200 euros por uma ecografia. Cenário crítico para as grávidas em Portugal

Há poucos médicos inscritos em Ecografia Obstétrica Diferenciada, faltam acordos com o privado, faltam opções.

As grávidas são das pessoas com situação mais crítica no Serviço Nacional de Saúde.

É pública a dificuldade no acesso a cuidados de saúde primários em Portugal (quase 2 milhões de pessoas nem têm médico de família), mas no caso das grávidas, o cenário complica-se ainda mais.

Está complicado até para marcar uma ecografia, como destaca Nuno Clode, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal.

“Existem grávidas que não conseguem marcar ecografias. Hoje em dia, as ecografias têm de ser marcadas com muito tempo de antecedência e ao segundo mês de gravidez pode marcar para o quinto mês, mas o problema é a ecografia das 12 semanas ou aquelas que têm de ser feitas no imediato. Não há resposta“, descreveu Nuno, na CNN Portugal.

Há sobretudo três motivos para esta dificuldade em marcar uma ecografia: os acordos entre o Estado e o sector privado não convencem, os ginecologistas e obstetras passam para as urgências (nos hospitais públicos) e há poucos profissionais com competência para realizar este exame.

Entre os quase 2 mil especialistas em Ginecologia/Obstetrícia registados na Ordem dos Médicos, apenas 235 estão no colégio de competência de Ecografia Obstétrica Diferenciada – ou seja, habilitados para realizarem ecografias.

Outro aspecto crítico: faltam clínicas convencionadas para este tipo de exames.

E é difícil apresentar uma solução imediata (e realista) para este problema.

Sem soluções, sem marcações, há grávidas que percorrem 80 quilómetros para fazer uma ecografia.

Ou então pagam 200 euros por uma ecografia – é o valor em alguns hospitais privados.

Ou então, o caso pior: a grávida não faz as ecografias todas. Ou, sobretudo na primeira ecografia, faz demasiado tarde, quando já não é possível recolher informações essenciais sobre o feto.

Marcar a ecografia morfológica, do segundo trimestre, também tem sido muito complicado. E esta ecografia é vista como a mais importante: avalia-se se o feto está completo e vai sobreviver, se há lesões, como estão os membros, a localização da placenta, entre outros aspectos.