Agora que os migrantes que peçam proteção humanitária não ficam retidos no aeroporto, Lisboa está a ser usada como porta de entrada para o resto da Europa por redes de tráfico e imigração ilegal.
Desde julho de 2020, qualquer migrante que peça proteção humanitária no aeroporto de Lisboa já não fica retido no Centro de Instalação Temporária (CIT) à espera da decisão. Em vez disso, entra automaticamente no país e aguarda o veredicto sobre a admissibilidade do pedido de asilo num hostel ou pensão.
A mudança foi feita na sequência do homicídio de Ihor Homeniuk. A morte do imigrante ucraniano à guarda do SEF motivou uma crise política, a que se seguiu uma reestruturação deste serviço.
Em poucos dias, os migrantes indianos desaparecem. O objetivo não é ficar no país, mas entrar na Europa, sublinha o Expresso. “É uma via verde em Lisboa. Antes os requerentes ficavam até 60 dias no CIT, não havia entrada imediata”, refere uma fonte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) ouvida pelo semanário.
No último sábado, 33 cidadãos da Índia pediram asilo a Portugal. O voo do Dubai via Moscovo tinha como destino final Cancún, no México, mas alguns já tinham advogados constituídos na capital portuguesa. A situação fez soar os alarmes no SEF.
Os indianos em causa já teriam a intenção prévia de o fazer, suspeitam os inspetores do SEF. O objetivo era viajar até ao México e, a partir de lá, atravessar a fronteira até aos Estados Unidos. Na eventualidade de não conseguirem viajar para o México, entravam com um pedido de asilo em Lisboa, onde fizeram escala.
Depois de o grupo ter quebrado a quarentena obrigatória devido à covid-19, foi colocado um agente da PSP à entrada da pensão onde estão alojados. Os indianos terão pago cerca de 15 mil euros cada para completar a rota Índia-Moscovo-Lisboa-Cancún-EUA.
“As redes criminosas de tráfico de migrantes estão a aproveitar-se da reformulação do CIT feita pelo MAI para entrarem em Lisboa, havendo já movimentos gravíssimos ao nível das áreas internacionais dos aeroportos”, diz o presidente do sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SCIF/SEF), Acácio Pereira.
Fonte do SEF avisa que, “nos próximos meses, com a reabertura gradual dos voos comerciais, os pedidos de asilo irão disparar”.