10 anos de Costa, PSD com mais votos, 400 mil no Chega: outros números das eleições

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José Sena Goulão / Lusa

O primeiro-ministro, António Costa

António Costa vai bater um recorde na História de Portugal. 18 vitórias do PS e CDS com mais votos do que Livre e PAN.

Um aviso antes de todas contas seguintes: estes números ainda não incluem os votos nos consulados portugueses. Falta contabilizar as preferências dos portugueses que moram no estrangeiro.

A reacção foi geral, a partir das 20 horas: a surpresa instalou-se e o dia 30 de Janeiro de 2022 fica na História da política portuguesa. O Partido Socialista, contrariando todas as previsões recentes, venceu as eleições legislativas com maioria absoluta. E conseguiu dois recordes no Portugal democrático – já lá vamos.

Outra surpresa foi a abstenção que, apesar de continuar elevada (42,04%), foi muito inferior à registada nas legislativas de 2019, que foi de 51,43% – e não havia coronavírus nessa altura.

CDS desapareceu

Antes do grande vencedor, o facto histórico: pela primeira vez (em eleições livres), o Centro Democrático Social – Partido Popular não conseguiu eleger qualquer deputado. O CDS-PP, um dos fundadores da democracia em Portugal, que foi diversas vezes o terceiro partido mais votado em Portugal, que tinha 42 deputados em 1976, que tinha 24 deputados já em 2011… Ficou com zero. Como se esperava, Francisco Rodrigues dos Santos demitiu-se. E não se sabe o que virá a seguir nos democratas-cristãos.

Dois recordes do PS

Agora, o grande vencedor da noite: António Costa. Ao ser eleito novamente, o líder do PS vai chegar a Janeiro de 2026 como primeiro-ministro, se não aparecer uma grande novidade entretanto (recordemos Durão Barroso, em 2004). E, assim, olhando para o pós-25 de Abril, torna-se no político que será primeiro-ministro durante mais tempo em Portugal: 10 anos. Vai superar Cavaco Silva, que ficou muito perto dos 10 anos no cargo.

E mais: nessa altura, o PS terá governado o país em 16 dos últimos 20 anos. Outra maioria absoluta.

O PS conseguiu outro registo inédito: venceu nos 18 distritos de Portugal Continental. E, tendo em conta, que também ganhou nos Açores, só a Madeira “escapou” do domínio socialista.

A maioria absoluta surpreendente foi conseguida, apesar de esta ser a maioria absoluta com menor percentagem de sempre em Portugal: 41,68%. O menor número anterior pertencia igualmente ao PS, quando José Sócrates conseguiu 45.03% dos votos em 2005. Curiosamente, já houve duas ocasiões em que o PS conseguiu percentagens maiores mas não chegou à maioria absoluta – em 1995 e em 1999, ambas com António Guterres no comando.

PSD com mais votos, mas…

O segundo lugar foi para o Partido Social-Democrata. Uma noite de derrota para Rui Rio, que no entanto conseguiu mais votos do que em 2019, ano das legislativas anteriores. Tinha conseguido na altura 1.420.644 votos e agora subiu ligeiramente, para os 1.498.605 votos. Mas, novamente, as percentagens podem enganar: de 77 passou para 71 deputados.

Várias sondagens previram um empate técnico entre PS e PSD mas, no dia decisivo, o PS ficou com mais 46 deputados do que o PSD: 117 contra 71. Uma diferença de quase 750 mil votos, favorável aos socialistas.

Grandes subidas à Direita

Então, se o PSD tem menos deputados e se o CDS desapareceu da Assembleia, para onde foram os votos dos eleitores de Direita? Para os recém-chegados Chega e Iniciativa Liberal.

Os dois partidos tinham-se estreado no Parlamento apenas em 2019 mas já passaram a ser, respectivamente, as terceira e quarta forças políticas mais fortes em Portugal.

O Chega teve cerca de 66 mil votos em 2019 (e um deputado); agora subiu para 12 deputados, com 385 mil votos. São quase 400 mil portugueses a votar no Chega, que ainda pode atingir esse número redondo, quando “chegarem” os votos dos consulados.

A Iniciativa Liberal tinha um deputado e 65 mil votos; passou a ter oito deputados e 268 mil votos – mais do triplo dos votos no CDS.

Grandes descidas à Esquerda

O CDS desapareceu mas o Bloco de Esquerda também foi alvo de uma queda considerável: de 19 deputados passa a ter apenas cinco.

Curiosamente o Bloco teve mais votos do que a Coligação Democrática Unitária (CDU), com uma diferença ligeira de quase quatro mil preferências; mas a CDU é que terá seis deputados, contra os cinco do Bloco. Na disputa pelos “extremos”, o Chega terá mais deputados do que BE e CDU juntos (12-11).

Os comunistas terão seis representantes em São Bento mas nenhum deles será João Oliveira, que era líder parlamentar e que substituiu Jerónimo de Sousa nos debates desta campanha. E nenhum deles será um deputado do Partido Ecologista “Os Verdes” – o PEV também sai do Parlamento.

Por falar em ecologia, o Pessoas-Animais-Natureza (PAN) só conseguiu colocar Inês Sousa Real. E essa eleição surgiu mesmo nos últimos minutos da contagem. O PAN passa de quatro para uma deputada.

Quer o PAN, quer o Livre (um deputado), tiveram menos votos do que o CDS: 86 mil no CDS, 82 mil no PAN e 69 mil no Livre. Mas a contabilidade dos círculos eleitorais, dos distritos, colocou o CDS fora do Parlamento.

Os “outros”

Um pouco mais abaixo, verificamos que, retirando das contas os nove partidos que já tinham pelo menos um deputado, o partido mais votado foi o Reagir Incluir Reciclar. O RIR, liderado por Vitorino Silva, reuniu mais de 22 mil votos, bem acima de todos os outros mais “pequenos”.

O CDS caiu, Bloco e CDU também desceram muito. Mas, em termos relativos, olhando para a escala, o partido que sofreu a maior queda de todas foi o Aliança. Foram quase 40 mil votos em 2019, não muito longe do Livre, que conseguiu um deputado na altura. Em 2022 desceu para menos de dois mil votos. A diferença chama-se Pedro Santana Lopes, que em 2020 deixou o partido.

Há pelo menos 260 portugueses a apoiar a Monarquia em Portugal. Foi esse o número de votos no Partido Popular Monárquico, o PPM (último classificado na noite passada).

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

23 Comments

      • Não, voltam apenas depois para tapar o buraco que estes já estão a fazer e agora vão aumentar. De resto a dívida pública subiu sempre com este governo em valor absoluto. Mais uma cavadela. Alguém há de pagar isto.

      • Tapar?!
        Mas esses “taparam” alguma coisa ou sacaram a Portugal e aos portugueses para dar aos “amigos”??
        Vender ao desbarato CTT, ANA, REN, EDP, etc, etc foi um verdadeiro negócio da China que tirou milhares de milhões a Portugal para os entregar a interesses estrangeiros… isso é que foi “tapar”!…
        E no fim os Gaspar até “ganhou” um tacho gigante no FMI!

        Se não fosses tão “Afonso” saberias que o valor absoluto da dívida não interessa nada (é ver como cresce a dos EUA!!), mas sim o valor relativo ao PIB.

      • Bem… a última tirada é para quem percebe. Não é seguramente para ti. Independentemente do valor relativo, há um valor absoluto. E é esse que tem de ser pago. O relativo depende da evolução da própria dívida e do PIB. O absoluto esse, terá de ser pago e ponto final.
        Quanto ao exemplo que dás só pode mesmo vir de um distraído. Os EUA têm uma das maiores dívidas externas mundiais. Olha que belo exemplo que foste arranjar. Até há vários economistas que dizem que já não é assumível. É apenas gerível.

        O nosso país faz lembrar aquelas famílias que vivem só do crédito. Crédito para a habitação principal, para a casa de férias, para os dois carros, para as viagens do verão e inverno, para a tv led 5.000.000 polegadas e por aí fora…
        E todos os meses se afundam mais um pouco. Como os juros estão baixos, a prestação até é pequena, pelo que seguem este modo de vida. E vão sobrevivendo enquanto a torneira não fecha e não encontram uma qualquer adversidade na vida (perda de emprego, doença…). Mas surgirá sempre o dia… mais tarde ou mais cedo, vão ser confrontados com a sua realidade. Nós vivemos assim, enquanto país, há muitas décadas. Um dia, caíremos todos na realidade. Já aconteceu, na sequência do governo do ladrão, e seguramente vai voltar a acontecer.

  1. Ainda assim O Costa e o Rio tem muito mais estofo e saber estar como políticos do que o Ventura e o Cotrim. O ventura e o Cotrim passaram logo para um discurso muito agressivo sem diplomacia alguma. O que interessa para os portugueses é diplomacia e dialogo para que os portugueses sejam melhores servidos. Não interessam discursos agressivos, só por que são de uma cor politica diferente, interessa diálogo.

    • “… para que os portugueses sejam melhores servidos.”
      diz-se “mais bem servidos” e não “melhor servidos”

      E quanto ao resto, fie-se no diálogo e vai ver onde o país vai parar. Ontem o povo português passou um cheque em branco a um partido que deixou o país, ainda há menos de um década, com uma mão à frente e outra atrás.

      • Mas nessa altura ainda ficou com as duas mãos, uns anos mais tarde já nem tinha onde as meter e só por milagre não focou sem elas.

      • E sabe quem é que assinou o acordo para também levarem as mãos? Foi o que as usou para nos roubar. Sim, esse mesmo.

      • Exacto… as burlas dos “mercados” e da “alta finança” não tiveram nada a ver com a crise mundial…

      • Nem as negociatas do 44, do Pinho e de outros. Afinal pela primeira vez na história tivemos um primeiro-ministro comissionista e um ministro da economia avençado de um grupo financeiro. Porreiro, pá!

      • Que eu saiba isso foi global e nem todos os países precisaram de recorrer à Troika. Seria bom que parasses um pouco para pensar a razão de terem vindo a Portugal.

      • Ó “Não podes ser assim tão lerdo”, pois não – mas eu também não referi que essa foi única causa…
        Pensei e cheguei à conclusão que, a vinda da troika, para ajudar Portugal e os Portugueses de certeza absoluta que não foi!!
        Já para as grandes sociedades de advogados/ políticos / comentadores e certas empresas/empresários (muito deles, estrangeiros) foi um “euromilhões”!…
        Correu tão bem que o Gaspar até foi parar ao FMI!!

      • “Pensei e cheguei à conclusão que, a vinda da troika, para ajudar Portugal e os Portugueses de certeza absoluta que não foi!!”

        Tens de ver juinto do 44 e do teixeira o que é que os levou a chamá-los cá?!

      • Como o governo era minoritário, deve-se também questionar quem chumbou o PEC4 – que até tinha sido previamente “aprovado” pela Merkel!…

      • isso de achar que sabe escrever melhor que os outros é uma grande treta. a linguagem deve ser livre e cada um deve escrever da forma que a sente. além de que para bom entendedor meia palavra basta. não sou nem nunca fui adepto de regras ortográficas exagerados e acordos ortográficos. a linguagem deve ser criativa e livre e só assim poderá existir evolução e criação linguística. só porque algum coma mania que é mais intelectual ou doutorado que os outros inventou umas regras estúpidas linguísticas, não quer dizer que vão todos obedecer. se o Saramago tivesse obedecido a regras linguísticas nunca teria sido Nobel da literatura.
        prefiro fiar-me no diálogo do que na agressividade de candidatos que não trazem nada de novo ao país. alem disso o passos já lá esteve e tratou de vender uma grande parte das empresas públicas a privados estrangeiras que trataram logo de começar com grandes despedimentos. não esquecendo que a qualidade dos serviços que as empresas prestavam , diminuiu muito.
        se você não se considera do povo, ontem deve ser um rico abastado, que nunca perde nada, independentemente do governo que estiver, esquerda ou direita.

      • Esta naioria absoluta deve-se aqueles 300.000 (a maioria reformados pouco qualificados) que à última da hora resolveram ir lá dar o seu voto (quando há 2 anos ficaram em casa). E já ouvi de alguns (SIC Notícias) que o fizeram para agradecer os milhões de vacinas que Costa ofereceu!

  2. Mas quem são os autores dos vistos gold? E quem é que modificou a lei para que fossem perdoados impostos, no valor de milhares de euros, no negócio das barragens da EDP? Os ditos consórcios de advogados que continuam a trabalhar, para este governo, tão bem como trabalharam para os outros!!! Sim, porque o estado paga a advogados seus para nada fazerem no que diz respeito a consultadoria!!!

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