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Vara olha com “dor” para o Vale do Lobo (e queixa-se do martírio e da infoexclusão na prisão)

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Tiago Petinga / Lusa

O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos Armando Vara disse esta sexta-feira no parlamento que não vai prestar declarações sobre o financiamento ao empreendimento de Vale do Lobo, por fazer parte de um processo em fase de instrução na Operação Marquês.

“Não irei responder a perguntas relacionadas sobre o financiamento a Vale do Lobo”, afirmou Armando Vara na sua intervenção inicial na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD.

“Entendo que para salvaguarda dos meus direitos de defesa, e também de dever, não devo, por ora, me pronunciar sobre o processo Vale do Lobo”, acrescentou.

Vara, que está atualmente a cumprir pena de prisão por tráfico de influência, no âmbito do processo Face Oculta, disse ainda que se colocou “à disposição do parlamento” para ser ouvido, tendo já sido ouvido na primeira comissão parlamentar, em 22 de março de 2017.

No entanto, apesar de ter dito que não iria responder a perguntas sobre Vale do Lobo, Armando Vara disse que em Vale do Lobo “todos os processos regulamentares foram cumpridos”, e que o financiamento foi aprovado “com agrado geral e sem qualquer objeção”, por parte do Conselho de Administração da Caixa.

O também antigo ministro voltou a ainda a frisar a situação em que se encontra, tal como já tinha feito por carta, mencionando “o brutal impacto” que a situação de prisão configura, classificando-a de um “martírio” que “impede a preparação”, que não teve acesso a informação e que tudo o que quiser escrever tem de o fazer “à mão”.

“Não tenho acesso a nenhuma base de dados, nenhuma ligação ao exterior”, lamentou, dizendo sentir-se infoexcluído. “Não disponho das condições para responder de forma informada. Não se pode ignorar que estão em causa factos ocorridos há mais de dez anos”.

Queixou-se ainda do atual “sistema” em Portugal, que classificou de “absurdo” por dificultar a reintegração dos presidiários quando devia promover o contrário. “Dificilmente poderão ter alguma hipótese quando saírem”, notou.

Tentando rematar o assunto sobre Vale de Lobo, Vara explicou que ” quando as coisas correm mal, a principal preocupação é ir buscar o capital – até se podem perdoar juros, mas a preocupação é ir buscar o capital”, diz Vara.

“Eu olho para estas contas e reconheço que correu mal. Lamento que tenha corrido mal. Mas no primeiro ano a empresa amoritizou 29 milhões e pagou juros e impostos 35 milhões, só no primeiro ano (…) Portanto, não há a menor dúvida de que o que aconteceu foi a grave crise que assolou o mundo”, mas “aquilo era um projeto que poderia ter ido para outros”, diz Vara, reconhecendo que foi um “entusiasta” do projeto.

“É com dor que olho para trás e vejo o que aconteceu com aquele projeto”, atirando: “o que aconteceu na Caixa não compara mal com o que aconteceu noutros bancos, porque essa é a única medida que pode comparar”.

Vale do Lobo correu mal, “mas também houve muita coisa que correu bem”, disse, recordado os dividendos que a CGD sempre pagou ao Estado, mais de mil milhões de euros – é o mesmo raciocínio que foi usado por Carlos Santos Ferreira, ex-presidente da Caixa.

Caixa “não teve qualquer intervenção nas ‘guerras’ do BCP”

A Caixa “nunca teve qualquer intervenção nas guerras do BCP”, garantiu Armando Vara aos deputados, rejeitando que tenha existido qualquer “assalto” ao banco privado e que a CGD até quis vender as ações que tinha do BCP.

E só não saímos mais, porque Paulo Teixeira Pinto [então presidente do BCP] deu conta que a Caixa estava a vender e pediu a [Carlos] Santos Ferreira [então presidente da CGD] para discutir o tema”, revelou Armando Vara, acrescentando que o banco público não via “vantagem em ter uma participação daquela dimensão num concorrente”.

De acordo com o ex-ministro socialista, Paulo Teixeira Pinto disse que “não era o melhor tempo” para vender uma posição no BCP, “porque ter a Caixa como acionista era uma proteção contra a OPA [do BCP sobre o BPI, à data]”, tendo pedido que o banco público ficasse com “pelo menos 1%”. Armando Vara disse ainda que, quando saiu da CGD para o BCP, em 2008, o banco público tinha “menos de 5%” de ações do banco privado.

Mais tarde, questionado pelo deputado do PSD Virgílio Macedo sobre o facto da Caixa ter concedido crédito às sociedades ligadas ao empresário José Berardo para aquisição de ações do BCP, aumentando a sua exposição indireta ao banco privado, Armando Vara disse que as operações foram votadas por um “órgão colegial”.

“Essas operações, quase todas, foram votadas por todo o conselho de crédito. Eu não enjeito responsabilidades nessas decisões, mas todos fazíamos parte de um órgão colegial, onde as decisões se tomavam sempre por consenso”, disse Vara, acrescentando que “bastava que um elemento do conselho de administração desse sinal de algum desconforto para que a operação parasse, ficasse para a reunião seguinte ou até que a pessoa ficasse mais descansada em relação à operação”.

Vara disse ainda que foi ele “que teve a iniciativa da decisão de ir saindo do BCP“, e que o banco público tinha capacidade financeira para emprestar 500 milhões de euros.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Ora bem, todos os alegados corruptos que andam a ser seguidos pela justiça em Portugal, se consideram profissionais isentos de culpa, e exemplares..! Será que tiveram alguma disciplina na faculdade, Tipo “Fundamentos de Corrupção”, “Corrupção Avançada”

  2. Que figurinha triste de se ver..e pensar que foi um banqueiro!!!Assim Portugal não vai a lado nenhum.. Tenho reparado que os nossos governantes, banqueiros e outros, são figurinhas que não tem capacidade profissional para o cargo, mas o certo é que estão a governar. Como é possivel??????

  3. è possível em países c/ BANANAS como os Portugueses que só gemem quando lhe vão mt fundo, foi o caso quando entrou a troika. Os politicos / governantes / administradores bancos andaram e ainda ANDAM a fazer vigarices a roubar indecentemente e o povo NADA. O governo PS dá-lhes o rebocado e o Povo anda contente, quando eles saírem Não vão deixar pedra sobre pedra. Só ainda não batemos mesmo no fundo pela simples razão que estamos na UE senão já onde estávamos.
    Este “coitadinho” vem lamentar-se que na prisão não tem acesso a nada, tens acesso é a mt coisa que Não devias ter e apanhas te Tão poucos anos. Porque foste um dos que levaram o país á RUINA. Para gentalha como Tu não devia de haver dó pela simples razão que não te importaste do MAL que estavas a fazer á vida de todos os portugueses. Gente sem coração e sem escrópulos NADA merece.

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