Von der Leyen quer limitar lucros extraordinários das energéticas e anuncia banco de hidrogénio na UE

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Christophe Petit Tesson / EPA

A presidente da Comissão Europeia prestou hoje tributo à resistência ucraniana contra a agressão russa, no seu discurso sobre o Estado da União, em Estrasburgo, afirmando que “hoje a coragem tem um nome e esse nome é Ucrânia”.

Vestida com as cores da bandeira ucraniana, azul e amarelo, Ursula von der Leyen dedicou o início do seu discurso sobre o Estado da União Europeia (UE) à guerra em curso na Ucrânia, dirigindo-se em particular à primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska, convidada de honra hoje no hemiciclo de Estrasburgo.

“A coragem tem um rosto, e esse rosto é o rosto dos homens e mulheres ucranianos que enfrentaram a agressão russa”, declarou a presidente do executivo comunitário, que saudou em particular o exemplo dado pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e pela sua mulher.

“Foi precisa imensa coragem para resistir à crueldade de Putin. Mas encontraram a coragem. A Ucrânia está forte hoje porque pessoas como o seu marido, o Presidente Zelenskyy, permaneceu em Kiev para liderar a resistência, juntamente consigo e com os vossos filhos. Vocês deram coragem a toda uma nação. Deram voz ao vosso povo no palco global. Por isso hoje queremos agradecer-vos e a todos os ucranianos. Glória a um país de heróis europeus”, declarou.

Afirmando-se orgulhosa da “resposta unida, determinada e imediata” da União Europeia à agressão militar da Rússia à Ucrânia, Von der Leyen sublinhou que “esta não é apenas uma guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia”, é também uma guerra contra os valores europeus, contra o futuro da Europa, “é uma autocracia contra a democracia”.

“E estou aqui com a convicção de que, com a coragem necessária e com a solidariedade necessária, Putin falhará e a Ucrânia e a Europa prevalecerão”, disse.

Dirigindo-se a Olena Zelensky, a presidente da Comissão garantiu que “a solidariedade da UE com a Ucrânia vai permanecer intocável”.

“Quero deixar bem claro que as sanções estão aqui para ficar. Este é o momento para mostrarmos determinação e não apaziguamento. Isto tem de ficar muito claro. O mesmo se aplica ao nosso apoio financeiro à Ucrânia”, disse, anunciando então uma nova ajuda, de 100 milhões de euros, para a reconstrução de escolas na Ucrânia.

Lucros extraordinários das energéticas devem ser limitados

Von der Leyen também defendeu hoje que os lucros extraordinários das empresas do setor do petróleo, gás, carvão e refinarias devem “ser canalizados para os que mais precisam”, propondo uma contribuição solidária.

“Não me interpretem mal. Na nossa economia social de mercado, os lucros são bons, mas, nestes tempos, é errado receber receitas e lucros extraordinários recordes beneficiando da guerra e nas costas dos nossos consumidores, [pelo que], nestes tempos, os lucros devem ser partilhados e canalizados para aqueles que mais precisam”, declarou Ursula von der Leyen, intervindo no seu terceiro discurso sobre o Estado da União, na sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo.

De acordo com a líder do executivo comunitário, “estas empresas estão a fazer receitas que nunca contabilizaram, com que nunca sequer sonharam”.

Por isso, a ideia desta taxação aos lucros extraordinários seria obrigar os “produtores de eletricidade a partir de combustíveis fósseis a dar uma contribuição para a crise”, fazendo com que esta taxa obtenha verbas para apoios sociais, explicou Ursula von der Leyen.

Na sua intervenção no discurso do Estado da Nação, perante os eurodeputados, em Estrasburgo, a líder do executivo comunitário anunciou também uma meta para “reduzir a procura [de eletricidade] durante as horas de ponta, que fará com que a oferta dure mais tempo e baixará os preços”.

“Quando eu olho para a eletricidade, milhões de europeus precisam de apoio e é por isso que estamos a propor um limite às receitas das empresas que produzem eletricidade a baixo custo”, acrescentou, referindo-se, nomeadamente, à produção a partir de energias renováveis.

“Todas estas são medidas de emergência e temporárias”, concluiu Ursula von der Leyen.

UE vai ter banco para financiar projetos de hidrogénio

Von der Leyen também anunciou a criação de um “novo banco europeu” para fomentar investimentos em projetos de hidrogénio na União Europeia (UE), orçado em três mil milhões de euros.

“Hoje anuncio que criámos um novo banco europeu de hidrogénio. Isto ajudará a garantir o fornecimento de hidrogénio utilizando dinheiro do Fundo de Inovação, [no âmbito do qual] será possível investir três mil milhões de euros para ajudar a construir um futuro mercado de hidrogénio”, declarou Ursula von der Leyen.

A líder do executivo comunitário argumentou que “o hidrogénio pode mudar completamente a inovação na Europa”, razão pela qual é necessário “passar de um mercado de nicho para um mercado de massas para o hidrogénio”.

“Com o [pacote energético] Repower redobrámos os nossos objetivos e queremos produzir 10 milhões de toneladas de hidrogénio renovável até 2030, [pelo que], para o conseguirmos, precisamos de criar um novo mercado de hidrogénio para preencher a lacuna de investimento e para corresponder à oferta e procura para o futuro”, vincou Ursula von der Leyen, justificando este novo banco de hidrogénio, com verbas do Fundo de Inovação.

“É assim que vamos construir a economia do futuro, este é o Pacto Ecológico Verde”, adiantou.

Sobre o combate às alterações climáticas, a Presidente da Comissão lembra o problema dos incêndios, que são “mais frequentes e intensos” anuncia que a capacidade de combate será “duplicada” com a compra de 10 aviões anfíbios e três helicópteros para a frota de apoio aos Estados-membros.

Houve ainda tempo para uma palavra sobre a morte da rainha Isabel II, que foi “uma lenda”, “uma figura constante” ao longo de anos “turbulentos”, “estoica” e com grande sentido de serviço público.

ZAP // Lusa

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