O Serviço de Segurança da Ucrânia (SSU), a agência de inteligência do país, terá tentado coagir uma jornalista dinamarquesa a trabalhar como sua propagandista.
Matilde Kimer é o rosto da Dinamarca na reportagem jornalística dos acontecimentos da guerra na Ucrânia. Kimer trabalha para a televisão dinamarquesa DR na linha da frente do conflito desde o início da agressão russa, em 2014.
A jornalista dinamarquesa revelou agora que, na semana passada, o SSU cancelou o seu visto de trabalho no país e informou-a que só o devolveria se ela concordasse em deixar a agência de espionagem gerir o seu trabalho.
A proposta foi apresentada por um oficial do Serviço de Segurança da Ucrânia durante uma reunião em Kiev, realizada este mês, que também contou com a presença de dois diplomatas da Embaixada da Dinamarca, explica o The Intercept.
O seu visto de trabalho foi repentinamente cancelado em agosto, pouco depois de ter feito uma reportagem na linha da frente em Mykolaiv, um porto de elevada importância estratégica, onde a contra-ofensiva ucraniana estava a decorrer.
Em declarações ao site ucraniano Zaborona, um intérprete que trabalhou com Kimer revelou que, depois de um mal-entendido num posto de controlo, as autoridades locais chegaram mesmo a vasculhar as redes sociais da jornalista.
A trabalhar em Moscovo há mais de uma década, obviamente as suas redes sociais estavam repletas de referências russas. As autoridades suspeitaram, assim, que Kimer fosse uma simpatizante de Putin.
Antes da reunião com o SSU, Kimer escreveu numa publicação no Facebook que três fontes confirmaram-lhe que a inteligência russa considerava-a “pró-Rússia — e talvez até mesmo uma agente russa”.
De acordo com o The Intercept, quando Kimer perguntou como é que ela poderia convencer o SSU de que não era uma propagandista russa, o oficial sugeriu que a jornalista teria que concordar produzir uma série de “boas histórias” sobre a guerra, baseadas em vídeos e fotografias fornecidos pelos agentes e publicá-los na sua página do Facebook.
Após a jornalista dinamarquesa recusar a proposta, a reunião terminou abruptamente.
Toda esta situação levou Kimer a denunciar a tentativa de o serviço de inteligência ucraniano coagi-la a juntar-se ao esforço de propaganda.
“Uma das razões pelas quais decidimos contar esta história é que sentimos que isto é um ataque à nossa independência e à liberdade de imprensa”, disse Niels Kvale, editor da DR, ao The Intercept. “Realmente não sentimos que tínhamos escolha a não ser dizer publicamente que esta situação surgiu e aconteceu nesta reunião”.