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Formas de vida antigas despertaram após 40.000 anos congeladas no permafrost

Brocken Inaglory / Wikimedia

Cientistas encontraram formas de vida antigas que se conseguiram manter intactas após estarem congeladas durante 40 mil anos no permafrost.

Os seres vivos são mais resistentes do que aquilo que pensamos. Vários estudos realizados nos polos — cada vez mais quentes — revelaram diversos organismos que nunca imaginávamos terem sobrevivido centenas e milhares de anos de congelamento.

Do permafrost e das calotas polares a derreter, investigadores recolheram não apenas bactérias e plantas congeladas há centenas de anos, mas até um verme nemátodo vivo mesmo após 40 mil anos debaixo do gelo.

Em 2009, uma equipa de biólogos liderada por Catherine La Farge, da Universidade de Alberta, visitou a ilha canadiana de Ellesmere para documentar a vegetação que se formou há centenas de anos atrás na região e foi congelada durante a Pequena Idade do Gelo, que terminou em 1850.

Os cientistas ficaram surpreendidos ao encontrarem um tufo de musgo da espécie Aulacomnium turgidum com uma certa tonalidade verdejante — um sinal possível de vida. “Não é de presumir que algo enterrado por centenas de anos seria viável. O material sempre foi considerado morto. Mas, ao ver tecido verde, pensei: ‘Bem, isto é incomum‘”, disse La Farge ao Science Alert.

A equipa analisou várias amostras do musgo em laboratório, cultivando-o em solos ricos em nutrientes. Quase um terço das plantas deu novos rebentos e folhas. “Ficamos muito impressionados. O musgo mostrou poucos efeitos nocivos do congelamento centenário”, explicou a bióloga.

O ecologista Peter Convey fez uma descoberta ainda mais antiga: a sua equipa conseguiu recuperar um musgo de 1.500 anos enterrado no permafrost antártico. “O ambiente do permafrost é muito estável”, esclareceu Convey.

P. Boelen / BAS

Uma amostra do musgo encontrado pelos cientistas.

O solo permanentemente congelado pode isolar o musgo de fatores de desgaste e erosão da superfície, como ciclos anuais de congelamento e descongelamento ou radiação prejudicial ao ADN. Desta forma, uma planta sobreviver mais de um milénio não é assim tão impossível quanto isso.

Contudo, a descoberta da equipa de cientistas liderada pela microbióloga Tatiana Vishnivetskaya, da Universidade do Tennessee, fez uma descoberta inacreditável.

Encontrar organismos unicelulares que sobreviveram várias eras de gelo no permafrost siberiano, por exemplo, é algo normal para a cientista. Vishnivetskaya já conseguiu trazer bactérias de milhões de anos de volta à vida numa placa de Petri.

Já um ser vivo com sistema nervoso é outra história — uma que pode obrigar cientistas a repensar o conceito de sobrevivência e perseverança. No ano passado, a equipa de Vishnivetskaya encontrou vermes segmentados completos: nemátodos.

Ser vivo mais antigo já descoberto

Os investigadores estimaram que um dos vermes tinha pelo menos 41 mil anos de idade, o que faz dele o ser vivo mais antigo já alguma vez descoberto. Para colocar isto em perspetiva, basta pensar que este verme deslocou-se na mesma terra dos Neandertais para acordar milénios depois num laboratório de alta tecnologia.

“É claro que ficamos surpreendidos e muito animados”, disse Vishnivetskaya. Com meio milímetro de comprimento, os nemátodos que voltaram à vida são as criaturas mais complexas já “ressuscitadas” depois de um logo período de congelamento.

De acordo com Gaetan Borgonie, especialista belga em nematoides, estes animais são omnipresentes em diversos habitats terrestres. Borgonie já descobriu comunidades destes vermes quilómetros abaixo da superfície do planetas em minas sul-africanas com pouco oxigénio e calor insuportável.

Os nemátodos podem entrar num estado de animação suspensa no qual ficam envoltos numa camada protetora. Vishnivetskaya não tem a certeza se os vermes que a sua equipa recolheu do permafrost passaram o tempo todo neste estado, mas acredita que eles poderiam teoricamente sobreviver indefinidamente se fossem congelados de forma estável. “Eles podem durar vários anos se as suas células permanecerem intactas”, disse.

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