Simulações mostram que o cenário mais favorável, com medidas de proteção climática, é que 30% da tundra siberiana sobreviva até meados do milénio.
Nos restantes cenários — todos menos favoráveis — prevê-se que este enorme e único habitat desapareça completamente.
Os resultados do estudo, realizado por especialistas do Instituto Alfred Wegener, foram publicados a 24 de maio na eLife.
A crise climática sente-se principalmente no Ártico. Na zona mais a norte, a temperatura média aumentou mais de dois graus Celsius nos últimos 50 anos, valores mais altos do que em qualquer outro lugar.
Esta tendência só vai continuar. No entanto, se forem tomadas medidas ambiciosas de redução dos gases com efeito de estufa, o aquecimento do Ártico até ao final do século poderá limitar-se a pouco menos de dois graus.
De acordo com previsões baseadas em modelos computacionais, se as emissões se mantiverem elevadas, poderemos assistir a um aumento dramático das temperaturas médias de verão no Ártico, de 14 graus Celsius, até 2100.
“Para o Oceano Ártico e o gelo marinho, o aquecimento global atual e futuro terá consequências graves”, alerta Ulrike Herzschuh, professor e chefe da Divisão de Sistemas Ambientais Terrestres Polares do Instituto Alfred Wegener, do Centro Helmholtz para a Investigação Polar e Marinha (AWI), numa declaração.
“Mas o ambiente em terra também mudará drasticamente. As vastas extensões da tundra na Sibéria e América do Norte vão encolher bastante, uma vez que a linha de árvores, que já está a mudar de forma gradual, se vai mover para norte num futuro próximo”, realça o docente, segundo a Europa Press.
“No pior cenário, não haverá praticamente nenhuma tundra até meados do milénio. No decurso do nosso estudo, simulámos este processo para a tundra no nordeste da Rússia. A questão central que nos preocupava era: que caminho de emissões tem a humanidade de seguir para preservar a tundra como refúgio para a flora e a fauna, bem como o seu papel para as culturas dos povos indígenas e os seus laços tradicionais com o ambiente?”
A tundra é o lar de uma comunidade única de plantas (5% das quais só podem ser encontradas no Ártico) e de espécies raras como é o caso das renas, dos lemingues, e do abelhão do Ártico.
Para a simulação do futuro climático, Ulrike Herzschuh e Stefan Kruse, também especialista do AWI, utilizaram o modelo de vegetação AWI LAVESI.
“O modelo retrata todo o ciclo de vida das árvores de larício siberiano na zona de transição da tundra, desde a produção e distribuição de sementes até à germinação e árvores totalmente desenvolvidas. Desta forma, podemos representar de forma muito realista a progressão da linha da árvore num clima mais quente“, esclarece Kruse.
Os resultados falam por si: as florestas podem expandir-se para norte até 30 quilómetros por década. A expansão da tundra, que não se pode deslocar para regiões mais frias devido ao Oceano Ártico adjacente, iria encolher cada vez mais.
Uma vez que as árvores não são móveis e as sementes de cada árvore só podem atingir um raio de distribuição limitado, a vegetação ficaria significativamente atrasada em relação ao aquecimento, mas depois recuperaria novamente.
Na maioria dos cenários, menos de 6% da tundra atual permaneceria até meados do milénio. A poupança de aproximadamente 30% só seria possível com a ajuda de medidas ambiciosas de redução de gases com efeito de estufa.
Caso contrário, a tundra da Sibéria com 4.000 quilómetros de comprimento seria reduzida a metade — 2.500 quilómetros de distância.
Curiosamente, mesmo que a atmosfera arrefecesse novamente ao longo do milénio, as florestas não libertariam completamente as antigas áreas de tundra.