“Uma espécie de efeito borboleta.” A meteorologia está ligada através de “teleconexões”

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Nuvens estratosféricas polares

Cientistas estimam que os padrões meteorológicos trans-continentais possam ser responsáveis por 53% da área ardida no planeta anualmente.

Um conjunto de novas pesquisas no âmbito da meteorologia focaram a sua atenção nas vastas “teleconexões” climáticas que se estendem por todo o nosso planeta, estabelecendo potenciais ligações entre secas e incêndios florestais em todo o mundo.

A teleconexão é um conceito da ciência atmosférica que sugere que o clima e eventos climáticos em locais distantes podem estar intimamente relacionados, já que o planeta consiste num vasto sistema interligado entre si.

Por exemplo, um período de fortes chuvas pode estar relacionado com outra situação de precipitação intensa a milhares de quilómetros de distância, até num continente diferente. Estas ligações são o resultado de padrões na temperatura da superfície do mar ou variações de pressão atmosférica que oscilam de estação para estação do ano ou ao longo de décadas.

De acordo com um estudo publicado na revista Advances in Atmospheric Sciences, os cientistas descobriram que os fenómenos de precipitação recorde registados em setembro de 2021 e que atingiu tanto o Noroeste da Índia como o Norte da China, estavam ligados através de padrões de teleconexão.

A chuva neste período correspondeu a um desvio de padrão 4,1 e 6,2 vezes superior aos níveis típicos nas referidas regiões, respectivamente, causando danos às infra-estruturas e à vida humana. Foram chuvas especialmente inesperadas, uma vez que nestas regiões os meses das chuvas são geralmente julho e agosto.

Os investigadores descobriram que os fluxos de jatos da alta-troposférica de fluxo ocidental na Ásia se deslocaram para o Pólo Norte ao deslizarem para a Ásia Ocidental. Na mesma altura, um ciclone anómalo apareceu sobre a Índia, o que gerou vapor de água abundante e que pairava no Noroeste da Índia. Esta combinação de fatores provocou as fortes chuvas que ali se fizeram sentir.

Da mesma forma, uma corrente de vento de alta altitude sobre o continente eurasiático também contribuiu para as condições no Noroeste da Índia, que originaram as fortes chuvas no Norte da China.

“Os extremos climáticos de uma região podem estar relacionados com, ou levar, os de outras regiões, através de padrões de teleconexão atmosférica. Os extremos climáticos mais frequentes e mais fortes esperados devido ao aquecimento global irão desencadear a ocorrência mais frequente destas teleconexões atmosféricas, o que, por sua vez, poderá induzir extremos climáticos em regiões longínquas de todo o mundo”, disse Riyu Lu, autor de um dos estudos e professor no Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências.

Já um segundo artigo, publicado na revista Nature Communications em janeiro, detalhou os padrões de teleconexão entre os incêndios florestais. Os investigadores mediram a quantidade de terra queimada em todo o mundo entre 1982 e 2018 e encontraram regiões distantes com significativos incêndios coincidentes, ou previsivelmente defasados, de secas e incêndios.

Por outras palavras, há partes do mundo — tais como o Norte de África, o Sara, a África Austral, os Ande, e o Norte da Austrália — que têm mais probabilidade de vivenciar secas na mesma altura e, por sua vez, incêndios mais devastadores sincronizados.

Em conjunto, os dois estudos estimam que estes padrões meteorológicos trans-continentais possam ser responsáveis por 53% da área ardida no planeta anualmente, realça o site IFL Science.

“São uma espécie de efeito borboleta complexo, na medida em que as coisas que estão a ocorrer num só local têm muitos derivados muito distantes“, explicou Sergio de Miguel, um cientista de ecossistemas da Universidade de Lérida em Espanha, ao Science News.

ZAP //

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