Vacina centenária tem segredos da luta contra o cancro

Um novo estudo da Fundação Champalimaud revelou como a vacina BCG, criada na década 1920 contra a tuberculose, destrói células tumorais.

Uma equipa de cientistas da Fundação Champalimaud revelou, num artigo publicado esta quinta-feira, que a vacina BCG é capaz de destruir as células tumorais.

Baseando-se numa experiência feita com peixes-zebra, a vacina Bacillus Calmette-Guérin (BCG), criada há um século, para combater a tuberculose demonstrou ter escondidos segredos da luta contra o cancro.

A vacina contra a tuberculose, conhecida pelas iniciais BCG, é usada como imunoterapia para o cancro da bexiga em fase inicial após a remoção do tumor.

A solução BCG, administrada na bexiga através de um cateter, contém bactérias vivas e enfraquecidas que estimulam o sistema imunitário a matar as células cancerígenas na bexiga.

“A forma como a vacina BCG atua como imunomodulador para eliminar os tumores da bexiga não era totalmente conhecida”, explicaram os cientistas, citados pela agência Lusa.

No artigo publicado na Disease Models and Mechanisms, a equipa da Fundação Champalimaud descreve como macrófagos (células imunitárias) de peixe-zebra “induzem, literalmente, as células cancerosas ao suicídio e, em seguida, devoram rapidamente essas células mortas”.

“Os macrófagos são fortemente recrutados para o local do tumor após a injeção de BCG, matando diretamente as células do cancro da bexiga através de um processo de suicídio celular (apoptose) dependente de uma substância chamada fator de necrose tumoral (TNF) segregada pelos macrófagos, que atua como uma potente molécula sinalizadora do sistema imunitário”, adianta o comunicado.

Neste trabalho, os investigadores utilizaram técnicas de microscopia para observar macrófagos a interagirem com células tumorais retiradas previamente de um doente com cancro da bexiga e depois injetadas em embriões de peixe-zebra, onde os tumores cresceram.

Quando os macrófagos foram retirados dos peixes-zebra com células de cancro da bexiga humano, “os efeitos antitumorais da vacina BCG eram totalmente bloqueados, demonstrando assim que os macrófagos são, de facto, cruciais para a resposta anti-tumoral inicial provocada pela vacina”, sustenta a equipa de investigação.

A experiência foi desenvolvida no Laboratório de Desenvolvimento do Cancro e Evasão Imunitária Inata, coordenado pela bióloga Rita Fior pela ex-aluna de doutoramente do laboratório Mayra Martínez-López

“Nós não só desvendámos os mecanismos envolvidos nos primeiros passos da ação antitumoral da vacina, como também demonstrámos que o modelo zAvatar é uma poderosa ferramenta pré-clínica para a descoberta de medicamentos em oncologia”, enaltece Martínez López, ao Jornal de Notícias.

ZAP // Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.