Uma incrível bactéria é tão grande, que a pode ver sem microscópio

Esther Angert

Exemplares de Epulopiscium viviparus

A Epulopiscium viviparus tem características incomuns em inúmeros aspetos — do seu tamanho gigantesco, aos processos metabólicos e método reprodutivo invulgar. Desvendar a forma como consegue produzir energia pode ter aplicações práticas na produção de algas.

Um novo estudo, conduzido por investigadores da Universidade de Cornell e do Laboratório Nacional de Lawrence Berkeley, nos EUA, detalhou as características da Epulopiscium viviparus — uma bactéria gigante, cuja enorme dimensão a torna visível a olho nu.

No estudo, apresentado num artigo publicado recentemente nos Proceedings of the National Academy of Sciences, os investigadores analisaram em particular as características únicas dos mecanismos de produção de energia deste organismo e as suas potenciais aplicações práticas.

As Epulopiscium viviparus, ao contrário das bactérias típicas, que são microscópicas, são tão grandes que podem ser vistas sem microscópio. Em volume, são um milhão de vezes maiores do que a conhecida Escherichia coli.

“A E.viviparus tem características incomuns em tantos aspetos… do seu tamanho, aos processos metabólicos e método reprodutivo invulgar”, diz Esther Angert, corresponding author do artigo, ao SciTechDaily. “Desvendar o potencial genómico deste organismo deixou-nos boquiabertos”, confessou a investigadora.

Descobertas em 1985, estas bactérias vivem nos intestinos de peixes em recifes de coral marinhos tropicais como a Grande Barreira de Coral e o Mar Vermelho, e reproduzem-se criando até 12 cópias suas dentro de uma célula-mãe — que são depois libertadas vivas e a nadar.

Para realizar o estudo, os investigadores capturaram peixes hospedeiros, tendo preservado e extraído cuidadosamente o DNA e RNA das bactérias.

A equipe focou-se principalmente em compreender como a E. viviparus é capaz de dar resposta às significativas exigências metabólicas que as suas dimensões colocam.

Apesar de ser uma fermentadora, tipicamente associada a uma menor produção de energia, a E.viviparus adaptou-se e evoluiu para conseguir colher eficientemente nutrientes do intestino do seu hospedeiro.

A enorme bactéria recorre a um método raro de produção de energia e dedica uma grande parte do seu código genético à produção de enzimas, especialmente as necessárias à produção de ATP.

Notavelmente, o E.viviparus apresenta uma membrana altamente dobrada, de forma semelhante à que encontramos nas mitocôndrias de organismos mais complexos, o que potencia as suas capacidades de produção de energia.

Segundo os investigadores, a identificação da forma eficiente como a bactéria é capaz de produzir energia poderá ter aplicações práticas na produção de algas — cada vez mais apontadas como o futuro em áreas como a alimentação de gado, energias renováveis e nutrição humana.

Armando Batista, ZAP //

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