2024 teve até ao momento, a nível mundial, uma média de 41 dias extra de “calor perigoso. Portugal apanhou 20 desses dias. O recordista foi o Nauru com 173.
O relatório da World Weather Attribution (WWA) e da Climate Central concluiu que as mudanças climáticas intensificaram 26 dos 29 fenómenos meteorológicos extremos alvos do estudo, responsáveis por matar pelo menos 3.700 pessoas e provocar a deslocação de milhões de cidadãos.
As duas organizações definiram os dias de “calor perigoso” de mais de 200 países e territórios analisando as temperaturas médias dessas áreas entre 1991 e 2020 e identificando o percentil dos 10% mais quentes, com os valores habitualmente associados a maiores riscos para a saúde.
Calculada a média dos dias mais quentes do que o normal nos vários territórios, concluiu-se que 2024 teve mais 41 dias de “calor perigoso” no mundo do que num cenário sem alterações climáticas.
Portugal, por exemplo, teve 20 dias a mais com as temperaturas perigosamente elevadas – o que não parece muito grave, quando comparado outras regiões que tiveram mais de 100 dias extra de calor extremo.
O Nauru, uma ilha isolada na Oceânia, com cerca de 12.000 habitantes, foi o recordista de dias com calor a mais: 173. Seguem-se países como Barbados (164 dias) e São Vicente e Granadinas (159). No lado oposto da tabela, aparece a Coreia do Sul, que “só” teve 12 dias de calor extra.
No contexto europeu, abaixo de Portugal estão apenas a Islândia (13 dias), o Mónaco (17) e a Irlanda (18). A nossa vizinha Espanha apanhou 30 desses dias.
Quanto mais aguentará o planeta?
Joseph Giguere, investigador associado da Climate Central, destacou que as temperaturas suficientemente elevadas para ameaçar a saúde humana “estão a tornar-se mais comuns devido às alterações climáticas”.
“Em muitos países, os residentes estão expostos a semanas adicionais de calor, atingindo limites de risco que seriam praticamente impossíveis sem a influência do aquecimento global”, alertou.
A líder da WWA, Friederike Otto, sublinhou que a sociedade tem o conhecimento e a tecnologia para se afastar dos combustíveis fósseis e passar para as energias renováveis, reduzir a procura e parar a desflorestação.
As medidas devem ser implementadas e não permanecer relegadas para segundo plano por tecnologias como a remoção de dióxido de carbono, que “não funcionará sem se fazer primeiro tudo o resto”, defendeu a professora de ciências climáticas no Imperial College London.
“As soluções estão à nossa frente há anos. Até 2025, todos os países devem intensificar os seus esforços para substituir os combustíveis fósseis por energias renováveis e preparar-se para condições climáticas extremas“, alertou Otto.
ZAP // Lusa