Vénus tem mais atividade vulcânica do que se pensava — escondida em dados de 1990

 

Uma equipa de astrónomos detetou dois fluxos de lava na superfície de Vénus, onde as temperaturas ultrapassam os 800 graus centígrados.

A investigação, publicada esta semana na Nature Astronomy, utilizou antigas imagens de radar, obtidas pela nave espacial Magellan da NASA em 1990 e 1992, que, apesar da sua idade, continuam a ser as imagens mais detalhadas da superfície de Vénus.

Segundo o The New York Times, uma análise de dados de radar da sonda Magellan revela que no início da década de 1990, mais de 25 anos antes da descoberta, em 2023, do primeiro vulcão em Vénus, dois outros vulcões tinham entrado em erupção no planeta irmão da Terra.

Os autores do estudo encontraram um fluxo de lava perto de Sif Mons, um vulcão em escudo — tipo de vulcão habitualmente constituído quase inteiramente por fluxos de lava fluidos — que se estende por quase 320 quilómetros de largura e tem mais de um quilómetro de altura.

Um outro fluxo de lava foi encontrado na Niobe Planitia, uma região marcada por vestígios de atividade vulcânica.

“Usando estes mapas como guia, os nossos resultados mostram que Vénus pode ser muito mais ativo do ponto de vista vulcânico do que se pensava”, diz o primeiro autor do estudo, Davide Sulcanese, em comunicado da NASA.

“Ao analisar o fluxo da lava observados em duas localizações do planeta, descobrimos que a atividade vulcânica em Vénus pode ser comparável à da Terra”, acrescenta Sulcanese.

Em 2023 a Magellan captou imagens que revelaram alterações numa abertura associada ao vulcão Maat Mons, perto do equador de Vénus. Estas imagens de radar são consideradas a primeira prova de que houve uma erupção recente no planeta.

O estudo destes vulcões ativos é importante para compreender como o interior do planeta molda a crosta, afetando a sua habitabilidade.

Assim, os dados recentes desta atividade vulcânica permitem aos investigadores compreender melhor a história do planeta e a razão pelo qual este seguiu um caminho diferente da Terra.

Os astrónomos centram-se em dados arquivados que tinham da Magellan. Na altura, a sonda da NASA enviou ondas de rádio que atravessaram a cobertura de nuvens do planeta e fizeram ricochete na superfície, sendo depois recolhidas novamente pelo radar.

As mudanças observadas sugerem haver formação de rochas a partir da lava, mas também a presença de micro-dunas que foram formadas a partir de areia moldada pelo vento.

Ao utilizar a comparação dos rios de lava com os da Terra, os investigadores estimaram que nas duas localizações há novas rochas com tamanhos entre os 3 e 20 metros de profundidade.

Os autores do estudo estimam que a erupção do Sif Mons tenha produzido lava suficiente para criar 30 km2 de rocha, e que a erupção em Niobe Planitia, por sua vez, terá produzido cerca de 45 km2.

Recentemente, uma equipa de astrónomos da NASA anunciou a descoberta de um planeta parecido com a Terra com um “hemisfério de lava”.

Soraia Ferreira, ZAP //

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