Presidente eleito dos EUA distanciou-se do programa polémico, na campanha. Mas as suas escolhas recentes revelam o contrário.
O Projecto 2025, nos EUA, é uma compilação de políticas defendidas por vários grupos ultraconservadores. É um polémico programa desenvolvido pelo think tank Heritage Foundation.
O programa inclui medidas como o desmantelamento de várias agências do Governo federal e a demissão de milhares de funcionários para os substituir por pessoas leais a Donald Trump que, sem objeções, aplicariam uma agenda ultraconservadora.
O documento propõe por exemplo que toda a burocracia federal, incluindo agências independentes como o Departamento de Justiça, seja colocada sob controlo presidencial directo. Mais poder para o presidente.
Donald Trump afastou-se desse projecto. Mais do que uma vez.
“Não sei nada sobre o Projecto 2025. Não tenho ideia de quem está por trás dele. Não concordo com algumas das coisas que dizem e algumas das coisas que dizem são absolutamente ridículas e abismais”, escreveu o então candidato, na rede Truth Social.
Já no debate com Kamala Harris: “Como vocês sabem, e como ela sabe, não tenho nada a ver com o Projeto 2025. Isso (o documento) está aí, eu não li. Não quero ler, propositadamente. Não vou ler”.
Mas, já na altura, surgiu a indicação de que pelo menos 140 pessoas que trabalharam na Casa Branca, no primeiro mandato de Trump, estavam envolvidas com o Projecto 2025, de alguma forma.
Agora é evidente: o tal projecto já está a “infiitrar-se” claramente na administração Trump. Ainda antes da tomada de posse.
A “infiltração” já começou a ser destacada na revista Vox, há umas semanas: as nomeações de Brendan Carr (coordenador das comunicações) e de Tom Homan (imigração) foram os primeiros sinais.
É que Brendar Carr escreveu um dos capítulos do Projecto 2025, sobre a Comissão Federal de Telecomunicações; e Tom Homan era bolseiro da Heritage Foundation e o seu nome aparece como um dos contribuidores no Projecto 2025.
O The San Diego Union-Tribune acrescenta que o documento polémico está claramente integrado nos planos de Donald Trump.
O jornal cita também o caso de John Ratcliffe, que será o próximo diretor da CIA – e também contribuiu na elaboração do projecto.
Sem esquecer o que fará Elon Musk no novo Departamento de Eficiência Governamental, um descendente directo do Projecto 2025, nomeadamente na parte de “desmantelar o estado administrativo e devolver a auto-governação ao povo americano”, ou “reduzir o Governo Federal ao seu tamanho”; e veremos se vai mesmo despedir milhares de funcionários, tal como defendia… o Projecto 2025.
Com estas óbvias ligações entre as escolhas de Donald Trump e o projecto, o The New York Times acrescenta: “Trump rejeitou o Projecto 2025 durante a campanha. Agora já não”.
É mais um dos muitos exemplos que provam que fazer campanha não deve ser confundido com governar.