13.000 crianças internadas num dia. O que se sabe sobre a “nova pneumonia” da China?

A China está a registar um aumento dramático de crianças internadas, devido a uma pneumonia misteriosa. No espaço de 24 horas, foram hospitalizadas mais de 13.000. As autoridades associam o surto de infeções respiratórias a uma combinação de agentes patogénicos já existentes.

Um tipo de “pneumonia não identificada” está a fazer soar os alarmes na China.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz-se preocupada com este aumento de casos de infeções – que tem afetado, sobretudo, crianças – e pediu ao país informações detalhadas sobre estes casos.

Esta sexta-feira, a China informou que não detetou agentes patogénicos novos ou invulgares, sugerindo que o que está em causa é “uma combinação de agentes patogénicos” já conhecidos.

“As autoridades chinesas indicaram que não foram detetados quaisquer agentes patogénicos novos ou invulgares, nem sinais clínicos invulgares, mas apenas um aumento geral do número de casos de doenças respiratórias devido a agentes patogénicos conhecidos”, disse a OMS em comunicado.

As dúvidas pairavam, entre a comunidade científica, mas, ao que parece, este aumento da incidência de doenças respiratórias na China está associado ao levantamento das medidas de prevenção contra a covid.

Pneumonia misteriosa

Uma pneumonia é uma inflamação da área do pulmão onde ocorrem as trocas gasosas essenciais para a manutenção da vida.

De acordo com a OMS, morrem, por ano, 1,2 milhões de crianças com menos de cinco anos, devido a esta infeção, sendo a principal causa de mortalidade nesta faixa etária.

No inverno, é normal que este tipo de infeções respiratórias aumentem – em especial, neste, que é o primeiro, desde os rigorosos confinamentos devido à covid.

Tal cenário, deverá implicar que haja um número muito maior de crianças – que não foram, antes, expostas a certos vírus e bactérias – doentes.

13.000 internamentos num dia

De acordo com o diretor do Hospital Infantil de Tianjian, uma cidade a sul de Pequim, no espaço de 24 horas, foram internadas mais de 13.000 crianças.

Além dos sintomas habituais – tosse, falta de ar, febre e dor no peito – há relatos de nódulos pulmonares, o que tem chamado a atenção e preocupado as autoridades.

Este tipo de nódulos foi encontrado num terço das pessoas cujos pulmões foram examinados.

A ProMED conta que houve relatos, nos últimos dois meses, de surtos devido a uma bactéria comum chamada Mycoplasma pneumoniae.

Esta bactéria geralmente causa infeções leves na garganta e traqueia e é a principal causa de pneumonia em crianças hospitalizadas nos EUA.

No entanto, segundo um especialista da ProMED, os nódulos descritos não são típicos do Mycoplasma – que costumam causar, em vez disso, “infiltrações irregulares”. Por isso, não se sabe ainda o que pode, realmente, estar em causa.

Numa declaração divulgada pelo Science Media Centre no Reino Unido, o epidemiologista Paul Hunter, da Universidade de East Anglia, explicou que o nódulos são tipicamente um sinal de infeções provocadas por bactérias e não por vírus.

As infeções bacterianas não são tão perigosas como as virais – no que diz respeito ao potencial pandémico – sendo, por isso, mais fáceis de controlar – o que se deve ao facto de as bactérias se replicarem e evoluírem muito mais lentamente do que os vírus.

Nova pandemia é improvável

Paul Hunter explicou que, se estes casos na China fossem causados por um novo patógeno, os adultos também deveriam estar a adoecer.

“A minha sensação é que não se trata de uma emergência de saúde pública de interesse internacional, mas eu não descartaria totalmente essa possibilidade até haver um diagnóstico definitivo”, disse, citado pela New Scientist.

A Coreia do Sul já relatou mais de 200 casos de pneumonia em crianças em todo o país… mas todos devido a Mycoplasma. Das duas uma: ou são episódios alheios aos da China; ou, não sendo, muito provavelmente, os casos na China também estão a ser provocados por essa bactéria, explicou o especialista.

Miguel Esteves, ZAP //

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