A antiga advogada de Direitos Humanos e vice-Presidente das Filipinas, Leni Robredo, vai prosseguir com o combate às drogas ilegais do Presidente filipino, alvo de várias críticas por parte de Organizações Não Governamentais.
A vice-Presidente das Filipinas, Leni Robredo, aceitou esta quarta-feira a oferta do Presidente Rodrigo Duterte para desempenhar um papel de liderança na luta contra as drogas no país.
Leni Robredo, antiga advogada de Direitos Humanos, disse que, ao concordar com esta oferta incomum, poderia salvar vidas dentro desta operação de repressão contra as drogas, que já deixou milhares de mortos em alegados confrontos com a polícia, situação que alarmou os governos e os grupos de Direitos Humanos ocidentais.
“Muitos manifestaram a preocupação de que esta oferta não é sincera, de que é uma armadilha que só visa minar-me e envergonhar-me”, disse Robredo numa conferência de imprensa. “Embora se possa dizer que essa oferta é apenas politiquice e que as agências (de combate à droga) não me seguirão e farão tudo para que eu não tenha sucesso, estou pronta para suportar tudo isso”, acrescentou.
“Se eu puder salvar uma vida inocente, os meus princípios e o meu coração dizem-me que eu devo tentar“, disse a vice-Presidente.
O secretário de Comunicações, Martin Andanar, elogiou a decisão de Robredo. “Acreditamos que os críticos mais barulhentos devem agir, deve ir além de meros observadores, contribuir ativamente para a mudança”, afirmou Andanar.
O diretor regional da Amnistia Internacional para o leste e sudeste da Ásia, Nicholas Bequelin, defendeu por seu lado que Robredo “deverá ter o poder de interromper os assassínios diários e alterar a estrutura mortal de comando, caso contrário, esta mudança será um gesto vazio“. “A sua nomeação não muda o facto de que a ‘guerra às drogas’ do governo Duterte equivale a crimes contra a Humanidade”, disse Bequelin.
Perante as constantes críticas de Robredo à sua campanha contra as drogas, Duterte indicou-a como uma das duas líderes de um comité interinstitucional que inclui a polícia e os militares e tem a tarefa de supervisionar e coordenar os esforços do Governo no combate às drogas ilegais.
É a última reviravolta na repressão em massa sem precedentes que Duterte lançou depois de assumir o cargo, em meados de 2016.
Mais de 6.300 suspeitos de envolvimento com drogas foram mortos após resistirem à prisão e cerca de 1,3 milhões de pessoas foram presas, disseram as autoridades. Grupos de Direitos Humanos citam um número maior de mortos e acusam alguns polícias de matar suspeitos desarmados com base em evidências frágeis e alterar cenas de crime para fazer parecer que os suspeitos reagiram violentamente.
Pelo menos duas queixas por assassínio em massa foram apresentadas ao Tribunal Penal Internacional (TPI) devido às mortes em larga escala, mas Duterte prometeu continuar com a sangrenta campanha até ao último dia de sua Presidência, em junho de 2022.
Duterte e a polícia negaram os assassínios extrajudiciais. Presidentes e vice-Presidentes são eleitos separadamente nas Filipinas, resultando por vezes em candidatos de partidos rivais como Duterte e Robredo, que acabaram na liderança do país e frequentemente estão em lados opostos em relação às políticas que devem ser implementadas nas Filipinas.
A vice-Presidente é uma respeitada ex-advogada de direitos humanos e recém-chegada à política, enquanto Duterte é um ex-autarca de longa data (de Davao), cuja imagem de ‘combatente do crime’ o ajudou a vencer a corrida presidencial de 2016 num país há muito tocado pela violência generalizada.
Robredo deu o alarme e questionou os assassínios desta campanha de repressão às drogas e outras ações de Duterte, incluindo o eventual retorno da pena de morte e a decisão do Presidente de permitir o enterro do ditador Ferdinand Marcos num cemitério de heróis em 2016.
ZAP // Lusa