Portugal fechou 2013 com a economia a recuar pelo terceiro ano consecutivo, mas as contas externas, apoiadas pelas exportações e pelo turismo, voltaram a terreno positivo.
O Governo estima que a economia caia 1,8% este ano no entanto, e em previsões que estão alinhadas com a Comissão Europeia, o executivo antecipa que a balança corrente de bens e serviços atinja os 1,6 mil milhões de euros, o equivalente a 1% do Produto Interno Bruto (PIB), depois de em 2012 ter apresentado um défice de -1,5%.
Consideradas como “o motor do crescimento”, as exportações contribuíram significativamente para este desempenho, devendo apresentar um crescimento de 5,8% em 2013, segundo previsões do Governo.
Em declarações à agência Lusa, o director de investimentos do Banco Carregosa, João Pereira Leite, refere que “as exportações subiram e as importações desceram de uma forma muito acentuada, o que contribuiu para que, “pela primeira vez em várias décadas”, o saldo da balança comercial seja positivo este ano.
Reconhecendo que, “na balança comercial, [2013] foi claramente um ano de mudança”, João Pereira Leite alerta, no entanto, que “2013 ainda não foi o ano da viragem”, porque a economia continua a contrair, esperando-se uma queda de 1,8% este ano.
A economista do BPI Paula Carvalho, por seu lado, destaca a evolução positiva de todos os sectores transaccionáveis de bens e serviços, mas também os ganhos em termos de quota de mercado.
“Os produtos e serviços portugueses têm vindo a ganhar quota de mercado no exterior e isso não se deve só a ganhos de competitividade via preço. Tem também havido um esforço de reposicionamento em termos de imagem, de qualidade do produto e uma melhoria do valor acrescentado fornecido ao exterior”, afirmou a economista.
Já Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados Financeiros (IMF) sublinha “o efeito dos equipamentos da refinaria de Sines, que têm permitido produzir e exportar uma maior quantidade de produtos refinados”.
Também o turismo que contribuiu para a melhoria do saldo externo português: o setor registou receitas de 6,6 mil milhões de euros nos primeiros dez meses do ano, segundo números do Banco de Portugal, que apontou para um aumento de 2,9% do dinheiro que os turistas estrangeiros deixaram em Portugal face ao mesmo período de 2007.
Tanto o director de investimento do banco Carregosa, João Pereira Leite como a economista do BPI, Paula Carvalho consideraram que o turismo foi “uma boa notícia” em 2013, referindo que Portugal beneficiou do desvio de alguns turistas em resultado dos conflitos no Médio Oriente e Norte de África.
Já Filipe Garcia, da IMF, acrescentou que, “dadas as previsões favoráveis para a economia europeia, é de esperar que a evolução continue a ser positiva” e destacou o caso positivo do Brasil, advertindo que, “no último semestre, o real desvalorizou significativamente e a economia abrandou, pelo que esse segmento de clientes do turismo nacional deverá abrandar significativamente”, explicou.
Do lado orçamental o Governo está comprometido a atingir um défice de 5,5% do PIB, o saldo primário (que exclui os encargos com a dívida) das administrações públicas vai ser negativo (-1,6% do Produto Interno Bruto, PIB), mas o saldo corrente primário (que exclui os encargos da dívida e também investimentos e receitas e despesas de capital) deverá terminar o ano de 2013 equilibrado, depois de ter registado um défice de 0,7% em 2012, de acordo com o executivo.
Terá sido 2013 o ano da viragem económica? Os economistas ouvidos pela Lusa consideram que houve melhorias importantes, mas deixam avisos.
Filipe Garcia entende que os sinais da viragem do ciclo vêm ainda mais de trás: “A bolsa portuguesa, que é um excelente indicador avançado, já vem subindo desde meados de 2012”, disse, referindo ainda que “foi francamente importante para Portugal o apaziguar da crise da zona euro, nomeadamente o dissipar de grande parte dos receios de desagregação da zona euro”.
A economista Paula Carvalho considera que 2013 “marca sobretudo a etapa final em que o esforço de consolidação orçamental foi muito significativo” e que “deverá marcar o princípio de uma fase do ciclo mais positiva”.
João Pereira Leite, por seu lado, reconhece que, numa base trimestral, já houve uma inversão, mas que o mesmo ainda não se verificou em termos anuais e destaca a importância do investimento.
“É precisamente o que mais falta nos faz e o que menos temos. O investimento produtivo é a peça chave da nossa economia”, alerta.
/Lusa