adiantou que outros governos estaduais já solicitaram informações  sobre como replicar o modelo.

Além de garantir que dados governamentais sensíveis permanecem sob jurisdição alemã, Schrödter espera com esta medida resulte numa poupança de dezenas de milhões de euros em licenças de software e nos “custos imprevisíveis de atualizações obrigatórias” — uma aparente referência à migração do Windows 10 para Windows 11.

O estado está a testar alternativas ao software Microsoft desde  2021, altura em que começou a avaliar o LibreOffice em 25.000 computadores governamentais.

A transição acarreta riscos, nota a ZD Net: tentativas europeias anteriores de abandonar a Microsoft falharam. Foi o caso de Munique, que trocou o Windows por uma distribuição Linux em 2004.

A mudança durou uma década, ao fim da qual a administração pública da capital da Baviera regressou ao Windows — em grande parte porque o presidente da câmara queria que a Microsoft mudasse a sua sede europeia para Munique.

Há no entanto vários exemplos de migrações bem sucedidas de organismos governamentais para soluções de código aberto — como é o caso da Gendarmerie, a polícia francesa, que usa há mais de uma década uma distribuição Ubuntu do Linux.

Entretanto, Caroline Stage, ministra da Digitalização da Dinamarca — que, curiosamente, faz fronteira com Schleswig-Holstein — anunciou no início deste mês, numa entrevista no Politiken, que toda a administração pública irá deixar de usar soluções Microsoft e migrar para software de código aberto até ao fim do ano.

Segundo o jornal dinamarquês The Local, a medida, que esteve a ser testada em algumas das principais cidades do país, foi acelerada após a escalada de tensão com os Estados Unidos — cujo presidente, Donald Trump, manifestou a intenção de anexar a Gronelândia.

ZAP //

13 Comments

    • As funcionalidades estão lá quase iguais. Há muito pouco que o MS Office faça que não seja igualmente feito pelo LibreOffice. O aspeto não é tão clean, mas estamos livres de licenças anuais e da ditadura Microsoft.
      Livrei-me da Microsoft há 20 anos e nunca me arrependi. É aliás muito mais eficiente e funcional para o trabalho que faço, é tudo apenas uma questão de hábito… o problema é que toda a gente é “injetada” quase á nascença com produtos Microsoft, o mal é esse.

      • Discordo. O LibreOffice é bom para utilização caseira e básica. Para utilização empresarial falta-lhe uma coisa absolutamente essencial hoje em dia: edição colaborativa em tempo real. Com o Microsoft Office várias pessoas podem estar a editar o mesmo documento , folha de cálculo, ou apresentação, em simultâneo. Não estou a falar de edição on-line. Estou-me a referir a edição colaborativa na versão desktop. Isto hoje em dia é essencial. Já para não falar de capacidades de GenAI integradas. Sim, é mais caro. Para uma empresa que procura produtividade máxima o custo é insignificante.
        Repito o que disse. O LibreOffice é ok para uso caseiro, mas é voltar 20 anos atrás no tempo, e não é um verdadeiro substituto.

        • Caro “é assim”, para ser possível com o Microsoft Office várias pessoas poderem estar a editar o mesmo documento , folha de cálculo, ou apresentação, em simultâneo, é necessário o SharePoint … Cumprimentos.

  1. Na verdade o Estado de Schleswig-Holstein não está a implementar a soberania digital mas sim a substituir programas informáticos por outros de outras empresas que se apresentam com código-aberto, se o Estado de Schleswig-Holstein quisesse realmente alcançar a soberania digital teria desenvolvido os seus próprios programas informáticos e sistema operativo Linux, conforme acontece em Países desenvolvidos e soberanos como a Federação da Rússia, a República Popular da China, ou a República Popular Democrática da Coreia.

    1
    6
    • Infelizmente esses parecem não ser grande exemplo para ninguém! Todos países no mínimo, déspotas, para não referir o que realmente são.
      Bastava ter dado o exemplo da Alemanha, que tem há muitos anos o OpenSuse ou Knopix, excelentes distribuições.

  2. Boa sorte, é o que desejo para o Schleswig-Holstein. Se resultar, pode ser que finalmente deixemos de estar nas mãos dos gigantes americanos.

    • Vão passar a estar nas mãos de outros gigantes sejam eles Norte-Americanos ou não mas que na verdade trabalham para o mesmo, se o Estado de Schleswig-Holstein quisesse realmente alcançar a soberania digital teria desenvolvido os seus próprios programas informáticos e sistema operativo Linux, conforme acontece em Países desenvolvidos e soberanos como a Federação da Rússia, a República Popular da China, ou a República Popular Democrática da Coreia.

  3. A UE podia começar a financiar empresas da UE que queiram desenvolver este tipo de software para futuramente não haver tanta dependência de empresas que mesmo sendo multinacionais são americanas…

    • A união europeia não tem que financiar empresas privadas, os negócios/empresas privadas criam-se e constituem-se com capital próprio ou de terceiros, os Dinheiros Públicos não podem ser utilizados para andar a financiar ou a sustentar as empresas dos outros, se não têm dinheiro vão ao banco e peçam um empréstimo.

      1
      1
  4. E quanto custará a implementação e manutenção dessas aplicações de código aberto?
    Esquecem-se que parte do licenciamento pago vai para manutenção e desenvolvimento? Acham que os programadores trabalham para aquecer? Alguém tem de pagar os salários!!!!

  5. A soberania digital é um tema interessante sem dúvida. Temos visto movimentos das grandes software houses americanas a implementar clouds completamente europeias para minimizar este risco. Pura ilusão. Basta pensarmos o que aconteceu na tomada de posse de Donald Trump. Todas as grandes empresas foram ao “beija-mão”. Isto para dizer que se um “Trump” da vida quiser puxar a tomada, fá-lo.
    Quanto a esta mudança para o open source, não me parece que seja alternativa que resolva o problema. Open Source quer dizer que o código é aberto e todos podem usá-lo para testar todo e qualquer tipo de vulnerabilidade que se encontre. Enquanto a Microsoft tem equipas dedicadas a descobrir e fazer as patches sempre que se encontra uma vulnerabilidade, a comunidade open source reage a uma velocidade bem diferente. O deployment dos patches também são bem mais lentos.
    Numa outra vertente, vamos falar das features. Quem diz que as features são práticamente as mesmas nas versões open e closed source não deve usar muito mais do que o “negrito” ou não usa o Office há muitos anos. Os últimos desenvolvimentos que integram as ferramentas office entre elas e acrescentam de forma transparente o uso de GenAI põe o open source na era pré-industrial e o Office na era Espacial. Mas, andar a cavalo também nos leva entre o ponto A e o B. Por isso, tudo depende do uso que se pretende dar ao editor de texto, folha de cálculo e email. Sendo administração pública, o cavalinho funciona bem. Se pensarmos em pessoal mais produtivo, há que adotar ferramentas mais evoluídas. São os meus 50c.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.