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30 anos depois, ninguém sabe porque caiu o avião de Samora Machel

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(dr) CPLP/AV

O ex-fotografo-guerrilheiro-cameraman do presidente Samora Machel, Carlos Djambo - um dos poucos sobreviventes do acidente - inspecciona os destroços do acidente em IMBUZINI, na África do Sul

O ex-fotografo-guerrilheiro-cameraman do presidente Samora Machel, Carlos Djambo – um dos poucos sobreviventes do acidente – inspecciona os destroços do acidente em IMBUZINI, na África do Sul

Trinta anos após a morte do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, num desastre aéreo, as causas continuam por esclarecer, apesar de as autoridades moçambicanas manterem que foi um atentado executado pelo ex-regime do “apartheid”.

Logo após o despenhamento do Tupolev 134, de fabrico russo, em 19 de outubro de 1986, na localidade sul-africana de Mbuzini, os governos de Moçambique, país de registo da aeronave, África do Sul, local da queda, e da União Soviética constituíram uma comissão de inquérito para o apuramento das causas do desastre.

Divergências em relação aos procedimentos da investigação terão levado à sua interrupção, mas Moçambique e União Soviética apontaram o Governo do “apartheid” como responsável pela queda do aparelho.

A África do Sul imputou por sua vez o desastre a um cúmulo de erros da tripulação russa.

Maputo e Moscovo basearam as suas conclusões na alegada existência de um rádio-farol falso que terá sido colocado na véspera do acidente em Mbuzini pelos serviços de segurança sul-africanos, para desviar o avião do Aeroporto Internacional de Maputo.

Por sua vez, os dirigentes sul-africanos da época argumentavam que as conversas mantidas pelos elementos da tripulação gravadas pelas caixas negras conduzem à existência de falhas dos pilotos.

Na altura, Moçambique e o Governo sul-africano, dirigido pelo regime de minoria branca do “apartheid”, viviam num ambiente de permanente hostilidade, com Maputo a acusar Pretória de apoiar a guerrilha da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), atualmente o maior partido da oposição moçambicana.

As autoridades sul-africanas de então acusavam, por seu lado, Maputo de albergar militantes do Congresso Nacional Africano (ANC), que lutava contra a política de discriminação na África do Sul, e que é agora partido no poder neste país.

(dr) idolo.co.mz

O antigo Presidente moçambicano, Samora Moisés Machel, morreu aos 53 anos

Após a queda do “apartheid”, os sucessivos governos do ANC e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) prometeram várias vezes reabrir as investigações para o apuramento das causas da queda do avião, mas até agora não se conhece nenhum desenvolvimento em relação a essas iniciativas, muito menos qualquer conclusão.

Além do seu papel na libertação de Moçambique do colonialismo português, a determinação no apoio à luta pela independência do Zimbabué, ao ANC e à Fretilin (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente) projetou Samora Machel como um ícone da luta contra a opressão no mundo.

Samora Machel perdeu a vida aos 53 anos, numa altura em que se aproximava do ocidente e dava sinais de distanciamento do marxismo-leninismo, que o seu partido, Frelimo, havia abraçado em 1977.

A escassez do apoio dos aliados do bloco comunista, devido ao declínio económico dos países que compunham este grupo, e a derrocada da economia moçambicana, na sequência da devastadora guerra civil e das calamidades naturais que na altura grassavam o país levaram Samora Machel a iniciar contatos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).

Os discursos ácidos contra a corrupção, nepotismo, clientelismo e o laxismo, as reprimendas em público contra camaradas do seu próprio partido e o aparente desapego aos bens materiais granjearam-no uma grande admiração no seio das classes sociais mais pobres em Moçambique.

Mas o tempo de Samora Machel na Presidência da República foi marcado por decisões polémicas como os desterros de supostos improdutivos para campos de reeducação, a aplicação da pena de morte com recursos a fuzilamentos e a manutenção da pena de castigos corporais, uma prática muito repudiada pelos moçambicanos durante o regime colonial português.

// Lusa

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