2025 é o ano com as nomeações para os Óscares “mais políticas de sempre”

“The Apprentice”, filme sobre Donald Trump

Um filme sobre Trump, outro sobre a ditadura brasileira, uma mulher trans nomeada, e muitas temáticas políticas exploradas. Hollywood prepara-se para uns Óscares que são mais do que cinema.

A lista de nomeações para os Óscares já está cá fora, depois de adiamentos provocados pelos incêndios que atacam Hollywood, o bairro de Los Angeles onde a cerimónia de entrega de prémios tem lugar.

Em grande destaque, está o filme “Emilia Pérez”, o mais nomeado este ano, com 13 indicações que incluem as de melhor filme, melhor realizador e melhor argumento adaptado, recorda a BBC.

Este musical não é diretamente político, retratando a história de uma mulher que se envolve com um cartel de droga. Mas a protagonista, Karla Sofía Gascón, é a primeira mulher trans a ser nomeada para o Óscar de melhor atriz, o que, segundo a televisão britânica, é um statement político, tendo em conta que ainda esta semana Donald Trump garantiu que “só existem dois géneros” nos EUA.

Jáo o filme de Ali Abbasi, “The Apprentice”, recebeu duas nomeações para ator, uma para Sebastian Stan, que interpreta Donald Trump, e outra para Jeremy Strong, que interpreta o seu mentor, Roy Cohn.

O filme biográfico foi alvo de grande polémicas, e o próprio Trump tentou impedir que fosse para os cinemas, classificando-o de “trabalho barato, difamatório e politicamente nojento”. Referia-se, talvez, à cena de violação retratada no filme, que representa Donald Trump a violar a sua ex-mulher, Ivana, um facto que não está provado que tenha acontecido na vida real. É um filme incontornavelmente político.

Outro exemplo é “Wicked”, nomeado para 10 categorias, incluindo melhor filme, melhor atriz, melhor atriz coadjuvante e melhor banda sonora original. Este não é um filme diretamente político, mas aborda temas como o privilégio, e o Feiticeiro (a película é uma prequela do clássico Feiticeiro de Oz), um governante egoísta que usa o medo e o engano para controlar a população, pode ser interpretado como um metáfora para os totalitaristas da atualidade.

Também o filme em língua portuguesa “Ainda Estou aqui“, dirigido pelo brasileiro Walter Salles, é uma ode à liberdade. O cenário situa-se no Rio de Janeiro dos anos 70, em pleno período de ditadura, e a longa-metragem é inspirada na história real do deputado Rubens Paiva, que desapareceu nas mãos das forças de segurança. O filme está nomeado para as categorias de melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz, para Fernanda Torres.

Há outras nomeações que abordam questões políticas, como é o caso de The Brutalist, de Brady Corbet, com 10 nomeações, que conta a história de um judeu húngaro que tenta adaptar-se a uma nova vida nos EUA, ou Nickel Boys, de RaMell Ross, que explora o passado racista dos EUA.

Até Dune: parte 2, dirigido por Denis Villeneuve, é mais envolvido no tema da religião ou da liderança do  que a maioria das ficções científicas, aponta a BBC, que classifica este ano como o das nomeações “mais políticas de sempre”.

É claro que os Óscares têm já tido filmes politicamente interventivos a serem noemados, como é o caso da sátira anti-capitalista de Ruben Östlund, Triângulo da Tristeza, ou Killers of the Flower Moon, de Martin Scorcese, sobre o antepassado colonialista americano.

Resta apenas aguardar pelos discursos no dia da cerimónia, com data marcada para 3 de março. Serão, também eles, mais políticos que o habitual? Haverá algum momento ao estilo de Marlon Brando, que recusou o prémio de melhor ator por O Padrinho, em 1973, e chamou ao palco uma mulher indígena, como forma de alertar para os direitos civis nos EUA?

Teremos de esperar para ver, e até lá deixamo-lo com o icónico momento.

ZAP //

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