O Grande Nada: um misterioso buraco no Universo

Pablo Carlos Budassi

Ilustração do Vazio de Boötes

Se a Via Láctea estivesse no seu centro, não teríamos sabido da existência de outras galáxias até, pelo menos, à década de 1960. O Vazio de Boötes é um dos inúmeros mistérios que o Universo continua a esconder de nós.

A 700 milhões de anos-luz de nós, um enigmático deserto cósmico tem desafiado a nossa compreensão do universo com a sua impressionante vacuidade.

O Vazio de Boötes, frequentemente conhecido como o Grande Vazio, tem impressionantes dimensões que variam de 250 a 330 milhões de anos-luz, mas contém muito menos galáxias do que o esperado, sendo um dos maiores vazios conhecidos no Universo.

Descoberto em 1981 pelo astrónomo Robert Kirshner e a sua equipa, representa aproximadamente 2% do diâmetro de todo o universo observável. Inicialmente, os cientistas afirmaram que a área parecia “quase desprovida de galáxias,” uma observação que tem vindo a ser validada ao longo dos anos.

Apesar de uma área de tamanho comparável deveria idealmente conter perto de 2000 galáxias — se o Universo fosse uniformemente povoado — foi confirmada e apenas cerca de 60 galáxias dentro deste enorme vazio desde 1997.

Embora o Vazio de Boötes não contradiga necessariamente as teorias existentes afetas à formação de galáxias, continua a ser uma área enigmática de estudo.

Como é que se formou um vazio tão grande?

Uma teoria predominante sugere que o vazio pode ter-se formado a partir da fusão de vazios mais pequenos.

Algumas teorias propõem que o Vazio de Boötes pode ser o resultado de flutuações quânticas no início do Universo; outras sugerem que pode ser uma “bolha” onde a expansão do universo está a ocorrer a um ritmo mais rápido.

Garantidamente, a sua própria existência suscita questões provocadoras, especialmente no que diz respeito ao nosso lugar no Universo.

“Se a Via Láctea estivesse no centro do Vazio de Boötes, não teríamos sabido da existência de outras galáxias até, pelo menos, à década de 1960”, afirma o astrónomo Greg Aldering, segundo o IFL Science.

De facto, o Vazio de Boötes serve como um testemunho convincente dos inúmeros mistérios que o Universo continua a esconder de nós.

Barnard 68: um vazio impostor

Contrariamente a equívocos populares que se espalham na Internet relativamente a outros “vazios” — fama que a nebulosa escura Barnard 68 conquistou erradamente — o Vazio de Boötes é um verdadeiro vazio com muito menos galáxias do que se esperaria.

Um mito popular da Internet sugere que, se viajássemos através de Barnard 68, não encontraríamos nada durante 752.536.988 anos.

No entanto, a nebulosa, localizada a apenas 400 anos-luz de distância, está longe de ser um vazio.

Capturado em março de 1999 pelo Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul (ESO), está na verdade repleta de estrelas obscurecidas por uma nuvem molecular. O ESO esclareceu que a nuvem aparece opaca em certos comprimentos de onda devido a partículas de poeira presentes no seu interior, que mascaram a presença de estrelas que se tornam visíveis no espectro infravermelho.

Barnard 68

Barnard 68, vista sob infravermelhos, é repleta de estrelas

Tais equívocos levaram alguns a fazer afirmações imprecisas sobre a natureza dos vazios no espaço. Vazios não são simplesmente áreas que são invisíveis ou difíceis de observar; são extensões que estão relativamente desprovidas de corpos celestes, e o Vazio de Boötes é um exemplo espetacular de tal fenómeno.

Tomás Guimarães, ZAP //

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