Vacina “milagrosa” contra cancro da mama passa primeiros testes em humanos

Uma vacina contra o cancro da mama revelou-se um verdadeiro sucesso nos primeiros testes em humanos, 20 anos depois.

Investigadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, têm vindo a desenvolver, nos últimos 20 anos, uma vacina contra o cancro da mama. A vacina passou agora a primeira fase de testes em humanos.

O cancro da mama é o segundo tipo de cancro mais comum entre as mulheres, apenas suplantado pelo cancro da pele, e corresponde à segunda causa de morte por cancro, na mulher. Em Portugal, anualmente são detetados cerca de 7.000 novos casos e 1.800 mulheres morrem com esta doença.

Os homens não estão livres de perigo. Segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro, em Portugal, cerca de 1% de todos os cancros da mama são no homem.

Nestes primeiros testes em humanos, a vacina experimental provou ser segura e altamente eficaz na prevenção do crescimento de células tumorais cancerígenas do recetor de crescimento epidérmico humano 2

Durante a fase um dos ensaios, a vacina experimental contra o câncer de mama provou ser segura e altamente eficaz na prevenção do crescimento de células tumorais cancerígenas do recetor de crescimento epidérmico humano 2 (HER2).

Algumas mulheres têm tumores de mama com níveis mais altos da proteína HER2. Esses cancros são denominados cancro de mama HER2+. Esses cancros tendem a crescer e disseminar-se mais rapidamente do que outros tipos de cancro da mama, mas são muito mais propensos a responder ao tratamento com medicamentos que têm como alvo a proteína HER2.

Aliás, o excesso de produção da proteína HER2 é responsável por 30% de todos os casos de cancro da mama, salienta o portal Interesting Engineering.

Embora não seja hereditário, este tipo de cancro é muito persistente e há uma grande probabilidade de reaparecer. Os investigadores da Universidade de Washington encontraram algo curioso enquanto procuraram os fatores que levam à recorrência do cancro HER2.

Os cientistas notaram que o cancro HER2+ não reapareceu em pacientes que desenvolveram uma imunidade citotóxica. Estas pacientes tiveram taxas de sobrevivência mais altas. Com base nisto, os investigadores desenvolveram uma vacina de ADN que pudesse desencadear imunidade citotóxica nas células afetadas.

Entre 2001 e 2010, os cientistas fizeram testes com 66 mulheres que sofriam de cancro HER2 recorrente em estágio avançado. Foram então criados três grupos separados.

As pacientes do primeiro grupo receberam apenas 10 microgramas da vacina. Por sua vez, a dosagem para as pacientes do segundo grupo foi de 100 mcg, enquanto para as pacientes do terceiro grupo foi de 500 mcg.

As participantes foram monitorizadas durante mais de uma década para verificar a eficácia da vacina.

Normalmente, metade das pacientes que sofrem de cancro da mama HER2+ não sobrevive mais de cinco anos após o diagnóstico. No entanto, os resultados do estudo publicado recentemente na revista científica JAMA Oncology foram surpreendentes.

Susan Gregg

Nora Disis, à esquerda, em conversa com colegas.

Do total de participantes, 80% das pacientes que receberam a vacina permaneceram vivas durante a avaliação de mais de 10 anos. As pacientes que receberam 100 mcg desenvolveram uma forte resposta imune citotóxica.

“Os resultados mostraram que a vacina é muito segura. Na realidade, os efeitos colaterais mais comuns que vimos em cerca de metade das pacientes foram muito semelhantes ao que vemos com as vacinas contra a covid-19: vermelhidão e inchaço no local da injeção e talvez alguns sintomas de febre, calafrios e semelhantes aos da gripe”, disse Mary Nora Disis, autora principal do artigo, em comunicado.

Daniel Costa, ZAP //

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