A decisão das autoridades francesas, por razões ligadas à protecção da saúde pública, de proibir dezenas de pigmentos coloridos utilizados em tatuagens , está a ser fortemente contestada por profissionais e clientes, que afirmam recear “o fim desta arte” no país.
A polémica surgiu com o decreto do Ministério da Saúde promulgado a pedido da Agência Nacional de Segurança do Medicamento, que proibiu o uso de 59 corantes de um total de 153 utilizados em produtos cosméticos e tintas de tatuagens.
O assunto tem estado em discussão pelas autoridades de saúde desde 2011.
Segundo a agência francesa, trata-se de uma medida de precaução, já que não há estudos que pudessem provar a segurança desses corantes.
“Como as tatuagens não representam nenhum benefício para o consumidor, elas também não deveriam representar um risco”, afirma o Ministério francês da Saúde.
Para os tatuadores, no entanto, não há provas científicas de que os corantes proibidos representem um risco à saúde.
Assinaturas
Os tatuadores conseguiram entretanto o apoio dos clientes e conseguiram reunir 150 mil assinaturas numa petição para cancelar a proibição de quase 40% dos corantes utilizados em tatuagens.
“O governo evoca o princípio de precaução e, ao mesmo tempo, permite a venda de cigarros”, diz Tin-Tin, presidente do sindicato francês de artistas tatuadores (SNAT, na sigla em francês) e considerado uma “estrela” entre os tatuadores franceses.
“Os profissionais correm o risco de ter de fechar as suas lojas. Isso vai beneficiar os tatuadores clandestinos, que trabalham em casa e compram pigmentos chineses, sem nenhum controle sanitário, e que não sofrem nenhuma inspecção”, afirma Tin-Tin.
Segundo ele, os cerca de 4 mil tatuadores oficiais em França utilizam pigmentos fabricados no exterior, principalmente nos Estados Unidos, vendidos em França de acordo com a legislação e com total rastreabilidade.
“O risco zero não existe, mas em 30 anos de profissão soube apenas de alguns raros casos de alergias graves. Se houvesse risco de vida com as tatuagens, isso já seria conhecido”, argumenta Tin-Tin.
As autoridades ressaltam que apesar da proibição de 59 corantes, que reúnem diferentes tonalidades de cores diversas, permanece autorizado em França “o uso de 27 corantes vermelhos, 13 brancos e laranjas, 12 amarelos, 6 pretos, 3 violetas e 3 castanhos”.
“Esses pigmentos que continuam autorizados são tão fotossensíveis que o resultado são cores pálidas”, afirma o tatuador Tin-Tin.
O sindicato dos dermatologistas de França ressalta que as cores em geral provocam mais alergias do que o preto. O vermelho, de acordo com os médicos, é uma das cores mais “perigosas” em tatuagens por conter diferentes elementos químicos.
De maneira geral, as tintas podem conter metais tóxicos (cobalto, cromo e cobre) e também hidrocarbonetos, derivados do petróleo, afirmam os dermatologistas franceses.
Para tentar encerrar a polémica, o governo francês ressaltou na semana passada que a maioria dos corantes continuarão autorizados e que a proibição parcial não representa o fim das tatuagens multicoloridas em França.
ZAP / BBC