Um português com rendimento médio seria pobre em 11 países da UE

Sem pensões ou subsídios, quase 4,5 milhões de portugueses estariam em situação de pobreza, num cenário em que um terço das famílias vive com menos de 10 mil euros anuais.

Segundo o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR) de 2021, aproximadamente 1,7 milhões de portugueses encontram-se em risco de pobreza. Os dados são ainda mais alarmantes quando analisados à luz dos apoios sociais: sem pensões, subsídios de desemprego ou invalidez, o número de portugueses em risco de pobreza dispararia para cerca de 4,4 milhões.

Embora o ICOR indique, segundo a Renascença, uma diminuição de dois pontos percentuais no número de pessoas em risco de pobreza em relação a 2020, a situação permanece crítica. O limiar de pobreza em Portugal para 2021 foi estabelecido nos 6.608€ anuais, correspondendo a 551 euros por mês.

Este valor é apenas superior ao rendimento médio em dois países europeus: Roménia e Bulgária. Por outro lado, um português com um rendimento líquido mediano de 918 euros estaria em risco de pobreza em 11 países da União Europeia.

Com um rendimento médio estabelecido nos 11.014 euros, um português seria considerado pobre no Luxemburgo, Dinamarca, Países Baixos, Irlanda, Áustria, Bélgica, Suécia, Finlândia, Alemanha, França e Itália, segundo dados de países da UE atualizados em 2022 relativos ao limiar da pobreza (definido como 60% do rendimento mediano líquido anual por adulto).

Os grupos etários mais velhos e mais jovens surgem como os mais vulneráveis. Os idosos representam 17% das pessoas em risco, o que se traduz em mais de 400 mil indivíduos. Sem apoios sociais, a taxa dispararia para uns inaceitáveis 84%. A situação também é preocupante entre as famílias compostas por dois adultos e duas crianças, onde cerca de 13% vivem em dificuldades económicas.

As regiões autónomas de Portugal apresentam taxas de risco de pobreza superiores à média nacional, situando-se acima dos 20%. Em contraste, a Área Metropolitana de Lisboa apresenta números mais otimistas, ainda que se deva considerar a elevada disparidade socioeconómica dentro da própria região.

Comparativamente, a taxa de risco de pobreza em Portugal é mais baixa que a média da União Europeia, que se situa nos 16,5%. Contudo, esta métrica não deve ser interpretada como um sinal de prosperidade, já que o limiar de pobreza na UE é quase o dobro do português.

No Dia Internacional para Erradicação da Pobreza, que se assinala esta terça-feira, os dados do ICOR revelam uma realidade preocupante e complexa.

A pobreza em Portugal, embora tenha mostrado sinais de ligeira melhoria, continua a ser um problema sistémico que afeta uma parcela significativa da população. Este panorama torna-se ainda mais grave quando consideramos a dependência de transferências sociais para mitigar o risco de pobreza.

A divulgação dos novos dados do ICOR, prevista para 27 de novembro de 2023, é aguardada com expectativa, na esperança de que possam trazer notícias mais positivas.