Um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública aponta para um cenário grave: “Estamos no mesmo caminho” que outros países.
Um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) estima que, em média, por cada 100 casos de Covid-19 em Itália, o país mais afetado na Europa, Portugal está a ter sete casos, apontando para um cenário grave em território nacional.
O estudo teve como base modelos matemáticos, que analisou dados dos outros países, que permitem prever o que se irá passar em Portugal, disse à Lusa a investigadora e diretora da ENSP, Carla Nunes. ” Esta previsão é muito fiável a um curto espaço de tempo, cerca de três a cinco dias. Passado esse tempo é muito difícil prever com exatidão”, afirmou.
“Atualmente, a análise desses modelos diz-nos que todas as curvas, na fase em que nos encontramos e independentemente do país analisado, são exponenciais (ou similares), ou seja, têm uma evolução crescente acentuada. A curva portuguesa segue o mesmo trajeto, à sua escala, comparando com os períodos análogos dos outros países”, sublinhou.
“Analisando, por exemplo, o 17.º dia de todas as curvas sabemos que, por cada 100 casos em Itália, esperamos sete em Portugal, por cada 100 no Reino Unido estimamos 130 e por cada 100 em Espanha esperamos 30 novos casos em Portugal”, precisou. Carla Nunes esclareceu que estes países foram escolhidos por serem os que matematicamente e culturalmente mais se adaptam à explicação da curva portuguesa, em diferentes escalas.
Segundo a investigadora, Portugal está a seguir as curvas dos outros países em escalas diferentes. “Nós temos um comportamento que nos permite ver, usando as outras curvas, o que vai acontecer nos próximos dias se, obviamente, nos mantivéssemos no mesmo caminho que eles estão a seguir”, referiu.
“Nós estamos no 17.º dia de curva, mas eles atualmente já estão no trigésimo, no quinquagésimo dia, portanto, eu consigo prever quantos casos novos” o país vai ter, porque “estes modelos matemáticos têm uma capacidade de 95% ou mais, o que é brutal”. “Isso é o que me assusta. Nós estamos no mesmo caminho que eles estão”, mas Portugal pode afastar-se destas “previsões assustadoras”: “A evidência diz-nos que baixando a taxa de contacto, baixamos a taxa de transmissão”.
“Comparativamente aos outros países, Portugal tomou medidas de promoção do isolamento social mais cedo e foram aparentemente bem adotadas pela população portuguesa, segundo os órgãos da comunicação social”, observou a diretora da ENSP.
Portugal introduziu uma nova medida na passada sexta-feira, a interrupção das escolas, que efetivamente começou na segunda-feira, mas serão necessários 14 dias, o período máximo de transmissão do vírus, para perceber o impacto da medida. Dada a “história do vírus”, ainda não há tempo para saber se “a medida foi eficaz ou não”, salientou.
Carla Nunes lembrou que esta medida já tinha sido tomada noutros países e não se conseguiu ainda observar o seu impacto. “Mesmo nos outros países como Itália e Espanha, que já estão com medidas bastante mais severas”, ainda não se verificou “um efetivo ou indiscutível abrandamento”, notou.
“A comparação de medidas/políticas entre países é sempre difícil (culturas, capacidade de resposta dos serviços de saúde, adesão da população às medidas, entre outras). Resta-nos, por isso, fazer a nossa parte: aguardar em casa e seguir as indicações de higienização”, disse, frisando que “este é um problema complexo e multidisciplinar”.
A investigadora avançou à Lusa que está a ser criado o barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública que já está a seguir esta situação muito próximo, abarcando diversas perspetivas: sociais, económicas, perceções, epidemiologia e acesso a serviços, entre outras.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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