No ano passado, Graham Woan, um astrónomo da Universidade de Glasgow, decidiu passar as suas férias de Natal a resolver um mistério com 2.200 anos: a máquina de Anticítera, o mais antigo “computador” do mundo.
A máquina de Anticítera, um antigo dispositivo de bronze descoberto num naufrágio grego, é um computador mecânico com engrenagens entrelaçadas que foi utilizado no século II a.C. para registar acontecimentos celestes como os eclipses.
É considerado o computador analógico e planetário mais antigo que se conhece. Foi criado no século I a.C., na Grécia romana, e seria usado para prever posições astronómicas e eclipses, como função de calendário e astrologia.
A função do seu mecanismo há muito que intriga os investigadores, em particular o número de orifícios uniformemente espaçados nos seus anéis.
O YouTuber Chris Budiselic é fascinado pela máquina de Anticítera há anos. Budiselic tem estado a trabalhar na sua própria versão do dispositivo, mas não tinha a certeza do número exato de orifícios que este deveria ter.
A investigação de Budiselic chamou a atenção de Woan e dos seus colegas, que decidiram aplicar técnicas de modelação estatística para encontrar a resposta.
“Pareceu-me um problema interessante, que pensei poder resolver de uma forma diferente durante as férias de Natal”, explicou Woan num comunicado de imprensa da universidade citado pela Business Insider.
Com base na investigação de Budiselic, a equipa de investigadores descobriu que o mecanismo provavelmente segue um calendário lunar em vez de um calendário egípcio. Esta conclusão baseou-se no número de orifícios presentes, que anteriormente era incerto devido ao facto de o dispositivo estar corroído e partido.
A máquina de Anticítera fazia parte de um conjunto de artefactos encontrados num naufrágio com 2 mil anos, descoberto por mergulhadores perto da ilha grega de Anticítera em 1900.
Entre os tesouros descobertos encontravam-se estátuas de cavalos em mármore em tamanho real, moedas, jóias e muito mais, mas o mecanismo destacava-se pela sua complexidade avançada. A sua sofisticação levou inicialmente alguns a acreditar que se tratava de um artefacto moderno que tinha sido misturado com os antigos.
Em 2005, imagens de raios X forneceram novos conhecimentos sobre a estrutura do mecanismo. Em 2020, Budiselic e a sua equipa utilizaram essas imagens para estimar que o mecanismo tinha entre 347 e 367 buracos.
Se o número estivesse mais próximo de 350, indicaria um calendário lunar, enquanto 365 buracos sugeririam um calendário egípcio. No entanto, determinar o número exato continuava a ser um desafio devido ao estado do dispositivo.
Woan utilizou então a análise Bayesiana, um método estatístico que calcula diferentes probabilidades. Concluiu que era muito mais provável que o dispositivo tivesse 354 buracos do que 360.
O seu colega Joseph Bayley confirmou este facto utilizando técnicas de estudos de ondas gravitacionais, concluindo que o mecanismo tinha muito provavelmente 354 ou 355 buracos.
Esta descoberta implica que a máquina de Anticítera seguia o ano lunar grego. O estudo já foi revisto por pares e publicado este mês na revista científica Horological Journal.
“A precisão do posicionamento dos furos teria exigido técnicas de medição altamente exatas e uma mão incrivelmente firme para os perfurar”, observou Bayley.
“Foi utilizado no século II a.C.” mas “Foi criado no século I a.C.”. Para além de toda a maravilha de engenharia, ainda conseguia inverter o tempo!