A abordagem dos EUA à China parece estar a mudar, mas será apenas um intervalo na longa e dura partida entre dois inimigos económicos, ou significa uma mudança de abordagem que pode abrir caminho à cooperação?
No dia em que tomou posse como presidente dos EUA, esta segunda feira, Donald Trump apressou-se a assinar uma série de medidas que tinha prometido durante o seu período de campanha: retirou-se da Organização Mundial de Saúde, dos acordos de Paris e declarou guerra comercial ao Canadá e ao México, prometendo-lhes tarifas alfandegárias de 25%.
E da China, tão ameaçada pelo novo presidente norte-americano, nem uma novidade. Logo após tomar posse, Trump mencionou a China e a sua intenção já expressa de aplicar taxas alfandegárias (fala agora em 10%), mas adiou esse tópico para o início de fevereiro.
Trump prometera aplicar pesadas taxas alfandegárias ao país (chegou a referir um valor de de 60% ou mais). Mas os dois países, inimigos históricos, parecem estar ainda em “fase de lua de mel”, como classifica a CNN.
Na noite desta quinta feira, Trump mencionou que os dois países tinham uma “relação muito boa” antes da pandemia. “São um país muito ambicioso, Xi Jinping é um homem ambicioso… Ele era como meu amigo, tínhamos uma relação muito boa”, citou a BBC.
Estará Trump com saudades dos bons velhos tempo? Mas que tempos? É difícil perceber de que fala o presidente dos EUA, que já no seu primeiro mandato impôs pesadas taxas alfandegárias ao país de Xi, num conjunto de políticas protecionistas.
“Temos um poder muito grande sobre a China, que são as tarifas, e eles não as querem”, continuou Trump. “E eu preferia não ter de o usar. Mas é um poder tremendo sobre a China”.
Já os chineses, mantém-se em guarda. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, sublinhou que a cooperação económica e comercial entre os dois países é “mutuamente benéfica e vantajosa para todos”. Referiu ainda que existe um “enorme espaço” para entendimento entre os dois países.
“Não há vencedores nas guerras comerciais e nas guerras tarifárias, que não são do interesse de nenhuma das partes e não são do interesse do mundo”, concluiu o representante chinês.
Outro sinal da “benevolência” de Trump foi o adiamento de 75 dias ao fim do TikTok nos EUA, enquanto se aguarda por um comprador não chinês da rede social. Mas serão estas medidas um retrocesso nas ameaças do presidente norte-americano, ou é apenas um período de reflexão?
“A China apercebe-se de que existe uma oportunidade para negociar com Trump”, explica à CNN o académico político Liu Dongshu. “E uma melhor relação entre os EUA e a China é mais importante para a China do que para os Estados Unidos… por isso, a China está ansiosa” por envolver-se.
“A China apercebeu-se de que é possível negociar com Trump, mas ele é um Trump diferente e novo — aquilo com que nos comprometemos da última vez pode não satisfazer os seus novos desejos”, disse o analista de negócios estrangeiros, Shen Dingli.
“Em vez de adotar um veto geral a todas as propostas dos EUA, a China deveria “analisar quais as questões que requerem oposição e quais as que podem ser objeto de cooperação com base nos nossos próprios interesses”, sugerira já um analista chinês, Jia Qinggu.
Segundo os especialistas, uma potencial viagem de Trump a Pequim pode significar uma abertura à negociação. Mas, seja como for, alerta o especialista Jin Canrong, “isto não significa que as relações entre a China e os EUA sejam mais fáceis, apenas que a abordagem dos EUA mudou”.