“Tentámos tudo”, “vergonha” e “manobra à Sócrates”. Partidos reagem à queda do Governo

José Sena Goulão / Lusa

Montenegro a falar aos jornalistas após a queda do Governo

As trocas de culpas continuaram quando os líderes partidários falaram aos jornalistas após o chumbo à moção de confiança do Governo.

Na reação ao chumbo da moção de confiança e à queda do Governo, o primeiro-ministro acusou hoje o PS de intransigência e defendeu que o Governo “tentou tudo até à última hora” para conciliar o pedido de comissão de inquérito dos socialistas e a continuação do executivo em funções.

Luís Montenegro salientou que a proposta final do Governo apontava o final de maio como prazo limite para as conclusões do inquérito, “quase 80 dias”, e a retirada da moção de confiança, contra os 90 dias propostos pelo PS, mas com uma comissão ainda sem data para arrancar e cujo prazo poderia ser prolongado.

“O PS manteve-se intransigente na sua proposta de ter uma comissão de inquérito prolongada no tempo, com isso querendo que a degradação política e todo o impasse gerado à volta da contaminação do trabalho governativo pudesse ser o mais longo possível”, acusou.

Montenegro foi questionado, por várias vezes, por que deixou para hoje essa tentativa de diálogo com o PS, tendo acabado por responder que “era este o momento onde todos tinham a oportunidade de assumir a sua responsabilidade”.

“Nós tentámos, a todo o custo, até à última hora, evitar a criação de eleições antecipadas no horizonte dos portugueses e da vida do país. O PS quer que a situação de impasse e suspeição se prolongue”, defendeu.

“Uma vergonha”

Já o líder do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, teve uma opinião muito diferente. “O que aconteceu hoje foi uma vergonha”, considerou, lembrando que “o que estava em discussão era uma moção de confiança e não uma CPI”.

Pedro Nuno Santos acusa ainda o Governo de tentar usar a moção de confiança como moeda de troca para condicionar o apuramento da verdade e lembra a proposta inicial de “arranjinho” entre PS e PSD para consultar documentos à porta fechada.

“Nós propusemos um prazo abaixo do que é normal“, apontou o socialista, que frisa que a comissão pode ser prolongada à medida que surgem novas questões na investigação e que o Governo não pode determinar um prazo para a conclusão. “Isto só se faz quando se quer fugir à verdade. A verdade não tem tempo”, acusou.

“É indecoroso, é inaceitável e só pode ter da nossa parte um não. Não foi bonito aquilo a que se assistiu aqui”, repetiu o secretário-geral do PS.

“Jogo do empurra” e “lengalenga bonita”

Do lado do Livre, Rui Tavares recusou “fazer o obituário do que se passou esta tarde, os portugueses viram”. “Esta conversa do Governo de que ninguém percebe como se chegou a eleições tem de acabar e tem de acabar já. É uma lengalenga muito bonita, mas não vamos fazer das pessoas tontas”, aponta, lembrando que “não é verdade” que o executivo tenha feito tudo para evitar eleições, porque Montenegro poderia ter resolvido anteriormente o conflito levantado pela sua empresa familiar.

O secretário-geral comunista lamentou também o “autêntico jogo do empurra” e a uma “tentativa de passar responsabilidades de uns para outros” a que se assistiu no Parlamento. “Não precisamos de truques nem de manobras, precisamos é de respostas para as pessoas”, afirma Paulo Raimundo.

“O primeiro-ministro não pode receber avenças através de uma empresa que é sua enquanto é primeiro-ministro. E a empresa Spinumviva era do primeiro-ministro porque o negócio de venda da sua participação não é juridicamente válido”, refere Mariana Mortágua. A líder bloquista diz que Montenegro “não pode esconder informações” e “não pode continuar a ser primeiro-ministro”.

André Ventura acredita que a proposta Governo de redução do prazo da CPI mostra que “tem alguma coisa a esconder”. “O que aconteceu hoje no parlamento foi uma manobra que José Sócrates acharia graça, acharia bem e que certamente faria, mas teve uma vantagem. A vantagem é que ficou aos olhos do país todo que Montenegro tem alguma coisa a esconder”, considera o líder do Chega.

A deputada única do PAN, Inês Sousa Real, também considerou “lamentável que o primeiro-ministro tenha arrastado o país para esta crise política” e lamentou que, durante o debate de hoje, “os maiores partidos” não tenham sido “capazes de dialogar” e o Governo não tenha retirado a moção de confiança

Marcelo recebe partidos amanhã

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou os partidos para audições no Palácio de Belém na quarta-feira, e o Conselho de Estado para o dia seguinte, na sequência da queda do Governo PSD/CDS-PP.

De acordo com uma nota publicada na página oficial da Presidência da República, na sequência da rejeição da moção de confiança ao Governo liderado por Luís Montenegro, e a sua consequente demissão, “o Presidente da República decidiu convocar os partidos políticos com representação parlamentar” para audições na quarta-feira.

Assim, o PSD será recebido às 11 horas, o PS às 12h, o Chega às 13h, a Iniciativa Liberal às 14h, o Bloco de Esquerda às 15h, o PCP às 16h, o Livre às 17h, o CDS às 18h e o PAN às 19h.

Marcelo Rebelo de Sousa convocou ainda uma reunião do Conselho de Estado para as 15:00 de quinta-feira, acrescenta a nota.

ZAP // Lusa

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