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Vitória de Hamilton no GP da Grã Bretanha manchada por acidente com Verstappen e insultos racistas

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LAT Images / Mercedes-Benz Grand Prix Ltd.

Lewis Hamilton festeja a vitória no Grande Prémio de Silverstone 2021

Acidente entre Hamilton e Verstappen acabou com o piloto dos Países Baixos a ser projetado com grande violência contra as barreiras. Após a corrida, uma onda de insultos, alguns de cariz racista, varreu as redes sociais contra o sete vezes campeão do mundo, motivando uma reação conjunta da sua equipa, da Fórmula 1 e da Federação Internacional de Automobilismo.

Foi um fim-de-semana histórico e emocionante aquele que se viveu em Silverstone a propósito do Grande Prémio da Grã-Bretanha de Fórmula 1. A corrida de domingo ficou marcada pelo incidente entre Max Verstappen, atual líder do campeonato de pilotos, e Lewis Hamilton, atual campeão em título.

A luta entre os dois tem sido aguerrida e travada em quase todas as provas do mundial deste ano — o primeiro, em muitos anos, em que o domínio da Mercedes é desafiado pela Red Bull — pelo que muitos antecipavam um eventual choque entre os dois mais cedo ou mais tarde.

A colisão aconteceu na primeira volta da corrida, à saída da curva Copse, quando Lewis Hamilton, ao ataque, entra na linha de trajetória de Max Verstappen, com a asa frontal do monologar do britânico a embater no pneu traseiro direito do holandês, que acabaria por ser projetado com grande violência contra as barreiras — um embate que terá acontecido a 290 km/h e 51 G’s (51 vezes a força da gravidade).

O piloto acabaria por sair do carro pelo próprio pé, tendo sido observado pela equipa médica do circuito.

A corrida seria suspensa para que os comissários de pista conseguissem retirar o carro de Verstappen e restaurar a barreira de pneus. Ainda assim, a interrupção terá também sido essencial para que a Mercedes conseguisse intervencionar o carro de Hamilton, o que lhe terá permitido, afirmou fonte da equipa após o fim da corrida, terminar a prova.

Imediatamente a seguir ao acidente, e antes de a direção da corrida ter determinado a sua suspensão, Charles Leclerc, da Ferrari, aproveitou os danos de Hamilton para se colocar na liderança da prova (tendo também ultrapassado Valtteri Bottas).

Leclerc liderou a corrida até à volta 49 de 52, quando Hamilton, depois de ter cumprido uma penalização de 10 segundos atribuída pelos comissários, o conseguiu finalmente alcançar — e ultrapassar — depois de uma perseguição desenfreada, bem ao estilo hammer time, a que o britânico já habituou o público da Fórmula 1.

Após a ultrapassagem, Leclerc conseguiu segurar o segundo lugar, apesar das sucessivas falhas de motor que o monegasco teve de suportar durante a prova.

Luta trava-se também fora de pista

Numa prova de que a liderança pelos dois títulos (pilotos e construtores) está ao rubro, o período entre o acidente de Max Verstappen e Lewis Hamilton ficou marcado pelos inúmeras mensagens de rádio trocadas entre as equipas e a direcção de corrida, as quais foram sempre incorporadas na transmissão televisiva da prova — uma novidade introduzida esta época.

De ambos os lados surgiam justificações para o comportamento dos seus pilotos, enquanto que a Red Bull suspirava por uma grande punição para Lewis Hamilton.

Após a corrida, a troca de palavras continuou. Christian Horner, chefe da equipa austríaca, começou por realçar o facto de o seu piloto estar fisicamente bem, apesar do acidente com contornos em que este aconteceu.

“O Hamilton nunca esteve, em momento algum, ao lado de Verstappen. Foi um acidente grave e aquela curva era 100% do Max. Na minha opinião, a culpa é toda de Hamilton, que nunca deveria ter ficado naquela posição”, declarou. Horner concluiu as suas declarações à imprensa com um provocador “espero que o Lewis esteja satisfeito com ele próprio”.

Toto Wolff, chefe de equipa da Mercedes, começou por dizer que “são precisos dois para dançar o tango”. “Aqueles dois não vão dar um centímetro. Nós temos visto ao longo das grandes rivalidades da história. O mais importante é que o Max está bem”.

Aquando destas declarações, a Red Bull já revelara nas suas redes sociais que o piloto dos Países Baixos tinha sido transferido para uma unidade hospitalar próxima de Silverstone para realizar exames médicos suplementares.

Horas mais tarde, quando teve alta, Max recorreu às redes sociais para se expressar, pela primeira vez, sobre o acidente. “Muito desiludido por ter sido retirado da corrida daquela maneira. A penalização atribuída não nos ajuda nem faz justiça à perigosidade da manobra que o Lewis fez em pista. Assistir às celebrações enquanto ainda estava no hospital foi um comportamento desrespeitoso e antidesportivo.”

Antes dos comentários do piloto da Red Bull, Lewis Hamilton afirmou na tradicional conferência de imprensa pós-corrida que não tinha intenções de se desculpar perante Max por entender que não tinha motivos para o fazer. “Eu ainda não vi a transmissão, vi um excerto quando voltamos à garagem, mas vou voltar a ver e refletir sobre o assunto.”

O britânico defendeu que a colisão deveria ser tratada como “incidente de corrida”, o que, na opinião do próprio, raramente pode ser atribuída na totalidade a um piloto. Mesmo assim, o sete vezes campeão do mundo promete esforçar-se por restaurar o “respeito” na luta que está a travar com Verstappen.

Redes sociais incendiadas com comentários racistas

Enquanto os carros ainda rodavam pela pista sinuosa de Silverstone, as redes sociais já se enchiam de comentários dos fãs que debatiam quem era o real culpado pela colisão de Hamilton e Verstappen, discussão que só foi ultrapassada quando os comissários de corrida anunciaram a penalização de 10 segundos para o piloto britânico — injusta, dizem uns, insuficiente, diz a maioria.

Os comentários e o seu nível de agressividade foram subindo, em grande parte devido às palavras escolhidas pelos membros da equipa Red Bull durante e após a corrida, mas também pela reação de Max Vertsappen.

Poucos minutos após os seus comentários, publicados nas contas oficiais do Twitter e Instagram, as redes sociais de Lewis Hamilton foram alvo de comentários insultuosos de cariz racista, o que motivou, já na manhã desta segunda-feira, uma reação oficial e conjunta da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), a Fórmula 1 e da equipa Mercedes-AMG em que as três entidades lamentam e condenam o ocorrido “da forma mais veemente possível”.

“Estas pessoas não têm lugar no nosso desporto e nós apelamos para os responsáveis por estes atos possam ser responsabilizado. A Fórmula 1, a FIA, os pilotos e as equipas estão a trabalhar para construir uma modalidade mais diversa e inclusiva, pelo que expressões tão fortes de abuso online devem ser destacas e eliminadas”, pode ler-se no comunicado.

A própria Red Bull também já emitiu um comunicado em que esclarece que apesar “grande rivalidade” que existe em pista, as equipas estão “unidas” contra o racismo, pelo que também “condenam” qualquer tipo de insultos racistas endereçados à sua equipa, aos adversários e aos fãs. Finalmente, a equipa mostrou-se “enojada e triste” pelos comentários ofensivos endereçados a Lewis Hamilton.

De resto, é importante lembrar que o piloto da Mercedes tem sido uma figura central da modalidade também na luta contra o racismo, sendo o principal impulsionador do momento We Race as One, em que os atletas são convidados, antes do início do cada corrida, a ajoelhar-se — num gesto que se tornou um símbolo da luta contra o racismo desde a morte de George Floyd.

Pelo que se pode observar desde o início da época, os pilotos dividem-se em relação à atitude a adoptar. Max Verstappen é um dos que escolhe não o fazer.

Como ficam as classificações?

Feitas as contas, depois um fim-de-semana com lutas tão aguerridas em pista, e fora dela, pouco ou nada muda nos primeiros lugares das tabelas. No que diz respeito ao campeonato de pilotos, Max Verstappen continua a liderar, apesar de ter visto a sua vantagem reduzida para oito pontos.

Ao terceiro lugar ascende Lando Noris, da McLaren, que com o quarto lugar conquistado continua o seu registo impressionante como único piloto a pontuar em todas as corridas da época e estabelecendo um novo recorde dentro da equipa de Woking, já que é o primeiro piloto a pontuar em 15 corridas consecutivas.

Valtteri Bottas, com o seu terceiro pódio nas últimas três corridas, sobe a quarto e beneficia do péssimo fim-de-semana de Sérgio Perez. O piloto mexicano despistou-se, sozinho, na corrida sprint de sábado, pelo que, segundo as regras, deveria partir de último na grelha de partida do grande prémio. No entanto, alterações no seu monologar obrigariam-no a sair para a corrida de domingo do pitlane.

Após a situação de bandeira vermelha, Pérez conseguiu ganhar alguns lugares, rodando, muitas vezes, em lugares pontuáveis, contundo, uma estratégia algo confusa por parte da Red Bull fê-lo parar demasiado cedo (Checo foi o único a iniciar a corrida com os compostos mais duros) e de forma inesperada antes do fim da corrida, de forma roubar o ponto da volta mais rápida a Lewis Hamilton — um roubo não consumado já que Pérez terminou em 16º.

No que concerne ao mundial de construtores, a Mercedes também reduziu a margem que a separava da Red Bull, face ao resultado francamente satisfatório dos seus pilotos (primeiro e terceiros lugares) contra a desistência e o 16º lugar de Max e Checo, respetivamente.

Corridas sprint: formato é suficiente para agarrar o público Drive to Survive?

O fim-de-semana em Silverstone foi histórico por mais motivos. Depois do regresso do público às bancadas do Red Bull Ring, no Grande Prémio da Áustria, foi a vez dos adeptos britânicos testemunharem o regresso a casa da Fórmula 1, com a organização a estimar a presença de 140 mil adeptos só no domingo.

Ainda assim, a grande novidade do fim-de-semana foi a estreia do novo formato que a Liberty, entidade proprietária da F1, pretende implementar, tendo em vista um novo público, o chamado público Drive to Survive — em alusão à série da Netflix.

No novo conceito, a tradicional classificação acontece à sexta-feira ao fim da tarde e determina a grelha de partida para a corrida sprint — ou uma qualificação sprint, no vocabulário da organização — que tem lugar no sábado e que define a grelha para a grande, e decisiva, corrida de domingo.

Na primeira experiência, Fernando Alonso foi o grande vencedor, já que conseguiu, a certa altura, ganhar seis lugares face à qualificação do dia anterior — acabou em 7º, depois de na sexta-feira se ter qualificado em 11º.

No geral, a reação de pilotos e adeptos foi positiva, com os representantes da Fórmula 1 a confirmarem que o mesmo modelo vai ser implementado em Monza, ainda este ano, e em mais dois grandes prémios, apesar de não avançar com mais informações sobre datas ou circuitos — numa altura em que ainda reinam as incertezas em torno do calendário para o resto da temporada face às condicionantes motivadas pela covid-19.

A Fórmula 1 regressa no fim de semana de 30 de Julho a 1 de Agosto, data marcada para o Grande Prémio da Hungria, última prova antes da pausa de verão.

ARM, ZAP //

1 Comment

  1. Como ninguém ficou ferido, ficou o picante do episódio, felizmente Silverstone é dos mais seguros circuitos do calendário. O holandês não tinha condições, faltava-lhe pista, para consumar uma ultrapassagem limpa a Lewis, para o fazer precisava que o britânico se “cortasse”, travando e não o fez, atirando com a habitual “agressividade” do Verst para os pneus. Verst não é um piloto agressivo, é perigoso, acha que os tem no sítio como nenhum outro e abusa. Verst é o piloto que mais colisões provoca, já aconteceu com Hamilton esta temporada e o britânico engoliu. Claro que foi um incidente de corrida, a penalização a Lewis deve entender-se como “politicamente” correcta, se os dois tivessem saído de pista, imagino qual seria a decisão dos comissários, ambos os pilotos foram responsáveis, é verdade, “são precisos dois para dançar”. As manifestações de racismo pelas redes sociais, apenas fazem que dê razão à China; são porcaria e devem ser interditadas

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