UGT perdeu 43 mil sindicalizados nos últimos nove anos devido a “caldo explosivo”

Paulo Cunha / Lusa

Carlos Silva, secretário-geral cessante da UGT.

Carlos Silva, secretário-geral cessante da UGT.

Nos últimos nove anos, a UGT perdeu 43 mil sindicalizados. O secretário-geral cessante, Carlos Silva, culpa um “caldo explosivo” de razões.

O 14.º congresso da UGT começa hoje em Santarém, prevendo-se uma reunião tranquila, marcada pela saída de Carlos Silva da liderança, para dar lugar a Mário Mourão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN).

Depois de nove anos como secretário-geral da UGT, cabe ainda a Carlos Silva apresentar aos 787 delegados ao congresso o relatório detalhado da atividade dos últimos cinco anos.

De acordo com o relatório, citado pelo Público, há 435 mil trabalhadores filiados na UGT, o que significa que houve uma perda de 43 mil sindicalizados nos últimos nove anos.

Quando, em 2013, foi eleito líder da UGT, Carlos Silva tinha a ambição de ultrapassar a CGTP em número de sindicalizados. No entanto, na prática, as suas aspirações ficaram longe de ser cumpridas no seu mandato.

Carlos Silva justifica a perda de sindicalizados com a intervenção da troika, a crise da negociação coletiva, as medidas pós-troika implementadas pelo Governo anterior e a pandemia, que diz terem servido para “um caldo explosivo”.

Este congresso deveria ter-se realizado em abril de 2021, mas foi adiado mais que uma vez por causa da pandemia da covid-19.

O novo secretário-geral, a eleger no domingo, terá a responsabilidade de apresentar aos congressistas o documento programático para o próximo quadriénio, que será aprovado no final dos trabalhos.

Na Resolução Programática, a UGT defende que Portugal só se tornará “mais desenvolvido e competitivo” se apostar no crescimento, investimento e emprego, de forma a promover a convergência com a União Europeia (UE).

O documento define as linhas de ação da central sindical, nas mais diversas vertentes, para os próximos quatro anos, incluindo os compromissos que a UGT pretende assumir neste mandato, “num posicionamento de reivindicação e de propositura”, que lhe é habitual.

As apostas que a UGT se propõe enfrentar no próximo quadriénio passam pelo crescimento económico, criação de emprego, aumentos salariais, melhor qualificação dos trabalhadores, adoção do princípio de trabalho e de salários dignos, o aumento da competitividade, equidade social e económica, um maior dinamismo dos diversos setores da administração pública, um sistema educativo mais inclusivo e equitativo e o reforço do Serviço Nacional de Saúde.

O reforço da Concertação Social e da negociação coletiva são outras ambições da UGT para este período.

A central considera mesmo que o aprofundamento do diálogo e da Concertação Social são essenciais para um desenvolvimento económico mais sustentado.

Por isso, exige “o efetivo envolvimento e participação dos parceiros sociais no quadro do PRR – Programa de Recuperação e Resiliência, do Portugal 2030/Quadro Financeiro Plurianual”, enquanto instrumentos para assegurar a recuperação económica e social e para promover transições justas e inclusivas.

No documento, a que a Lusa teve acesso, a central defende ainda o aprofundamento do investimento público em áreas estruturais para o progresso económico e social, dotando o país de infraestruturas físicas, digitais, ambientais, mas também de infraestruturas imateriais, como a qualificação das pessoas, investigação e inovação, promovendo as condições necessárias para enfrentar os desafios atuais e futuros e que, simultaneamente, reforcem a coesão social e territorial.

A UGT reivindica ainda que os processos de reestruturações, fusões e reorganizações de empresas “tenham a salvaguarda dos postos de trabalho como critério primordial, devendo estes processos ser acompanhados e monitorizados pelos sindicatos, em todas as suas fases, garantindo a defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores”.

“No atual contexto, a formação-reconversão profissional dos trabalhadores assume um papel decisivo naquela salvaguarda dos postos de trabalho”, considera a central sindical no documento programático que será aprovado no domingo.

A UGT promete ainda bater-se por um novo modelo económico que aposte em fatores como a inovação, a qualificação e valorização das pessoas, que promova crescimento e emprego, e no qual a valorização geral dos salários e rendimentos e uma justa repartição dos ganhos de produtividade e da riqueza sejam uma realidade.

ZAP // Lusa

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