Um simples truque cerebral pode aumentar a aprendizagem e melhorar a saúde mental

Existe um simples truque cerebral que pode aumentar a aprendizagem e melhorar a saúde mental.

Trata-se da forma como diferentes mentalidades influenciam a retenção da memória —  e os investigadores demonstraram tudo isto com uma experiência criativa em que 420 adultos fingiam ser ladrões de arte durante um dia.  .

Para o estudo, as cientistas da Duke University, Alyssa Sinclair, investigadora de pós-doutoramento, e a sua coautora Candice Yuxi Wang, aluna de pós-graduação em psicologia e neurociência da Duke, fizeram uma simulação de roubo de arte.

Os participantes foram depois distribuídos, aleatoriamente, por dois grupos com um contexto e motivação diferentes.

Estas diferenças subtis  — a procura de um objetivo urgente e imediato versus a exploração curiosa de um objetivo futuro — têm um grande potencial para enquadrar os desafios do mundo real.

Ao grupo urgente foi-lhe dito “és um mestre ladrão, estás a fazer um assalto agora mesmo. Rouba o máximo que puderes!”, explicou Sinclair.

“Já para o grupo dos curiosos, dissemos-lhes que eram um ladrão que estava a observar o museu para planear um futuro assalto”.

Depois de obterem estas histórias diferentes, curiosamente, ambos os grupos jogaram o mesmo jogo de computador, no qual tinham de explorar um museu de arte com portas coloridas, representando diferentes salas, e clicar numa porta para revelar um quadro e o seu valor.

O objetivo era encontrar o maior número possível de quadros valiosos e ganhar dinheiro real se fossem bons no jogo.

O impacto desta diferença de mentalidade foi mais evidente no dia seguinte. Quando os participantes voltaram a iniciar sessão, depararam-se com um questionário sobre se conseguiam reconhecer 175 quadros diferentes — 100 do dia anterior e 75 novos.

Se os participantes assinalassem um quadro como familiar, tinham também de se lembrar do seu valor.

Os resultados foram intrigantes: aqueles que estavam no modo de exploração curiosa tiveram um melhor desempenho no teste de memória. Reconheceram corretamente mais quadros e os respetivos valores.

Por outro lado, o grupo que estava no modo urgente revelou-se melhor a recordar os quadros com o valor mais elevado do que as pessoas que estavam a explorar o museu.

As cientistas ficaram satisfeitas depois de avaliarem os testes e verem que as suas previsões se tinham concretizado.

Alison Adcock, diretora da Duke University, salienta que nenhuma das mentalidades é necessariamente melhor do que a outra.

Ambas as mentalidades têm as suas vantagens, dependendo da situação. A urgência pode ser benéfica para problemas a curto prazo, como reagir a ameaças imediatas, enquanto a curiosidade pode ser mais eficaz para incentivar a memória a longo prazo e as mudanças no estilo de vida.

“É importante aprender qual o modo que se adapta a um determinado momento e utilizá-lo estrategicamente”, afirma Adcock.

Sinclair e Wang estão agora a dar seguimento a estas descobertas para ver como a urgência e a curiosidade ativam diferentes partes do cérebro.

Os primeiros dados sugerem que o “modo urgente” envolve a amígdala, uma região do cérebro associada à memória do medo, conduzindo a memórias concentradas e eficientes.

Por outro lado, a exploração curiosa parece estimular a dopamina no hipocampo, uma região do cérebro essencial para a formação de memórias detalhadas a longo prazo.

Com estes resultados cerebrais, os investigadores têm esperança de que estas descobertas possam ter implicações para além do melhoramento da memória.

Adcock está a explorar a forma como a investigação do seu laboratório pode também beneficiar os pacientes que vê como psiquiatra.

“A maior parte da psicoterapia de adultos tem a ver com a forma como encorajamos a flexibilidade, como acontece com o modo curioso”.

“Mas é muito mais difícil para as pessoas fazerem isso, uma vez que passamos grande parte da nossa vida adulta num modo de urgência”.

Estes exercícios de pensamento podem dar às pessoas a capacidade de manipular as suas próprias torneiras neuroquímicas e desenvolver “manobras psicológicas” ou pistas que atuam de forma semelhante aos fármacos.

“Para mim, o objetivo final seria ensinar as pessoas a fazerem isto por si próprias”. Acrescentou, ainda, que “isto é empoderador“.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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