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Vacinar uma criança num país pobre custa 68 vezes mais do que em 2001

Marcello Casal Jr / ABr

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A organização Médicos Sem Fronteiras revelou a subida astronómica nos preços das vacinas, denunciando o lucro das farmacêuticas. De acordo com a MSF, vacinar uma criança num país pobre, em 2014, fica 68 vezes mais caro do que em 2001.

Se em 2001 um pacote completo de vacinação custava 0,67 dólares (0,57 euros), e incuía imunização contra seis doenças – tuberculose, sarampo, difteria, tétano, coqueluche e pólio -, em 2014, o mesmo pacote garante imunização contra 12 doenças – acrescentam-se rubéola, hepatite B, HiB, doenças pneumocócicas, rotavírus e vírus do papiloma humano – mas custa 45,59 dólares (39,30 euros).

Segundo a assessora da política de vacinas da MSF, Kate Elder, a subida dos preços deve-se à “avareza das grandes farmacêuticas”, que mantêm os preços “astronómicos”.

Este aumento dos preços deve-se, essencialmente, à introdução de novas vacinas – nomeadamente as que protegem do Streptococcus Pneumoniae (ou pneomococo), do rotavírus e do HPV – que são controladas por três empresas: a britânica GSK, as norte-americanas Pfizer e Merck Sharp and Dohme (MSD).

“As grandes farmacêuticas justificam os preços altos com o investimento feito na investigação para desenvolver as vacinas, mas esse dinheiro já foi recuperado”, denuncia Kate Elder.

A situação leva a que os Médicos Sem Fronteiras afirmem que a indústria farmacêutica “oculta deliberadamente os preços”, e que há hoje países na iminência de ter que escolher “a doença pela qual irão morrer as suas crianças”, já que não conseguem financiar todas as vacinas.

A Aliança Gavi, que agrega governos, fabricantes de vacinas, ONG e a Fundação Gates, tem levado a cabo campanhas de vacinação a todo o mundo e conseguiu tornar mais baratas as vacinas para os países mais pobres, cita a BBC.

No entanto, cerca de um quarto dos países em desenvolvimento perderão o apoio da Gavi no próximo ano, o que poderá levar nações como Angola e Indonésia a pagar mais 1500% por novas vacinas. As próprias organizações humanitárias que prestam serviços gratuitos, terão dificuldades em continuar no terreno, uma vez que não têm garantias de ter acesso às vacinas ao menor preço, descreve a responsável da MSF.

Uma das maiores reivindicações da MSF no relatório dirige-se à GSK e à Pfizer, pedindo-lhes que reduzam o preço da vacina pneumocócica para 4,35 euros por criança nos países em desenvolvimento. A organização reclama igualmente maiores facilidades à entrada no mercado internacional de novos fabricantes de vacinas – e mais baratos -, apontando diretamente à China.

ZAP

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