Tomaz Silva / ABr

Quase 200 anos depois, os ursos poderão estar de volta a Portugal de forma definitiva – isto, porque, de vez em quando, há um macho que visita o Parque Natural de Montesinho, em Bragança.
A Reportagem Especial da SIC, este sábado, foi dedicada à (possível) reintrodução do urso pardo em Portugal.
Portugal não tem ursos, desde 1843, quando o último foi abatido numa caçada, no Gerês.
Apesar do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), ter deixado claro que, neste momento, Portugal não tem um ecossistema favorável ao regresso de uma população de urso pardo, está em vigor uma projeto que visa a reinserção da espécie.
O projeto que pretende voltar espalhar os ursos por toda a Península Ibérica é de encargo espanhol.
Turista inesperado
Volta e meia (de uma forma que chega a ser literal), um urso pardo espanhol visita o Parque Natural de Montesinho, em Bragança, junto à fronteira com Espanha.
Em 2019, o urso fez estragos numa colmeia de um apicultor transmontano.
Quando entrou no apiário para fazer um visita de rotina, Luís Correia deparou-se com uma surpresa. O urso tinha comido entre 50 e 60 quilos de mel.
“Chegámos lá e vimos quatro colmeias no chão, mais uma em baixo e ficamos de boca aberta. Vimos umas patadas com umas unhas muito grandes e percebemos que não era da nossa competência, que se tratava de um animal que devia ser estranho porque já temos colmeia há muitos anos e nunca nos tinha acontecido nada igual”, relatou à SIC.
Biólogos e investigadores sugerem que o ICNF prepare a população, especialmente a de Montesinho, para um possível regresso dos Ursos-pardos.
“O mais importante é estarmos preparados para isso, fazendo primeiro um estudo do habitat e da sua qualidade natural, vendo por onde podem ir estabelecendo os ursos em função da segurança deste habitat e sobretudo prevenindo os conflitos sociais e económicos que poderão surgir”, disse a Fundação Urso Pardo, citada pelo NIT.
A parte espanhola que faz fronteira com o nordeste português continua a ter muita população desta espécie – número que cresce, quando se sobre no mapa, em direção às Astúrias.

Monumento em homenagem ao urso pardo nos Picos da Europa. Miradouro Collado de Llesba (Cantábria)
Na investigação que deu origem ao livro “Urso Pardo em Portugal — Crónica de uma extinção”, os autores chegaram a uma notícia da morte do último urso em Portugal em 1843, abatido pela população no Gerês, o que foi uma surpresa. “Os últimos dados que comprovavam o desaparecimento do urso referiam-se a 1650, também no Gerês”, notam os autores da obra.
Em Espanha, o urso também foi regredindo no território e refugiou-se nas altas montanhas, nas Astúrias, onde também esteve ameaçado. No entanto, as autoridades espanholas adotaram medidas de conservação e os dois grupos populacionais da espécie estabilizaram.
Segundo o site “Portugal num mapa”, o urso-pardo é a segunda maior espécie de carnívoro do mundo, a seguir ao urso-polar (Ursus maritimus).
Um urso-pardo adulto em média mede 1,4 a 2,8 metros de comprimento (inclui-se a cauda) quando está sobre as quatro patas e de 0,7 a 1,53 metros de altura até ao ombro, e pesa mais de 200 quilogramas para os machos e mais de 150 quilogramas para as fêmeas.