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A Venezuela de Guaidó e a Venezuela de Maduro saíram às ruas este sábado

Jeffrey Arguedas / EPA

A oposição voltou a sair à rua e a fazer peito em Caracas, mas o chavismo não se deixou ficar. Os dois países em que a Venezuela se transformou encheram as ruas este sábado.

A Venezuela está dividida em dois. A primeira metade juntou-se este sábado nas ruas para assinalar os 20 anos da chegada de Hugo Chávez ao poder e a jurar outros tantos para o seu sucessor, Nicolás Maduro. A outra metade, a opositora, também se juntou mas para respaldar o autoproclamado Presidente Juan Guaidó.

Os grandes ausentes deste 2 de fevereiro foram os militares, mas também aqueles que ambas as Venezuelas mais chamaram, cada uma pela voz dos seus líderes.

Juan Guaidó anunciou a criação de três centros de recolha e envio de ajuda humanitária em três pontos distintos: em Cúcuta, cidade colombiana por onde passa parte dos migrantes venezuelanos; Brasil e numa ilha do Caribe. Neste assunto, Guaidó falou nos militares, uma vez que a ajuda humanitária terá de penetrar as fronteiras venezuelas.

“Você, soldado, capitão, tenente, coronel, capitão de navio, terá nas suas mãos a decisão de deixar entrar e manter a salvo essa ajuda humanitária“, afirmou Guaidó.

Este apelo surgiu em simultâneo com o anúncio dos Estados Unidos, que adiantaram este sábado já terem enviado pacotes de ajuda humanitária com destino final na Venezuela, tudo parte de um esforço de 20 milhões de dólares (17,4 milhões de euros).

Segundo o Observador, Juan Guaidó falava em Las Mercedes, o bairro no Este de Caracas. Do outro lado de Caracas, a Oeste, na Avenida Simón Bolívar, Nicolás Maduro assumia o comando.

No seu discurso, Nicolás Maduro apontou o dedo à oposição, afirmando que Juan Guaidó “vendeu o país por 20 milhões de dólares” e rejeitando qualquer ajuda humanitária.

“Nunca fomos nem seremos um país de mendigos. Digo-o com firmeza. Somos um país de dignidade, de honra, de orgulho nacional. Somos um país de gente com a cara levantada”, afirmou o Presidente.

A lealdade dos militares é o tema-chave na Venezuela, uma vez que o lado para onde penderem as forças de segurança estará mais perto de ser o vitorioso. Para já, é do lado de Maduro que os militares estão em peso.

A verdade é que homens e mulheres de farda demonstraram-se, até agora, leais ao chavismo. No entanto, houve uma exceção este sábado.

À medida que os manifestantes davam os primeiros passos nas ruas, o general de divisão da Força Aérea Francisco Estéban Yánez Rodríguez declarou que desconhecia a autoridade de Nicolás Maduro e reconheceu da sua parte Juan Guaidó como chefe de Estado.

“A transição para a democracia está iminente. Continuar a pedir às Forças Armadas que reprimam o nosso povo é continuar com as mortes por fome e doença. Aos meus companheiros de armas peço que não virem as costas ao povo da Venezuela. Não reprimam mais”, disse.

Segundo o diário, foi neste sentido que os membros da Polícia Nacional Bolivariana na cidade de Barquisimeto, em Lara, reagiram, quando se viram em frente aos manifestantes que defendiam Guaidó.

De acordo com um relato produzido em vários meios de comunicação, mas do qual não há registos, um polícia, presumivelmente num cargo de liderança, disse aos manifestantes: “Prefiro retirar os meus homens a reprimir o povo“.

A polícia arredou o pé, deixando os manifestantes anti-Maduro passar, o que levou a que alguns chegassem até a trocar abraços – um cenário muito com comum na Venezuela, pelo menos até este sábado.

O caso foi assinalado por Guaidó no seu discurso. “Provavelmente, esse funcionário terá hoje consequências, pelo que merece um grande reconhecimento da nossa gente. Você é um soldado digno, você é um polícia digno, que está do lado do seu povo, do sofrimento do nosso povo”, afirmou.

“Não tenha dúvidas de que esse gesto será repetido por muitos funcionários e muitos militares, muito em breve. Não só para que entre a ajuda [humanitária] mas para que acabe a usurpação de uma vez por todas e para dar valor à nossa Constituição”, continuou Guaidó.

Do outro lado, Maduro referia que tinha diante de si uma “Venezuela invisível“, feita de um “povo que luta há 20 anos” e que a “televisão mundial não mostra”.

Além de afirmar que os militares estavam do seu lado e de salientar a “união cívico-militar”, Nicolás Maduro mostrou-se novamente disponível para convocar eleições parlamentares antecipadas em 2019 e afirmou que este ano será “o ano definitivo da recuperação económica da prosperidade e da solução dos problemas dos venezuelanos”:

Para isso, salientou, bastava assegurar a união do povo com as forças armadas. Maduro convocou inclusivamente um exercício “cívico-militar” para dia 15 de fevereiro, que prevê ser “o maior dos 200 anos da República Bolivariana da Venezuela”. “Os venezuelanos são pacifistas mas também são guerreiros. Somos guerreiros da paz”, afirmou.

Além de terem marcado presença em dois lados opostos de Caracas, Guaidó e Maduro estiveram também em dois lados irreconciliáveis de um único país. Apesar das diferenças, cada líder pediu o mesmo: um juramento de braço erguido aos seus fiéis.

Juan Guaidó jurou e fez os seus apoiantes jurar que todos se iriam “manter nas ruas até conseguir o fim da usurpação e o Governo de transição e as eleições livres”. Já Nicolás Maduro jurou e fez jurar “manter a união cívico-militar” e a derrota do “intervencionismo imperialista”, sem que fosse dado qualquer “descanso aos nossos braços nem à nossa alma”.

Falta agora saber qual dos dois juramentos estão os militares dispostos a fazer.

ZAP //

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