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Manuel Cardoso, Diogo Batáguas, João Batista (Velha) e Carlos Coutinho Vilhena, no Estádio Manuel Calzado Galván
Este fim-de-semana, a pequena e plácida cidade de Jerez de los Caballeros, na Extremadura (Espanha), foi invadida por centenas de portugueses, com o mote “Extrema Dura”. A culpa? Foi de uma Velha.
O podcast Falsos Lentos moveu, no último sábado, mais de 500 portugueses desocupados a Jerez de los Caballeros.
Contexto? Precisa… e de muito. O podcast Falsos Lentos, patrocinado pela Bwin, arrancou em 2021, quando a casa de apostas dava nome ao campeonato português de futebol. Ora, quem o desconhece dirá: “bem, é só mais um podcast a falar de futebol”. Mas não. Os Falsos Lentos vão além do futebol (e, muitas vezes, nem sequer lá chegam).
Desde então, todas a segundas-feiras (em período de competição desportiva), os humoristas Carlos Coutinho Vilhena, Diogo Batáguas e Manuel Cardoso reúnem-se para bem dispor os fiéis ouvintes.
De forma infeliz, os três intervenientes têm sido fustigados por condições “semi-médicas”, em cada temporada.
Há dois anos, por exemplo, a culpa foi de Roger Schmidt. Foi chegar (ao Benfica), ver, vencer e deixar Manuel Cardoso com “Garimpa A”.
No ano passado, o portista Diogo Batáguas estava corrosivo e em muito contribuiu para a toxicidade do futebol português.
Este ano, Carlos Coutinho Vilhena voltou profundamente extasiado, devido ao futebol de Viktor Gyökeres. A expressão correta e por eles disseminada é “cheio da força e com um pau”. Mal ele sabia que ia acabar com a “Extrema Dura”…
Mas na ordem do dia está outro protagonista: João Batista – vulgarmente conhecido como “Velha” – e o culpado por uma doença ainda maior: o amor pelo Jerez CF.
João Batista é o produtor do podcast. Sempre muito interpelado pelos humoristas, conquistou o carinho de todos os ouvintes.
No final de 2024, este produtor de voz meiga e uma postura ternurenta foi injustamente ‘encostado à parede’ pelo trio de comediantes, por ter faltado a um dos episódios. Mas havia uma boa justificação para isso.
João Batista não falecera, como o painel vaticinava… Estava sim num almoço de família, com uns tios que não via há muitos anos, porque estavam emigrados em Jerez “dos Cavaleros ou lá o que é”.
“O que é isso de Jerez de los Caballeros, ó Velha?”
A equipa voltou a confrontá-lo questionando o que era “isso de Jerez de los Caballeros”. E a Velha explicou: uma pequena cidade com pouco mais de 9.000 habitantes (cujo nome João Batista não conseguiu, na altura, pronunciar), pertencente à província de Badajoz, na Extremadura, Espanha.
Justificação dada. Gargalhadas. “Isso é uma terra inventada, não existe”, assumiu Diogo Batáguas. E o assunto morreu. Ou assim parecia…
No episódio seguinte, sem que ninguém estivesse a prever e aproveitando o embalo do Natal, Diogo Batáguas apareceu no programa com quatro camisolas do clube daquela cidade: o Jerez CF, da quinta divisão espanhola.
O humorista almadense, mas afeto ao FC Porto, justificou que o grupo precisava de um clube que os unisse. E o Natal era a altura ideal para a comunhão.
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Benfica, Sporting, FC Porto, intrigas do futebol português à parte… a partir daí, o que passou a ter interesse naquele programa foi algo maior: a união em torno do Jerez CF.
O entusiasmo (impulsionado pelos ouvintes) foi tanto que este movimento chegou aos ouvidos dos dirigentes do clube espanhol, que convidaram a comitiva de Falsos Lentos para o jogo frente ao Montijo (de Espanha) no seu estádio Manuel Calzado Galván, no dia 12 de abril.
O que provavelmente não estariam à espera é que a comitiva de Falsos Lentos são os humoristas, o produtor, o “senhor do autocarro” e os ouvintes.
Resultado: 500 portugueses com a “Extrema Dura”
Nos últimos meses, os aficionados do podcast estiveram a preparar-se o grande dia.
Quem pretendia ir no autocarro oficial dos Falsos Lentos, teve de se candidatar para categorias que cumpriam os requisitos que os humoristas precisavam para garantir uma viagem segura: “um faz tudo”, “um médico”, “um advogado”, “uma mulher”, “um líder de claque”, “um fluente em espanhol”, “um contador de histórias”, etc.
O resto da malta, de Norte a Sul, que não conseguiu assento no ‘autocarro dos grandes’, organizou-se em carros e autocarros para ir até Jerez de los Caballeros.
O ZAP esteve no autocarro que saiu de Lousada às 6h15 de sábado e acompanhou a excursão que recolheu também adeptos no Porto e em Águeda rumo ao Sul de Espanha, durante cerca de 8 horas (sempre a cantar).
Nunca faltou genica… nem farnel, claro.
A chegada ao “monumental” Manuel Calzado Galván foi pelas 15h30 espanholas – a duas horas e meia do início do jogo.
Todos a postos? Não… ainda faltava alguém… Diogo Batáguas, que não apanhou o autocarro com os seus colegas.
E, inesperadamente, no momento em que os fãs suplicavam pela presença do humorista da margem sul, eis que aconteceu uma das mais belas coincidências da tarde: o D. Sebastião da falsa lentidão apareceu.
Agora sim, tudo (e todos) a postos. Cortejo até ao estádio para ver a bola.
Nunca o humilde Manuel Calzado Galván se tinha visto noutra igual.
“Contra os canhões marchar, marchar! Força Jerez!”
Durante os 90 minutos, e não desprezando a qualidade dos craques da regional da Extremadura, o espetáculo foi manifestamente melhor nas bancadas do que em campo. 0-0 foi o resultado final.
No final do jogo, os quatro protagonistas iniciais desceram ao relvado e o próprio Jerez CF pôs o Hino de Portugal, para agradecer “una locura tan bonita“ – como descreveram.
Apesar da invasão a Espanha, esta festa não foi (só) “nossa”. Numa ‘zona mista’ improvisada, o pequeno Angel contou ao ZAP que não é do Barça, nem do Real Madrid, nem do Atlético… é mesmo do Jerez (à séria!).
Os adeptos locais não ficaram ciumentos e até se assumiram honrados por terem a oportunidade de partilhar o espírito e a alma de Jerez com os portugueses num dia diferente, que, certamente, ficará para a história do futebol ibérico.
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Esta segunda-feira, o jornal desportivo Marca deu destaque à aventura portuguesa na Extremadura – e até aumentou o número de “aventureiros” para 600.
Depois do jogo, a festa continuou em Espanha (mas em português). A direção do Jerez CF preparou as instalações para receber os seus “amigos portugueses” com paella e bocadillos grátis, muita cerveja, música e boa disposição.
Mi casa es tu casa tornou-se uma realidade.
Portugal está com a “Extrema Dura”.
Obrigado, Velha.