Quase 200 anos depois, os ursos poderão estar de volta a Portugal de forma definitiva – isto, porque, de vez em quando, há um macho que visita o Parque Natural de Montesinho, em Bragança.
A Reportagem Especial da SIC, este sábado, foi dedicada à (possível) reintrodução do urso pardo em Portugal.
Portugal não tem ursos, desde 1843, quando o último foi abatido numa caçada, no Gerês.
Apesar do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), ter deixado claro que, neste momento, Portugal não tem um ecossistema favorável ao regresso de uma população de urso pardo, está em vigor uma projeto que visa a reinserção da espécie.
O projeto que pretende voltar espalhar os ursos por toda a Península Ibérica é de encargo espanhol.
Turista inesperado
Volta e meia (de uma forma que chega a ser literal), um urso pardo espanhol visita o Parque Natural de Montesinho, em Bragança, junto à fronteira com Espanha.
Em 2019, o urso fez estragos numa colmeia de um apicultor transmontano.
Quando entrou no apiário para fazer um visita de rotina, Luís Correia deparou-se com uma surpresa. O urso tinha comido entre 50 e 60 quilos de mel.
“Chegámos lá e vimos quatro colmeias no chão, mais uma em baixo e ficamos de boca aberta. Vimos umas patadas com umas unhas muito grandes e percebemos que não era da nossa competência, que se tratava de um animal que devia ser estranho porque já temos colmeia há muitos anos e nunca nos tinha acontecido nada igual”, relatou à SIC.
Biólogos e investigadores sugerem que o ICNF prepare a população, especialmente a de Montesinho, para um possível regresso dos Ursos-pardos.
“O mais importante é estarmos preparados para isso, fazendo primeiro um estudo do habitat e da sua qualidade natural, vendo por onde podem ir estabelecendo os ursos em função da segurança deste habitat e sobretudo prevenindo os conflitos sociais e económicos que poderão surgir”, disse a Fundação Urso Pardo, citada pelo NIT.
A parte espanhola que faz fronteira com o nordeste português continua a ter muita população desta espécie – número que cresce, quando se sobre no mapa, em direção às Astúrias.
Na investigação que deu origem ao livro “Urso Pardo em Portugal — Crónica de uma extinção”, os autores chegaram a uma notícia da morte do último urso em Portugal em 1843, abatido pela população no Gerês, o que foi uma surpresa. “Os últimos dados que comprovavam o desaparecimento do urso referiam-se a 1650, também no Gerês”, notam os autores da obra.
Em Espanha, o urso também foi regredindo no território e refugiou-se nas altas montanhas, nas Astúrias, onde também esteve ameaçado. No entanto, as autoridades espanholas adotaram medidas de conservação e os dois grupos populacionais da espécie estabilizaram.
Segundo o site “Portugal num mapa”, o urso-pardo é a segunda maior espécie de carnívoro do mundo, a seguir ao urso-polar (Ursus maritimus).
Um urso-pardo adulto em média mede 1,4 a 2,8 metros de comprimento (inclui-se a cauda) quando está sobre as quatro patas e de 0,7 a 1,53 metros de altura até ao ombro, e pesa mais de 200 quilogramas para os machos e mais de 150 quilogramas para as fêmeas.