Mais de 45 milhões de eleitores escolhem, este domingo, os dois candidatos que passam à segunda volta das eleições presidenciais, com as sondagens a indicarem que o confronto decisivo vai opor Emmanuel Macron a Marine Le Pen.
As sondagens mais recentes publicadas sobre as presidenciais francesas colocam Emmanuel Macron (centro) à frente de Marine Le Pen (extrema-direita), com 24% e 22% respetivamente, e Jean-Luc Mélenchon (esquerda) e François Fillon (direita) empatados com 19%.
Macron lançou-se na corrida presidencial francesa projetando a imagem de um político novo e descomprometido, “nem de direita nem de esquerda”, e tornou-se no favorito para derrotar a candidata da extrema-direita.
O ex-governante, de 39 anos, nunca foi eleito e demitiu-se do cargo de ministro da Economia (2014-2016) do Governo do Presidente François Hollande para apresentar a candidatura.
Noutras sondagens é a líder da extrema-direita francesa a aparecer no topo da lista. O partido de Le Pen, a Frente Nacional, foi o mais votado nas europeias de 2014 e nas regionais de 2015, com 25% e 28%.
Por outro lado, as sondagens também indicam de forma consistente que Le Pen, de 48 anos, até pode ganhar a primeira volta, mas perde na segunda.
Às eleições presidenciais francesas apresentam-se onze candidatos.
Na sondagem do instituto Ipsos para a rádio France Info, a seguir aos quatro primeiros (Macron, Le Pen, Mélenchon e Fillon) surge o socialista Benoît Hamon, com 7,5% das intenções de voto. Os outros seis candidatos – Philippe Poutou, Nicolas Dupont-Aignan, Nathalie Arthaud, Jean Lassalle, François Asselineau e Jacques Cheminade – obtiveram percentagens abaixo dos cinco pontos.
Ameaças não estragam expetativas de “mais participação” eleitoral
Hermano Sanches Ruivo preside a mesa número 41 da escola La Sibelle, que tem duas mesas de voto onde estão inscritos três mil eleitores, e para o vereador-executivo da câmara de Paris esta é uma eleição “diferente das precedentes”.
“Temos o sentimento que vamos ter mais participação porque está muito mais renhido. A própria mobilização é dessa forma mais consequente. Agora, é um dado adquirido, a abstenção é um partido em França, essa noção em que uma série de pessoas dizem ‘Eu não quero participar’ é de facto uma realidade”, afirmou à Lusa.
O franco-português explicou que face a uma “outra fase do terrorismo e da vida da democracia”, foram reforçadas as medidas de segurança, os membros das mesas de voto foram formados para uma maior vigilância e há um segurança à entrada desta escola do 14.º bairro de Paris.
Pela primeira vez, as eleições presidenciais acontecem num período de estado de emergência instaurado após os atentados terroristas de 13 de novembro de 2015 e o voto decorre três dias depois do ataque na avenida dos Campos Elísios, tendo sido mobilizados para todo o país mais de 50 mil polícias e guardas, apoiados por sete mil militares.
“Tentamos claramente ter a maior segurança possível, não colocando uma espécie de pressão, de medo sobre a própria população. Aqui, as equipas estão formadas, temos um número de alerta que devemos acionar logo que possa surgir [um problema]”, afirmou Hermano Sanches Ruivo.
O franco-português acrescentou que “o segurança na entrada faz um primeiro trabalho”, depois os membros das mesas de voto devem vigiar com algum cuidado”, há “equipas militares e equipas de polícia que vão todo o dia passar pelas diferentes mesas de voto” e há “o plano Vigipirate que implica que militares vão passando com alguma regularidade pelos diferentes espaços”.
Willian Litolff, com o cartão de eleitor número 977, entra numa das cabinas de voto e instantes depois sai com o envelope em direção à mesa da urna, onde é feita uma última verificação da sua identidade, assinando depois as folhas de presença e inserindo o voto na caixa transparente, seguido de um sonoro “A Voté” (“Votou”).
“Foi uma escolha difícil, mas decidi há alguns dias. Desta vez havia quatro candidatos próximos e hesitava entre dois. Então, escolhi Mélenchon porque é uma esperança para França, ainda que talvez não passe à segunda volta”, afirmou o jovem à Lusa, à saída da sala.
Michel Mourachoff, de 72 anos, já tinha feito a escolha “há muito tempo” e preferiu Emmanuel Macron porque “é o que se quer ocupar de todos os franceses e é preciso renovar as equipas”, mesmo que admita não gostar de tudo o que consta do seu programa.
Philippe Debrun, de 78 anos, contou que “não foi nada uma escolha difícil” e votou François Fillon: “Ele tem um programa bem feito. Se não passar à segunda volta, vou votar por eliminação porque não quero que vença Marine Le Pen”, indicou.
Mesmo se os diários franceses indicam que a primeira volta das presidencias se realiza sob a ameaça terrorista, Jeannette Kremen, de 61 anos, disse não ter medo de ir votar porque também pode “ser atropelada ao sair de casa”, afirmando que até hesitou em exercer o seu direito de voto mas “por falta de solidez dos candidatos”, tendo acabado por deslocar-se “porque o voto foi uma luta de séculos”.
“Votei Mélenchon porque penso que é preciso passar a uma sexta república porque o Governo francês é uma democracia monárquica. É preciso que alguém dê um pontapé a isto durante cinco anos e que acabe com todos os podres que tem havido nos últimos 30, 40 anos na vida política francesa. Não concordo com a saída da Europa, mas não acredito que o faça porque tem de consultar o povo francês”, indicou.
As mesas de voto abriram às 08h00 (07h00 em Lisboa) e encerram às 20h00 em Paris e nas grandes cidades, fechando uma hora mais cedo nas outras localidades.
ZAP // Lusa