Depois de seis anos de juros negativos, os portugueses enfrentam agora um cenário de subidas nas prestações do crédito da habitação já nos próximos meses.
Ao longo das últimas semanas a Euribor tem refletido os sintomas de uma economia europeia em sobressalto, com a inflação a disparar e os mercados financeiros a anteciparem que o Banco Central Europeu suba os juros em 75 pontos até ao final do ano. Seis anos após a sua entrada em terreno negativo, o indexante a 12 meses subiu para valores positivos, cifrando-se nos 0,118%.
De acordo com o Diário de Notícias, as previsões indicam que a Euribor a 12 meses esteja a 0,60% no início de agosto, a 1,06% no início de novembro e a 1,62% daqui a um ano”, explicou Filipe Garcia, economista do IMF ao jornal. Segundo a mesma fonte, a Euribor a 12 meses é usada em 24,5% dos contratos com taxa variável e abrange 292 mil famílias, tendo por base dados recentes.
Como tal, estes empréstimos deverão ter o indexante a subir para mais de 1% já no próximo mês de novembro. No que respeita à Euribor a três e a seis meses, que se aplica, respetivamente, a 382 mil e a 495 mil contratos de crédito a habitação, os valores estão ainda negativos: -0,429% e -0,226%. No entanto, as previsões também indicam um regresso dos valores positivos já em julho, no prazo a seis meses, e em agosto na taxa a três meses. A fasquia do 1% só deverá ser ultrapassada no início do próximo ano.
Perante estes sinais, os consumidores com crédito a taxa variável deverão sofrer um aumento nas suas prestações quando os contratos forem revistos. De acordo com as estimativas feitas pela Reorganiza, tendo em conta um contrato de 100 mil euros a 30 anos e com uma taxa de 1%, se tiver um aumento para 2% representa passar de uma prestação de 322 para 370 euros, um aumento de 48 euros por mês ou 15%.
No caso português, 82,3% dos contratos de crédito à habitação são com taxa variável, pelo que a subida acelerada da Euribor nos vários prazos deve começar a ter impacto nos orçamentos familiares em breve. Esta subida acontece em simultâneo com o aumento dos preços dos bens essenciais, como os alimentos e a energia. Como tal, Filipe Garcia avisa que os orçamentos familiares estarão mais pressionados.
“Foram muitos anos de juros muitíssimos baixos, que criaram uma certa habituação a que a prestação da casa não fosse um problema. O aumento do custo de vida já está bem visível, mas o nível de rendimentos ainda está ligado à economia de 2021, senão antes, e isso certamente irá causar problemas sérios a muitas famílias.”