Último debate marcado por insultos entre Bolsonaro e Lula. Vitória na 1.ª volta evitaria “tragédia” e “mortes”

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André Coelho / EPA

Os candidatos presidenciais brasileiros Jair Bolsonaro (PL), Padre Kelmon, Luiz Felipe Davila (Nuevo), Soraya Thronicke (Union Brasil), Luiz Inacio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT)

O último debate antes da primeira volta das presidenciais brasileiras de domingo foi marcado por acesas acusações mútuas entre candidatos, em especial as de corrupção entre os favoritos, Jair Bolsonaro e Lula da Silva.

O evento, que começou às 22:30 e durou até às 02:00 locais (06:00 em Lisboa), contou com a participação de Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Padre Kelmon (PTB), Luiz Felipe D’Ávila (Novo), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).

Padre Kelmon (PTB), que serviu de bengala a Bolsonaro durante todo o debate, questionou o Presidente brasileiro sobre se a esquerda quer “fechar igrejas e calar a boca de padres”. Bolsonaro respondeu que o “futuro da nação está em jogo” e acusou Lula de ter sido o “chefe da quadrilha”.

A partir daí o debate descambou numa troca de acusações de corrupção e de pedidos de direito de resposta entre os dois principais candidatos.

“Comporte-se como Presidente, não minta”, disse Lula, denunciando depois alegados casos de corrupção de Bolsonaro nas negociações de compra de vacinas da covid-19 que não foram concretizadas, mas também um caso envolvendo o Ministério da Educação, onde pastores evangélicos pediam dinheiro para os seus municípios.

“Traidor da pátria. Rachadinha [desvio de salários de assessores] são os teus filhos. Roubaram milhões após a tua chegada ao poder”, acusou Bolsonaro, acrescentando: “Mentiroso, ex-presidiário, traidor da pátria”.

A certa altura, Ciro Gomes, terceiro classificado nas sondagens, desabafou, em tom de brincadeira: “Eu posso esperar lá fora?”.

Bolsonaro aproveitou ainda para recordar o assassinato de Celso Daniel, um importante líder do PT, o partido fundado e liderado por Lula, que foi assassinado em 2002, num crime inicialmente atribuído a militantes desse partido político que se opunham à decisão de Daniel de combater e denunciar a corrupção.

O antigo dirigente sindical pediu para se defender da acusação e admitiu desconforto por ter de abordar a questão e partilhar o debate com uma pessoa “sem vergonha”, referindo-se a Bolsonaro.

“Isto não é apresentação de propostas mas de ataques mútuos para verem quem roubou mais”, afirmou a senadora Simone Tebet.

Ao longo do debate, a quarta classificada nas sondagens procurou chamar a atenção para a precariedade da educação brasileira, as crianças que passam fome e os incêndios na Amazónia, questão que teve resposta de Bolsonaro: “Então a falta de chuva é responsabilidade minha?”.

O clima de tensão voltou também quando Padre Kelmon (PTB) – apelidado pela candidata Soraya Thronicke de “cabo eleitoral” de Bolsonaro e de “padre de festa junina” – acusou mais uma vez Lula de ser um corrupto.

“Tive 26 denúncias mentirosas de uma pessoa que depois foi ministra do atual governo”, disse Lula, referindo-se a Sérgio Moro, o juiz que esteve na base da condenação de Lula da Silva por corrupção em processos da Operação Lava-Jato.

Contudo, estes acabaram anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) devido à jurisdição e reconhecimento da parcialidade de Moro. “Fui absolvido em 26 processos dentro do Brasil”, afirmou Lula, rematando: “Quando quiser falar de corrupção olhe para outro, não olhe para mim”.

Uma pergunta que ficou sem resposta foi a de Soraya Thronicke, que questionou Bolsonaro sobre se respeitará os resultados da eleição e se pretende dar um golpe de Estado. Este tem questionado a fiabilidade do sistema de votação eletrónica que o Brasil adotou há quase três décadas.

Lula pode vencer as eleições presidenciais à primeira volta, que se realizam no domingo, segundo uma sondagem divulgada na quinta-feira pelo Datafolha. Lidera a corrida com 50% dos votos válidos – não contabilizando os votos brancos e nulos -, critério utilizado pelas autoridades eleitorais para contabilizar o resultado da eleição.

De acordo com a sondagem, realizada entre terça-feira e quinta-feira e que tem uma margem de erro de dois pontos percentuais, Bolsonaro segue em segundo com 36% dos votos válidos.

Vitória na primeira volta evitaria “tragédia e mortes”

O candidato a vice-Presidente de Lula da Silva, Geraldo Alckmin, afirmou na quinta-feira que seria “melhor” para o Brasil se o antigo chefe de Estado ganhasse as eleições na primeira volta, para evitar confusões com possíveis “mortes”.

“Penso que é melhor para o Brasil, porque sai dessa confusão, luta, de repente pode haver mortes, pode haver acidentes, pode haver uma tragédia”, referiu numa entrevista ao portal UOL e o jornal Folha de São Paulo.

Alckmin, antigo adversário de Lula, com quem se reconciliou para enfrentar Bolsonaro, defendeu que se fossem eleitos já no domingo, “haveria mais tempo” para organizar o novo gabinete e “seria melhor para a economia”.

Bolsonaro acusa juiz do STF de “abuso de poder”

O Presidente do Brasil acusou o juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de “abuso de poder” devido a uma investigação a um dos seus assessores por alegado desvio de dinheiro público.

Numa intervenção transmitida ao vivo nas redes sociais, na quinta-feira, Bolsonaro chamou repetidamente de “canalha” e de “sem vergonha” a Moraes, que é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o órgão responsável pelas eleições.

Segundo a imprensa brasileira, Moraes ordenou o levantamento do sigilo das contas bancárias do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, assessor de Bolsonaro. A ordem surgiu no âmbito de uma investigação a um suposto desvio de dinheiro público para assuntos privados da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

“Seja homem uma vez na vida, Alexandre, e espalhe os valores”, disse Bolsonaro. “E se forem atípicos, mostre os valores”, acrescentou.

O Presidente brasileiro lembrou que Moraes tem vínculos políticos com o candidato a vice-presidente de Lula da Silva, já que o juiz foi secretário de Segurança Pública de São Paulo enquanto Alckmin era governador do estado brasileiro.

“Alexandre, você tem todo um passado no governo Alckmin e por isso quer um presidente refém. Você abusa do poder com baixeza”, disse Bolsonaro.

TSE lança página #FatoouBoato

Entretanto, o TSE preparou um simulador para evitar que o processo eleitoral seja boicotato por informações falsas.


Equipa em Portugal para assegurar ato eleitoral

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos França, enviou uma equipa de 10 pessoas de Brasília para Portugal, das quais sete estão em Lisboa, para assegurarem a “perfeita realização das eleições” gerais de domingo, disse o diplomata Paulino Neto, secretário de assuntos multilaterais políticos do ministério.

“Nós trouxemos uma equipa aqui de Brasília, do Ministério das Relações Exteriores composta por 10 pessoas que vieram para reforçar as perspetivas seja do consulado em Lisboa, seja no consulado do Porto”, afirmou o diplomata.

Sete dos elementos da equipa do Itamaraty estão em Lisboa e os restantes três acompanham o consulado do Porto.

O objetivo é que a equipa possa “assegurar a perfeita realização das eleições” em Portugal pelos três consulados, de Lisboa, Porto e Faro, “onde existe um grande grupo de eleitores cadastrados”.

De acordo com os dados mais atualizados do STE nas eleições do próximo domingo votarão em Portugal 80.896 eleitores, dos quais 45.273 em Lisboa, o consulado que regista maior número de inscritos fora do Brasil.

No consulado do Porto, o quinto com mais eleitores, estão inscritos 30.098, e no de Faro há 5.525 habilitados para votar, revelou.

O ato eleitoral em Lisboa ocupará 33 salas da Faculdade de Direito, distribuídas por três pisos. As urnas abrirão às 08:00 e encerrarão às 17:00, mas se ainda houver pessoas na fila à hora do encerramento poderão votar.

O voto no Brasil é obrigatório, pelo que os eleitores registados em Portugal e que, por alguma razão, estejam no Brasil no dia da votação poderão fazê-lo desde que tenham previamente formalizado o pedido de transferência do local de voto.

ZAP //

8 Comments

    • Se não se importa , não excluo qualquer fonte de informação ! … reservo-me o direito a formar a minha propria opinião . O SR. está a viver num Pais Democrático ! se se sente incomodado e satisfeito com o Regime atual no Brasil ainda é tempo para voltar para là !

      • Jamais saí do Brasil caríssimo “desatento”. Sou brasileiro, democrático, honesto e assim como eu, milhões de brasileiros não querem o maior ladrão do planeta de volta a cena do crime. Tenha a sua opinião só que se continuares a assistir globolixo e sic, estarás mais desatento ainda…

  1. Brasil, o único País do Mundo onde o Povo sai à rua para se manifestar a FAVOR do Governo, pacíficamente, em Família.
    Um dos candidatos, ex – Presidente, Muito enriqueceu seu património e de seus filhos, fez obras em vários países, por bilhões de dólares, usando o dinheiro do Povo Brasileiro, enquanto milhares de obras ficaram por acabar, fundos de pensões derretidos…
    Comprovadamente foi condenado, muito dinheiro foi devolvido ao Estado, foi “descondenado” para concorrer e voltar para o Cargo do Crime. Vergonha!!!

    • J. Galvao, fofinho Duarte Amorim, você está querendo dizer que é o 1º Pais a ter uma TV + uma religião direcionada para ( re ) eleger um candidato que culpa toda a gente, culpa o Sol, culpa a Chuva, culpa os pobres, culpa a Floresta, culpa o Mar, culpa os trabalhadores, culpa os “Negros ” tanto que os ameaçou de empurrá-los até ao Mar, nada fez pelo Pais, só pensou nos seus e nos dos seus negócios, esquecendo a segurança, a Educação, a Saúde e o TRABALHO, pois seria o fim dos bandidos, dos assassinos, dos traficantes, e o Pais seria mais FOFINHO. por isso tudo fofinho Duarte muda o teu VOTO.

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